domingo, 16 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Alabama Monroe

Alabama Monroe: Tragédia ao som do Country Music.
Hoje vamos falar de um concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro (e terá fortes adversários como o excelente “A Caça”, da Dinamarca e “A Grande Beleza”, da Itália). Trata-se do filme “Alabama Monroe”, da Bélgica, que é um arraso. Grande tragédia familiar e humana, o filme é um prato cheio para quem gosta de música country americana. Vamos a ele, então...

Vemos aqui a história de um músico, Didier (interpretado por Johan Heldenbergh), que conhece uma tatuadora, Elsie (interpretada por Veerle Baetens). Eles se apaixonam, têm  uma filha, Maybelle (interpretada por Nell Cattrysse), que contrai um câncer e acaba falecendo, o que acabou fazendo com que o relacionamento entre os dois desmoronasse. Tudo isso regado a muita música country, onde o casal cantava canções cujas letras tinham tudo a ver com as situações que eles passavam. Um detalhe interessante do filme é que a sua narrativa não segue o estilo tradicional de uma história contada com início, meio e fim, mas com idas e vindas, onde presenciamos algumas situações e depois acompanhamos o seu desenrolar. Assim, já sabemos que Maybelle está doente desde o início do filme, que Elsie vai estar em coma no hospital, etc. A construção dos personagens também é importante na trama. Didier ama os Estados Unidos e a sua cultura, mas com o tempo, ele passa a odiar algumas decisões do governo Bush contra o uso de células-tronco. Embora elas possam ser usadas na Bélgica, as pesquisas ainda não estão desenvolvidas. E Didier acredita piamente que as pesquisas não estavam desenvolvidas por causa da pressão de conservadores e religiosos, acatada por Bush. Com a morte da filha, Didier ataca violentamente o fundamentalismo religioso, inclusive publicamente (olha ele aí de novo sendo discutido no cinema!), se bem que dessa vez esse ataque tem tintas de perseguição a liberdade religiosa. Elsie se sentirá fortemente atacada por essa posição de Didier, o que acaba com a relação de vez. Elsie ficou muito mais traumatizada pela morte da filha, construiu um altar em homenagem a ela, acreditou que ela havia se transformado numa estrela e tudo isso era rechaçado por Didier, que abraça mais a ciência (enquanto que Elsie abraça mais a espirituosidade). O pior de tudo é que a crença de que Maybelle havia se transformado numa estrela veio de uma explicação do próprio Didier a Maybelle no hospital quando o pai falou que mesmo depois de mortas, as luzes das estrelas ainda as mantinham de uma certa forma vivas. Um momento altamente doloroso do filme é quando Maybelle vê um pássaro morrer ao se chocar contra um teto de vidro. A menininha pega o pássaro morto, chora e pergunta ao pai por que o pássaro morreu, para onde ele vai depois de morto, etc., e o pai, dentro de sua visão mais científica e pragmática, fica sem dar uma resposta que conforte Maybelle. A menina, já doente, via ali naquele pássaro morto uma projeção de seu futuro. Após a morte da garota, Elsie irá colocar vários adesivos de pássaros no vidro para que os verdadeiros não se chocassem mais lá, o que causa reprovação em Didier, pois isso não trará Maybelle de volta, nem ensinará os pássaros a evitarem outros vidros. Tudo isso minava a relação. Outro momento angustiante era a discussão vazia entre Didier e Elsie de qual dos dois havia sido culpado pela morte de Maybelle. A casa era suja? A comida era ruim? Qual família tinha pré-disposição genética a ter câncer? Atitude típica de um casal em profundo desespero pela perda da filha. Com a separação, Elsie quer uma nova vida e muda seu nome para Alabama. Mesmo afastada de Didier, ela continua nos shows musicais e os músicos, de brincadeira dão a Didier o nome de “Monroe”. No show, Didier fala ao público e faz novos ataques a proibição a pesquisa com células tronco e às crenças religiosas e espirituais, o que provoca uma violenta discussão entre Alabama e Monroe. Ela foge, toma uma dose excessiva de medicamentos e entra em coma... Desenganada pelos médicos, seus aparelhos são desligados perante a banda de Didier, que faz uma canção de despedida. Fim trágico... E a lição de tudo isso? Um coração destroçado é um terreno estéril para imposição de opiniões...

Cartaz do Filme


Elsie e Didier: marcados pela tragédia


A banda: momento de leveza na trama melancólica


Maybelle: de dar dó...


Uma família que se despedaçou...

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