terça-feira, 15 de abril de 2014

Resenha de Filme - Prenda-me

Prenda-me. Redenção Na Destruição.
Inquietante. Intrigante. Desesperador. Essas são as impressões principais de “Prenda-me” (Arrêtez-moi, de Jean-Paul Lilienfeld), filme francês que tem tons de forte denúncia. Em pauta, a violência contra a mulher. Mas de uma forma bem contundente, onde a violência física não é a única protagonista. Vemos aqui também todo um desfacelamento psicológico, que é o mais perturbador. Falemos um pouco da história.
A trama começa de forma bem peculiar. Uma dona de casa (interpretada por Sophie Marceau) deixa o seu lar, com um quarto ao som de heavy metal no último volume e vai até a delegacia, onde encontra uma policial (interpretada por Miou-Miou) de plantão. Lá, a dona de casa vai confessar que, há dez anos, matou o seu marido ao empurrá-lo da sacada de seu apartamento e quer se entregar. Ao contar a sua história, vemos que a dona de casa sempre adotou uma postura bem submissa e sempre aceitou as violências e espancamentos do marido, inclusive acobertando em seu depoimento os estupros que sofria, para a ira da policial que, incrédula, presenciava a vontade compulsiva da mulher em destruir sua vida na prisão. O grande mérito do filme é presenciarmos as cenas de espancamento sob o ponto de vista da mulher agredida, onde a câmara parece estar com a mulher que sofre as violências. Assim, parece que também estamos apanhando. Vemos um homem enfurecido vindo em nossa direção e nos agredindo, ao mesmo tempo em que escutamos os gritos e choros da dona de casa, numa comunhão entre o espectador e a protagonista vítima. São momentos realmente muito inquietantes e angustiantes, tão angustiantes quanto quando o marido é empurrado da sacada pela mulher, pois empurramos o homem junto com ela e ainda vemos o sujeito caindo lá embaixo, numa relação de total cumplicidade com a protagonista, no sofrimento e no crime. A polícia acreditou na tese do suicídio e inocentou a mulher. Mas a dona de casa não se livrou da tortura psicológica impressa por ela mesma (manifesta em tremedeiras e crises de insônia) e também pelo filho que, enfurecido com a morte do pai, encheu a casa de fotos do falecido progenitor para atormentar a mãe, chegando, inclusive, a filmar a mãe durante as suas crises de insônia. E a policial não entendia porque aquela mulher tão sofrida queria a prisão. A conversa entre as duas no escritório da policial durante a noite é altamente tensa. A policial fala de crimes muito piores que ela presenciou, como o bebê assado no forno pela mãe, ou até crimes que a própria policial cometeu e não denunciou, tal como um chute na cabeça que ela deu num homem que depois inclusive tornou-se seu amante. As duas conversam, gritam, surtam, destroem o escritório, tal como as mulheres de Almodóvar (à beira de um ataque de nervos). Por fim, a policial prende a dona de casa, mas nada registra, para que o crime prescreva e a mulher não consiga procurar outra delegacia. De manhã bem cedo, a policial retorna à delegacia e solta a mulher, com o crime já prescrito. A dona de casa diz então, que falhou como esposa, mãe e pessoa, pois nem culpada de um crime contra o próprio algoz ela conseguiu ser. Foi aí que a ficha da policial caiu e ela disse que poderia fazer toda a papelada de abertura do caso de homicídio por escrito e adulterar a data para que o crime ainda não tivesse prescrito. A dona de casa, então, consegue sua prisão e sua redenção. Ela não foi uma vítima apenas. Foi também culpada, pois reagiu a todas as violências que sofreu, matando o marido. Ainda, de quebra, falou tudo o que quis na cara do filho quando este a visitou na prisão. Agora, ele jamais se esqueceria da mãe, mesmo que fosse a odiando. Nunca mais ficaria indiferente a ela, que não queria mais saber de conversa com ele.
Tenso, pesado. A mulher agredida e psicologicamente abalada só encontrou a sua redenção sacrificando sua própria liberdade e vida. A submissa, vítima, a covarde que acobertava as agressões do marido reagiu afinal. E os grilhões da prisão eram os louros de sua vitória. Neura pura. Destruição psicológica total. Obra prima...



Cartaz do filme.


Sophie Marceau, como a dona de casa.


Miou Miou como a policial que não quer prender.


Diálogo com muitos momentos de tensão.

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