segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Clube de Compras Dallas

Clube de Compras Dallas. Nasce um Cocktail.
Outra película com indicações ao Oscar. O bom filme “Clube de Compras Dallas” fala dos primórdios da AIDS, do preconceito e do medo. E isso num dos estados mais preconceituosos e racistas dos Estados Unidos, o Texas.
Vemos aqui a história do cowboy Ron Woodroof (interpretado pelo excelente Matthew McConaughey), um cara que trabalha nas plataformas terrestres de petróleo durante a semana e, aos sábados e domingos, monta em touros num rodeio. Sua vida é altamente promíscua, com muito sexo sem camisinha, álcool e cocaína. O vaqueiro vê a notícia do caso de AIDS de Rock Hudson no jornal (em meados de 1985) e podemos ver aí toda a sua homofobia e de seus colegas, além da falta de informação da época que atribuía a AIDS apenas a homossexuais. Simultaneamente, vemos seu estado de magreza e fraqueza cada vez mais evidente até que, num acidente na plataforma, ele para no hospital, onde os exames de sangue apontam o HIV. Isso deixa Woodroof transtornado, pois ele não era homossexual. Ele acha que os exames foram trocados no hospital e não dá muita atenção à previsão do médico de que tem somente trinta dias de vida. Mas aquilo fica martelando na sua cabeça e ele começa a pesquisar sobre o assunto, quando descobre que sexo sem camisinha faz parte do comportamento de risco da doença, e ele chega à conclusão de que tem mesmo o HIV. Sua pesquisa continua e ele conhece todos os tratamentos em testes no mundo na época e passa a lutar por uma dose de AZT, que consegue clandestinamente. Mas seu contrabandista perde o acesso ao remédio e indica um médico americano no México que perdeu a licença por ministrar tratamentos alternativos não autorizados nos Estados Unidos. Lá, o nosso vaqueiro melhora muito a sua saúde, descobre que o AZT nas doses ministradas nos Estados Unidos é muito tóxico e que os tratamentos alternativos não são autorizados em solo americano por pressão do laboratório que produz o AZT e que não quer perder seu lucro. Woodroof decide então contrabandear o medicamento alternativo para os Estados Unidos (tem até babosa, acreditem!) e aí ele decide fundar o Clube de Compras Dallas, onde os soropositivos devem dar uma contribuição mensal de 400 dólares em troca da medicação. Obviamente ele terá problemas com os médicos e o governo dos Estados Unidos, com o resto do filme falando de sua luta para se tornar legalizado, que durou bem mais de um mês. E que, de uma certa forma, ajudou a desenvolver o cocktail contra a AIDS que existe hoje.
O ponto mais positivo desse filme é denunciar o interesse financeiro dos laboratórios farmacêuticos que pensam mais nos lucros que na vida humana (assim como nossos planos de saúde). Mas também a história mostra como a falta de informação alimenta o preconceito, algo sentido pelo próprio cowboy depois que seus amigos descobrem que ele está com AIDS e o tratam com homofobia. Com o tempo, o próprio Woodroof relativiza seus pontos de vista retrógrados ao conhecer, em uma de suas internações, o homossexual Rayon (interpretado pelo não menos excelente Jared Leto). O vaqueiro e o homossexual se tornarão sócios nessa medicina ilegal que exercerão, com Rayon arrumando pacientes para Woodroof. Temos também a médica Eve (interpretada por Jennifer Garner, a Elektra da Marvel), que tem um leve relacionamento platônico com o vaqueiro e tem várias crises de consciência em levar adiante o tratamento com o AZT ou entrar na empreitada médica de Woodroof.
E Matthew McConaughey? Esse é o cara! Um atorzaço! Desde os tempos de “Contato”, com a Jodie Foster, ele sempre foi muito competente naquilo que faz e, na opinião deste modesto articulista, precisa de muito mais espaço do que tem em Hollyrwood. Sua ponta em “O Lobo de Wall Street” já fez uma baita diferença naquele filme. Sua participação em “Contato”, como o padre sereno e racional que namora uma cientista é arrebatador. Mas McConaughey tem outros papéis interessantes, como o do stripper Dallas de “Magic Mike”, exibido no Festival do Rio de 2012, e do delinquente Mud, de “Amor Bandido”, um filme americano que deu o que falar no último Festival de Cannes.

Por essas e por outras é que eu falo: Hollywood pode produzir muito lixo (até porque eles têm grana para gastar), mas quando chega a época do Oscar e ela precisa fazer coisa boa, ela faz, e muito bem. Assim, “Clube de Compras Dallas” é outro filme que merece ser visto e que também merece muitas estatuetas.


 Cartaz do Filme.


Sabendo do HIV.


Rayon. Excelente interpretação de Jared Leto.


 Eve, médica em conflito.


Negociando interferon no Japão.


Matthew McConaughey: premiado no Globo de Ouro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário