sexta-feira, 16 de maio de 2014

Resenha de Filme - O Palácio Francês

O Palácio Francês. Mais Poderoso, Mais Fútil.
Uma radiografia impiedosa da estupidez no poder. Essa é a melhor síntese para “O Palácio Francês”, (“Quay D’orsay”), do excelente cineasta Bertrand Tavernier. O filme chega a assustar, pois ficamos convencidos que a presença de idiotas em altos cargos pode ser uma realidade mais plausível do que se parece. Tudo isso mostrado numa comédia que desperta mais constrangimento e perplexidade do que risos.
Vemos aqui a história de Arthur Vlaminck (interpretado por Raphaël Personnaz, um recém-formado na Escola Nacional de Administração, que vai trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, cujo Ministro, Alexandre Taillard de Worms (interpretado por Thierry Lhermitte), revela-se um perfeito boçal. Arthur ficará responsável pela “linguagem” dos discursos do ministro que manda reescrevê-los constantemente. Taillard tem uma forma desastrosa de atuar na política externa, onde o seu viés socialista o faz atacar sempre os Estados Unidos e priorizar assuntos do Terceiro Mundo, em detrimento do apoio da entrada da Alemanha no Conselho de Segurança da ONU. Esse seu lado trapalhão associado ao socialismo soa muito como uma crítica velada aos antigos governos socialistas franceses (o uso, por parte do ministro, da expressão “neoconservador”, já desperta graça por ser altamente paradoxal). A equipe que trabalha para o ministro sofre com suas desventuras e desmandos em meio a crises internacionais muito complicadas como golpes de estado e sequestros de navios em chamas que ela tem que solucionar, apesar das interferências atrapalhadas do ministro que mais complicam do que ajudam. O elemento mais lúcido dessa equipe é Claude Maupas (interpretado pelo sempre excelente e ativo Niels Arestrup que, apesar da idade avançada, tem feito muitos filmes como “Cavalo de Guerra” e “A Chave de Sarah”), que resolve todos os problemas com muito jogo de cintura e serenidade, algo que falta totalmente ao tresloucado ministro. O resto da equipe, bem, tem personagens muito caricatos e até atrapalhados e displicentes, sofrendo com as maluquices do ministro e alimentando pequenos golpes e vaidades, o que prejudica ainda mais o ambiente de trabalho. A presença de Arthur no filme mostra mais como jovens empregados viram “bois de piranha” quando a situação fica mais complicada.

Esse filme assusta – e muito – quando vemos a figura do personagem do ministro, que só não era mais imbecil do que o próprio presidente da França (taxado até pelo ministro de idiota), que se preocupava com questões ainda mais fúteis em momentos ainda mais graves. Se isso pode acontecer em um país desenvolvido como a França, o que não pode acontecer no nosso, que é imaturo em muitos pontos? E, se pararmos para pensar com calma, também nós tivemos muitas figuras públicas idiotas, ruinzinhas e limitadas nos últimos anos. Teve aquele ministro, lembra? Aquele governador... Aquele prefeito... Aquele presidente... Bom, é melhor deixar para lá, ou a lista vai crescer muito...

Cartaz do filme.


O magnânimo – e idiota – ministro Taillard.


 Arthur tendo que enfrentar intrigas de seus colegas.

Maupas (atrás da mesa). O único com serenidade suficiente para conduzir o barco sem naufragar.


Tavernier, de pé, dirigindo seu filme...

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