domingo, 20 de abril de 2014

Resenha de Filme - O Gebo e a Sombra

O Gebo e a Sombra. Manoel de Oliveira Volta a Atacar!!!
E lá vem ele de novo! O mais famoso cineasta português, o centenário Manoel de Oliveira, nos brinda com mais de um de seus filmes. E, desta vez, vemos uma reflexão sobre a condição familiar e outras questões mais profundas sobre a vida, no bom filme “O Gebo e a Sombra”. Mas, vale lembrar aqui que essa produção é de 2012 e só agora chega às nossas telonas. Por que tamanho atraso? Gostaria de saber...
Bom, o que deve ser mencionado aqui em primeiro lugar, é o elenco. Vemos aqui uma verdadeira constelação de lendas do cinema. Em primeiro lugar, temos o prazer de rever Claudia Cardinale (que estava lindíssima em “Era Uma Vez no Oeste”), a lendária Jeanne Moreau (inesquecível em “A Noiva Estava de Preto”, de François Truffaut), Michael Lonsdale (o vilão de “007 Contra o Foguete da Morte”, onde nosso James Bond, interpretado por Roger Moore, vem ao Rio de Janeiro e destrói o bondinho do Pão de Açúcar), a deslumbrante Leonor Silveira, figurinha fácil nos filmes de Oliveira e um dos rostos mais bonitos do cinema, além de Ricardo Trepa, o nosso fotógrafo Isaac de “O Estranho Caso de Angélica”. Com um elenco desses, a gente vai para o cinema somente para ter o prazer de rever atores que fazem nosso sangue cinéfilo amá-los com todas as forças.
E a história? Vemos aqui Doroteia (interpretada por Cardinale), uma mãe amargurada por seu filho João (interpretado por Trepa) ter saído de casa e desaparecido. A rotina de Doroteia é ficar trancafiada numa casa muito humilde junto com sua nora, Sofia (interpretada por Silveira) e as duas totalmente sufocadas pela rotina e ausência de João. O pai, Gebo (interpretado por Lonsdale), é um contador que trabalha de favor em sua empresa, por estar muito velho. Ele é obrigado a sustentar a casa e a aguentar o mau humor de Doroteia, que muito sofre e faz sofrer. Gebo confidencia a Sofia que viu João na rua, mas num estado deplorável, mergulhado em criminalidade e comportamento violento. O pai e a nora decidem nada contar a mãe, pois temem que ela não aguentará tamanha má notícia. Mas João aparece do nada e deixa Doroteia toda feliz. Só que essa felicidade não durará muito. Numa manhã, Doroteia, Gebo, seu amigo Chamiço (interpretado por Luís Miguel Cintra) e a amiga Candidinha (interpretada por Moreau) conversam sobre assuntos que vão da politica à arte. Tais conversas irritam João, que acha que todos estão praticamente mortos ali, prisioneiros de suas rotinas e banalidades. Quanto a ele, sua opção pela marginalidade lhe imprimiu uma vida sem rotinas desgastantes, mas também levou a sofrimentos e sentimentos ruins como a fome e um apreço insano pela violência, o que choca seus pais e esposa. Gebo guarda uma valise cheia de dinheiro de seus chefes, o que atrai a atenção de João. Depois de uma discussão com Sofia, João, ladrão declarado, rouba a valise e some. Para que Doroteia não saiba que João enveredou pelo caminho da criminalidade e violência, Gebo assume a culpa pelo roubo e acaba preso. Desfecho melancólico e pessimista que ratifica uma das reflexões do filme: a pobreza e a rotina levam a uma vida de sofrimento. O mais curioso aqui é que o que poderia quebrar a rotina e trazer alegria para aquela casinha miserável era justamente a volta de João e, ironicamente, ele acabou trazendo ainda mais sofrimento, de forma que essa liturgia agônica parece ser um beco totalmente sem saída. De felicidade, restam apenas os bons momentos de alegria naquele café da manhã com Doroteia, Gebo, Sofia, Candidinha e Chamiço, isso antes de João dar as caras.

Dessa forma, o filme nos dá uma interessante lição. A felicidade é um conceito muito relativo. Às vezes, o que achamos que nos trará felicidade é justamente o motivo de nossas maiores tristezas. E quando nos queixamos da vida que levamos, podemos reavaliar e percebermos que tudo anda muito bem. Nós é que não nos contentamos e reclamamos demais da vida. Devemos buscar sempre o equilíbrio. Nem ambição demais, nem resignação total. Essa é uma das muitas mensagens que Manoel de Oliveira nos traz desta vez. Ele realmente é o cara!!!

Cartaz do Filme.


No café da manhã.


O mestre dirigindo...


Mas também descontraído com a sua belíssima Leonor Silveira.


Jeanne Moreau, ainda divina.


Descontração na filmagem. Ricardo Trepa tieta Jeanne Moreau.



Claudia Cardinale, divina


Leonor Silveira e Michael Lonsdale: cinema de atores....

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