quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Resenha de Filme - Pais e Filhos

Pais e Filhos: troca de bebês à japonesa.
O filme “Pais e Filhos”, produção japonesa, ganhou o prêmio do júri no último festival de Cannes. O filme trata de um assunto que já foi abordado em outros filmes: troca de bebês em maternidades. Mas o detalhe aqui é que isso ocorre dentro da ótica da cultura japonesa, o que colore o tema de novos tons.

A história começa com uma família de classe média alta. O pai, Ryota (interpretado por Masaharu Fukuyama), é um executivo de uma grande empresa, fissurado no trabalho, sobrando pouco tempo para sua esposa Midori (interpretada por Machiko Ono) e seu filho Keita. Os hábitos da família são altamente burgueses: o filho tem que aprender a tocar piano, há uma excessiva proteção dos pais ao garoto, até por se tratar de filho único, regras de etiqueta são observadas. Mas os dias dessa família aparentemente certinha acabariam quando eles receberam uma ligação da maternidade onde Keita nasceu e tiveram a notícia de uma possível troca de bebês, algo que foi confirmado depois de um exame de DNA. A partir daí, surgiu a difícil questão de se fazer a troca de filhos com a família dos pais biológicos de Keita. Essa família, aliás, é o oposto da primeira família em praticamente tudo: seus membros são de posição social mais baixa (eles têm um pequeno comércio), possuem três filhos, o pai é muito mais presente e tem a habilidade de consertar todos os brinquedos das crianças, além de tomar banho junto com os filhos e ser muito brincalhão. Essas duas famílias então vão começar a interagir, marcando encontros para que todo mundo se conheça que a troca de filhos seja a menos dolorosa possível. Mas logo estabelecem-se diferenças entre as famílias: a família mais pobre pensa numa indenização em dinheiro, algo que é visto com repugnância pela família mais rica. Em contrapartida, o pai da família mais rica pensa em criar os dois filhos e oferece dinheiro para o pai da família mais pobre, que rechaça violentamente a proposta, causando muito mal estar. Nesse momento, vemos como a noção de honra da cultura japonesa pesa muito, pois depois a mãe da família mais rica pede perdão a outra família numa postura altamente submissa para os padrões ocidentais. Ainda, uma família mais pobre que inicialmente pensava no dinheiro da indenização não aceita o dinheiro de uma proposta inescrupulosa. Notamos uma alta ocidentalização da cultura japonesa no filme (como ela realmente é), mas elementos muito ligados a honra tão presente nessa cultura oriental se fazem muito marcantes. O filme falha por ficar um pouco mais centrado na família burguesa, mas mostra um aspecto positivo: a mudança do pai mais rico, que passa a dar mais atenção para sua família, e isso depois do ótimo exemplo do pai pobre, muito irresponsável para as coisas “adultas” da vida, mas muito presente para os seus filhos. O melhor do filme são as cenas de brincadeiras entre adultos e crianças. Tudo isso colocado de uma forma muito delicada e serena. Aliás, essa delicadeza e serenidade permeiam todo o filme. Realmente sentimos que vemos algo diferente do que estamos acostumados. Sou meio suspeito para dizer, pois admiro muito o povo japonês. De qualquer forma, não estou sozinho ao louvar o filme, o júri de Cannes fez o mesmo... vale a pena dar uma olhadinha nesse leve drama... e ainda tem as cerejeiras e suas lindas flores...

Duas famílias em uma...


Pais burgueses conhecendo o filho biológico


Pais mais pobres (interpretado pelos atores Yoko Maki e Riri Furanki)


Pai mais pobre brincando na piscina de bolinhas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário