terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Resenha de Filme - 2001, Uma Odisseia no Espaço

2001, Uma Odisseia no Espaço – Ficção Científica como Arte.
Falar de uma obra de arte sempre é algo difícil. Ainda mais quando se trata de “2001, uma Odisseia no Espaço”, de Kubrick. Lembro-me quando esse filme passou na TV pela primeira vez. Eu era moleque e não entendia aquela sucessão de imagens e sons tão estranhos. Esperava algo no estilo “Guerra nas Estrelas” Quebrei a cara.
Mas o filme me despertou muita inquietação. A primeira vez que escutei alguma explicação sobre ele foi de um professor de ciências que dizia que o filme buscava mostrar que, por mais que a gente avance e busque inovar, sempre retornamos ao ponto de partida. Sei lá, num primeiro momento, não me convenci muito.
Busquei então o livro e, só aí, pude entender do que se tratava a história, embora o filme a contasse com algumas modificações. Definitivamente, nem sempre uma imagem vale mais que mil palavras. Mas, mesmo assim, Kubrick mostrou a força das imagens nesse filme. Um filme quase sem diálogos. Um filme praticamente mudo, criando arte através da simbiose entre imagem e música, algo que o mestre tanto valorizava. O coro de vozes altamente angustiantes nas cenas do monólito extraterrestre, seja diante dos homens pré-históricos, seja diante da nave Discovery nas cercanias de Júpiter expressam o medo e o receio humanos diante do sobrenatural (minha mãe costumava dizer que parecia que havia um monte de almas penadas gritando no filme). O acoplamento da nave espacial à gigantesca estação rotatória que simula a força de gravidade ao som de Danúbio Azul transforma a física em arte, como se as forças que regem o movimento das máquinas criadas pelo homem fossem uma grande dança exaltando o triunfo possibilista da engenhosidade humana. A imagem da Discovery a caminho de Júpiter sob uma música muito melancólica, expressão pura da solidão no espaço profundo, na minha modesta opinião o momento mais lindo e poético do filme. A viagem de Dave em velocidades altíssimas dentro de um caleidoscópio coloridíssimo com um fundo musical altamente desesperador, desespero esse expresso nas imagens congeladas e aterrorizadas da face de Dave, num contraponto à alta velocidade a qual ele está submetido. Dizem que esse momento do filme é o que mais se aproxima no cinema a uma viagem que um viciado em LSD faz. Ou seja, Kubrick, com o poder de suas imagens, nos deixa “doidões” sem a gente precisar se drogar. Só esses momentos já fazem de 2001 uma obra prima em termos cinematográficos. Mas há ainda mais. Esse trabalho foi, com certeza, um dos melhores filmes de ficção científica da história do cinema, se não foi o melhor. Uma civilização alienígena que salva o homem da extinção lá na pré-história, sugerindo telepaticamente que o osso seja usado como arma para o homem ter o que comer. O osso travestido em nave espacial, consequência do primeiro avanço tecnológico que foi usar o osso como porrete, o que salvou o homem. A presença de um monólito na Lua, que emitiria um sinal assim que o homem lá chegasse, avisando a civilização alienígena dos progressos tecnológicos da humanidade. A viagem a Júpiter para investigar o outro monólito gigante. A presença de HAL 9000, um computador que tem consciência de si mesmo e que tem emoções (o medo de HAL ao ser desligado por Dave e suas súplicas doem na gente a qualquer tempo, é um sentimento forte e atemporal). O contato com o monólito e a velocidade warp de Dave, que termina numa pequena sala, um ambiente produzido pelos alienígenas para que Dave se torne mais confortável. A velocidade de seu metabolismo aumentada para seu rápido envelhecimento e morte, para fundir seu corpo com a espécie alienígena. O desfecho do bebê, fruto da mistura entre as duas espécies, vendo o planeta Terra, ao som de Assim Falou Zaratrusta, de Richard Strauss. Tudo isso passado em imagem viva diante de nossos olhos, praticamente sem diálogos, toda a linguagem cinematográfica presente dentro da materialidade das imagens, com a música reforçando e ratificando os significados.

Lembro-me aqui de meu professor. Por mais que a gente busque avançar, sempre retornamos ao ponto de partida. Com o renascimento de Dave, podemos dizer que meu mestre tinha lá uma certa razão. Entretanto, renascemos, reciclamos, sempre para buscar um novo futuro. Voltar ao ponto de partida, voltar às origens (como o toque que o Dr. Floyd faz com a mão no monólito da Lua, o mesmo toque que o homem pré-histórico faz no monólito no passado distante) pode até ser algo bom, precisamos de nossas referências e raízes. Mas a raiz é a base para crescermos e buscarmos sempre um futuro melhor para todos nós. 2001 também tem essa mensagem implícita. Definitivamente, esse filme é um patrimônio da humanidade!

Cartaz da Obra Prima


Descoberta instigada pelo monólito, que traz a sobrevivência.


O monólito alienígena.


Osso e nave: frutos da tecnologia


Estação Espacial: Rotação Traz Simulação de Gravidade.


A Solitária Discovery no Espaço.


HAL 9000: um computador com sentimentos.


A visão aterrorizada de Dave durante seu warp.


Dave, em seu leito de morte, perante o monólito alienígena.


Dave mesclado com a espécie alienígena. Delicadeza e perplexidade. 


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