segunda-feira, 14 de abril de 2014

Resenha de Filme - Lunchbox

Lunchbox. Desencontros e Desilusões.
O maior produtor de filmes do mundo, a Índia (não, não são os Estados Unidos!) lança mais uma pequena preciosidade. Dessa vez, temos o razoável “Lunchbox”, de Ritesh Batra. Você então se pode perguntar: se o filme é razoável, por que ele é uma preciosidade? Para isso, vamos cair de cabeça nesse mundo oriental tão distante de nós.
A trama conta a história de um funcionário do governo, Saajan Fernandes (interpretado por Irrfan Khan), que está prestes a se aposentar depois de trinta e cinco anos de serviço. Viúvo, Fernandes é uma pessoa amarga, antipático com as crianças na vizinhança da rua, próximas a sua casa, e com todo mundo. Ele será substituído pelo jovem Shaik (interpretado por Nawazuddin Siddiqui), um rapaz solícito e falastrão que deverá ser treinado por Fernandes, mas que o evita totalmente. A vida de Fernandes provavelmente se encaminharia para a aposentadoria e o ostracismo caso não houvesse um serviço de entrega de marmitas na Índia muito conhecido por não falhar nunca. Mas no caso de Fernandes, falhou. Ele passou a receber, por engano, marmitas de Ila (interpretada pela belíssima Nimrat Kaur), que está infeliz no seu casamento e procura fazer comidas com temperos especiais para chamar a atenção do seu marido. Ao perceber a indiferença do marido, Ila percebe o erro do envio da marmita e manda um bilhete por ela, citando o engano. Fernandes receberá o bilhete e os dois começarão uma interessante relação onde um irá se amparar no outro. A vida dos dois se transforma com essa relação. Ila sonha em viajar para o Butão, um lugar que tem a fama de ser muito feliz. E Fernandes vai se tornando uma pessoa mais alegre e aberta, inclusive iniciando um relacionamento mais próximo com Shaik, outro ponto positivo no filme. Só é de se lamentar que, na hora em que Fernandes e Ila marcam um encontro, Fernandes desiste de falar com ela, pois começa a perceber o peso da velhice e a visão da jovem e bela Ila o desencorajou a falar com ela. Dói muito ver Ila aflita bebendo copos e copos de água à espera de Fernandes e ele lá, no balcão do bar, olhando a aflição de Ila à distância, sem sequer se dar uma chance. Ila ainda irá procurar Fernandes no emprego, mas ele já havia se aposentado e passaria a morar em outro lugar, onde o desencontro dá margem a mais uma desilusão. Apesar de não haver o óbvio ululante do happy end, o que acho sempre que é uma virtude, esse relacionamento poderia dar mais caldo, eles realmente poderiam ter se encontrado e concluído que a vida a dois não daria certo e cada um iria para o seu lado. Entretanto, optou-se pelo desencontro total, numa alusão a uma vida mais real e crua. De qualquer forma, os dois transformaram suas vidas no relacionamento com os bilhetes, já que Fernandes iniciou uma aposentadoria com a mente mais aberta e Ila fez planos de pegar sua filha e se mandar, como diria aquele poeta baiano, sem lenço e sem documento para o... Butão!!!
No mais, o filme tem a virtude de mostrar uma Índia contemporânea, onde o inglês é uma espécie de segundo idioma, em virtude da globalização e do fato de a Índia ter sido uma colônia inglesa. Vemos o subdesenvolvimento em trens lotados, na miséria reinante. Vemos desilusões com uma suposta desvalorização indiana para os talentos, uma espécie de letargia provocada por uma falta de perspectiva, expressas até em suicídios, o esquecimento das tradições, com ainda alguns bolsões de sobrevivência da cultura original.

Assim, o filme é uma preciosidade por abordar questões da Índia contemporânea e por ser um pouco mais realista quanto ao destino das relações humanas. E o filme é razoável talvez por ter sido um pouco realista demais e não viajar um pouquinho mais na maionese do romance lúdico entre Fernandes e Ila, pelo qual torcemos muito e nos deixa com cara de pastel no desfecho.

 Cartaz do filme.


Fernandes, a marmita e o bilhete.


A belíssima Ila.


Mais Ila...


Tudo de bom!!!


O simpático Shaik.

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