quinta-feira, 17 de abril de 2014

Resenha de Filme - Os Pássaros

Os Pássaros. Desequilíbrio Ecológico A Serviço Do Suspense.
Mais um Hitchcock restaurado. Dessa vez, é o divertidíssimo “Os Pássaros” (perdão aos mais puristas, mas vejo esse filme mais como de humor do que de suspense), que é um verdadeiro terreno livre para o inusitado. Sempre vale a pena recordar essa obra de 1963. Vamos a ela!
Vemos aqui a história de Melanie Daniels (interpretada por Tippi Hedren), uma socialite que conhece, numa pet shop em San Francisco (da qual o próprio Hitchcock sai como figurante com três cachorrinhos), o elegante figurão e advogado Mitch Brenner (interpretado por um Rod Taylor no auge da forma, que foi estrela do inesquecível “Máquina do Tempo”, de H. G. Wells e estrelou uma série de TV chamada “Missão Secreta”, que passou na Globo na década de 1980). Os dois começam uma conversa, que chega a um leve flerte e termina com um bate-boca provocado por Mitch, que revela ser um sujeito bem atrevido e engraçadinho. Apesar do desfecho não muito amigável, Melanie compra um casal de periquitos para deixar na porta do apartamento de Mitch, endereço que ela descobriu depois de anotar a placa do carro do advogado. Lá, ela descobre por um vizinho que Mitch está passando o fim de semana em uma cidadezinha nos arredores de San Francisco chamada Bodega Bay. Ela então viaja para lá e o encontra, onde descobre que ele tem uma irmã caçula além de uma mãezona coruja (interpretada por Jessica Tandy) que não quer perdê-lo de jeito nenhum para alguma pretendente. Até agora, a história tem muito mais tons de um dramalhão sem fim. Mas toda essa lenga-lenga é só um pretexto para reunir os protagonistas em Bodega Bay, onde o ataque dos seres emplumados ocorrerá. Alguns sinais sobre a violência dos pássaros se dão ao longo do filme. Vemos altas concentrações aéreas de gaivotas, corvos, passarinhos. Galinhas que se recusam a comer ração. Uma gaivota que dá uma bicada no cabelo de Melanie ferindo-a e desmanchando seu penteado barroco (algo que os pássaros farão pelo resto do filme, como eles odiavam aquele penteado rebuscado que hoje parece coisa da vovó – e era mesmo!).
Os ataques eram realmente muito hilários! Primeiro, as gaivotas ou corvos (ou até os dois juntos) se reuniam. Depois, começava o sobrevoo, com direito a muitas bicadas na cabeça e cadáveres com os olhos arrancados. Pardais, canários, cambaxirras e similares atravessando chaminés e invadindo salas. Ataques a postos de gasolina que vazavam bombas de combustível e provocavam explosões, porque sempre tem algum cretino inconveniente com um charuto aceso próximo a um posto de gasolina com combustível vazando! Hordas de gaivotas e corvos querendo invadir casas literalmente no bico. Aí, os bichinhos se acalmavam, se reuniam e se preparavam para um novo ataque. Tudo isso sob os olhares aterrorizados dos personagens que provocavam mais risos do que angústia. Sei não, mas ver uma gaivota ou um pardal atacando uma pessoa me parece o mesmo que ser atacado por um ursinho de pelúcia (ou um coelhinho, tal como em “Monty Python”). E com o agravante de galinhas fazendo greve de fome... Somente os corvos impunham algum respeito como seres malignos. Ainda assim, é muito engraçado ver um corvo dar uma bicada na mão de Rod Taylor quando ele passa pelas aves em sua fase mais calma.
O mais curioso é que o inexplicável permaneceu inexplicado. Por que a raiva toda daquelas aves? Por que o ódio a penteados rebuscados? E às crianças? Elas eram muito malcriadas? Pareciam tão boazinhas no filme! Não houve qualquer explicação satisfatória para isso. O que mais chegou perto de um argumento foi uma conversa num pequeno restaurante onde uma senhora cujo hobbie era a ornitologia (quem já viu o desenho – não tenho o hábito de falar anime – do pica-pau sabe que ornitólogo é o especialista em pássaros) mencionou, muito de relance, a interferência humana como um possível motivo daquela revolta toda. Assim, uma ópera do absurdo que é uma revolta das aves talvez pudesse ter uma explicação num possível desequilíbrio ecológico provocado pelo homem que levou àquela fúria emplumada. Assim, o filme “Os Pássaros” pode ter sido um dos primeiros thrillers com consciência ecológica da história do cinema!
Palhaçadas e babaquices à parte, a película “Os Pássaros” não deixa de ser uma obra-prima do mestre do suspense, que sempre também tem muito bom humor (essas duas facetas de Hitchcock ficam explícitas nesse filme). Em que pese a graça de algumas cenas, outras também expressam alguma tensão, tal como a sequência do ataque a Melanie que a deixou em estado de choque. Algumas cenas de ataque claramente tinham os efeitos especiais rudimentares da época, mas em outras tínhamos pássaros verdadeiramente treinados. E reunir aquele monte de gaivotas e corvos na parte final deve ter sido realmente um trabalho muito penoso (desculpem-me, mas não resisti ao trocadilho).

Assim, no melhor estilo “Vale a Pena Ver de Novo” e “Sessão da Tarde”, é altamente recomendável dar uma conferidinha neste famoso (e, na minha opinião, divertido) filme de Hitchcock.


 Cartaz do filme, com a silhueta do mestre.



Ataque aos penteados barrocos!!!!


Começa com um...


E, depois, a patota toda!!!


E aí, o ataque!!!!


Rod Taylor, como o galã Mitch Brenner


Jessica Tandy, como a mamãe coruja...


Tippi Hedren, como a socialite Melanie Daniels.


Sob vigilância atenta…


O mestre do suspense com seus bichinhos…


Era, também, um grande zoador...


Fazendo uma ponta no início do filme...


Dirigindo no set de filmagem.

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