sexta-feira, 11 de abril de 2014

Resenha de Filme - Alemão

Alemão. Ação e Thriller Tupiniquins.
Um bom filme de ação e suspense nos moldes do cinema americano, mas com temática 100% nacional. Essa é a impressão de “Alemão”, filme brasileiro que aborda o complexo de comunidades da zona norte às vésperas da invasão promovida pelo governo.
Vemos aqui a história de cinco policiais que se infiltraram no morro para fazer serviços de inteligência, com o objetivo de facilitar a ação da invasão. O filme deixa claro que muitos policiais foram infiltrados. Toda a operação era secreta e foi comandada pelo delegado Valadares (interpretado por Antônio Fagundes), cujo filho Samuel (interpretado por Caio Blat) era um dos cinco policiais infiltrados no complexo. O problema é que um mensageiro do delegado foi abordado por traficantes e fugiu de moto, deixando para trás uma mochila com as informações de todos os policiais infiltrados. Desesperados, os policiais se escondem numa pizzaria de fachada de um deles. O filme toma proporções de grande suspense, pois enquanto os traficantes caçam os policiais, estes vivem momentos de grande tensão, onde a desconfiança mútua faz com que os próprios policiais ameacem uns aos outros e o diálogo é sempre cheio de muita agressividade. Por outro lado, há a tentativa em vão por parte do delegado em localizá-los, já que o chefão do tráfico, Playboy (interpretado por Cauã Reymond), manda desligar internet e sinal de telefones celulares da comunidade, deixando o complexo incomunicável. Para tornar a situação ainda pior, uma faxineira da pizzaria (Mariana, interpretada por Mariana Nunes) vai pegar o dinheiro de seu trabalho e fica presa na pizzaria (mulher errada na hora errada). Mais um elemento que envolve tensão à trama é o fato de que um dos policiais infiltrados, Carlinhos (interpretado por Marcello Melo Jr.), se envolve com a irmã do braço direito de Playboy, que a usará como refém para chantagear o policial. Uma história com um bom roteiro (embora haja uma ou outra passagem inusitada para um contexto de estado paralelo) que mostra bem a qualidade de um cinema brasileiro realmente bom.
Quanto aos atores, um bom elenco. Antônio Fagundes, dispensa apresentações. Cauã Reymond foi um dos produtores do filme e fez um baita laboratório na comunidade para compor seu personagem. Dentre os policiais, Caio Blat, Otávio Muller, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr., e Milhem Cortaz, o nome ideal para filmes policiais brasileiros, com a voz que parece eternamente precisar de pastilhas para garganta. Já o vimos em “Assalto ao Banco Central” e em “Tropa de Elite”.
Um detalhe curioso aqui é o uso de imagens reais de telejornais falando da invasão do Alemão, discursos de autoridades, manifestações na comunidade e os protestos de rua do ano passado, etc., imagens essas que buscariam dar uma “ilusão de realidade” ao enredo do filme. A impressão seria realmente essa (uma ilusão) não fosse a inquietante legenda que aparece bem ao início do filme onde é dito que, apesar da história “se amparar em pesquisas de jornais, telejornais e arquivos, esse filme pode ser considerado uma ficção”. Aí, temos uma impressão de que, algo semelhante ao que aconteceu no filme (policiais do serviço de inteligência descobertos dentro do morro e cercados por traficantes) acabou acontecendo realmente. E desconfiar que tudo o que vimos não foi uma história de ficção, mas talvez algo real, é a maior das inquietações, angústias e tensões que vemos em “Alemão”. Este detalhe acaba tornando esse filme sobre o tráfico e a criminalidade carioca um pouco diferente dos demais, pois a legenda inicial parece nos dizer: “Olha só, vocês verão toda a situação apresentada no filme, mas nada disso aconteceu, OK?”, quando realmente pode ter acontecido. E isso é o que mais acaba incomodando a gente.

Por essas e por outras, vale a pena dar uma conferida em “Alemão”, bom produto de nosso cinema brasileiro com B maiúsculo.

 Cartaz do Filme


Cauã Reymond, como o traficante Playboy e seus comandados.


 Milhem Cortaz. Presença sempre marcante em filmes nacionais de temática policial.


Antônio Fagundes como delegado Valadares. Mãos atadas e drama familiar.


A equipe de policiais, a faxineira e o diretor José Eduardo Belmonte.


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