sexta-feira, 18 de abril de 2014

Resenha de filme - Em Busca de Iara

Em Busca de Iara. Cinema A Serviço Da Democracia, Verdade e Justiça.
O cinema é uma arte sem limites. Ele nos diverte, nos ilude, nos faz sonhar. Mas, principalmente, nos faz pensar. E dá a sua ajuda para todos nós crescermos como indivíduos que buscam uma sociedade e um mundo melhores. É o que nós vemos no excelente documentário brasileiro “Em Busca de Iara”, de Mariana Pamplona, que é a sobrinha de Iara Iavelberg, companheira de Lamarca na luta armada contra a ditadura militar.
O documentário começa com a exumação dos restos mortais de Iara num cemitério israelita em São Paulo. Segundo a versão oficial, a perigosa terrorista teria sido cercada num apartamento na Bahia pelas forças revolucionárias que lutavam contra os subversivos que queriam instalar o comunismo no país. Acuada, a criminosa se mata com um tiro. Mas será que foi realmente assim? Como Mariana Pamplona nem chegou a conhecer a tia e ela morreu praticamente um mês antes do seu nascimento, a sobrinha procura investigar e reconstituir o que realmente aconteceu, o que resultou num extenso trabalho de pesquisa histórica. A questão é mais importante do que se imagina, pois sempre houve suspeitas de que Iara foi assassinada pelos militares. E aí, a tese de suicídio cairia por terra, o que é determinante para a família de origem judaica, pois os judeus que se suicidam tem que ser enterrados numa parte separada do cemitério, longe de suas famílias, segundo suas tradições. Dessa forma, se torna imperativo para a família comprovar que Iara foi assassinada. E Mariana Machado começa sua investigação entrevistando, inicialmente, seus familiares (sua própria mãe, seus tios, etc.), passando pelos amigos mais próximos de Iara, seus companheiros de militância, e as demais pessoas que passaram por sua vida durante a clandestinidade da luta armada. Podemos ver uma verdadeira radiografia da vida dessa moça que era muito bonita e chamava muito a atenção por isso. Seu casamento arranjado, sua vida acadêmica livre que foi manchada pelo golpe militar, sua entrada na luta armada e seu envolvimento com Lamarca, as perseguições dos militares e a morte no apartamento. Notamos pelos depoimentos das pessoas entrevistadas (inclusive vizinhos do apartamento onde ela morreu) e pelos exames na ossada de Iara e mais testes dos peritos em medicina legal que a militante política foi mesmo assassinada. O filme tem momentos comoventes, onde entrevistados chegam a chorar, junto com a entrevistadora (que é Mariana), pois não se conformam com a covardia, ódio e frieza com que os militares e as forças oficiais caçavam os guerrilheiros, “Tudo isso a troco de que?”, pergunta um deles, que era médico ginecologista e a atendeu às escondidas. Igualmente revoltante é ver as fotos de Iara morta e saber que a família praticamente teve vedado o acesso a seu funeral. Pelo menos, seus restos mortais hoje jazem ao lado de seus familiares e ela teve uma cerimônia fúnebre mais respeitosa, numa mostra que houve um reconhecimento de que Iara foi assassinada. Agora, punição aos criminosos que fizeram isso, bom, estamos num país chamado Brasil, que optou por uma lei de anistia que resolveu colocar uma pedra em cima do assunto. Enquanto nossos vizinhos, como a Argentina, prenderam os generais da ditadura e os chamam de genocidas na TV, aqui no Brasil somos obrigados a escutar bravatas de pessoas daquela época ainda exaltando aquilo tudo. Nessas horas, tenho nojo de meu país e quero me mudar para a Dinamarca. Só um pequeno detalhe a ser lembrado. No Jornal O DIA de 19 de março de 2014, quarta-feira, o artigo do jurista e professor Luís Flávio Gomes alerta que os crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura devem ser julgados sim, independentemente da lei de anistia, pois por força do artigo 5 parágrafo 2, os direitos reconhecidos na Constituição não afastam os previstos em tratados internacionais. O Brasil é livre para assinar esses tratados e o fez em 1998, ao aderir ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos, sendo obrigado a cumprir suas decisões. A Corte Interamericana de Direitos Humanos reconheceu, em 24 de novembro de 2010, a invalidade da lei de anistia para o caso do Araguaia. Assim, a lei de anistia viola os tratados internacionais firmados pelo Brasil. Além de determinar a invalidade da anistia no caso Araguaia, a Corte Interamericana também decidiu pela invalidade da prescrição dos crimes, pois crimes contra a humanidade não podem prescrever. Se o país firma um tratado dessa magnitude, ele relativiza a sua soberania e os casos de crimes contra a humanidade não têm mais a palavra final do STF, mas sim do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que já julgou casos e ordenou determinações que o Brasil acabou cumprindo, como a própria Lei Maria da Penha. Se o Brasil não cumpre tais determinações do Sistema Interamericano, ele pode sofrer várias sanções, chegando a ser inclusive excluído da OEA. Essas informações são preciosíssimas e um argumento de peso para se rever a lei de anistia, pois o Brasil é OBRIGADO a fazer isso pelo acordo internacional que firmou.

No mais, meus mais sinceros e ternos parabéns para Mariana Machado pelos seus serviços prestados a nosso país ao descortinar todos esses crimes que envenenam nosso passado e presente. Seu filme é um depoimento de peso para a nossa Comissão da Verdade e um marco na busca por um país mais justo e democrático.

 Cartaz do Filme.


Iara, uma jovem de grande beleza.


Com amigas.


Na Universidade.


Já fichada na polícia.

Iara e Lamarca. Casal na luta contra a ditadura...


Disfarçada.


Corpo de Iara. Revolta.


Tia e sobrinha.


Na escadaria para o alto. Arte cheia de significados...

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