Jorge Mautner, o filho do Holocausto
Esse documentário de Pedro Bial é cheio de valor. Ao falar da vida do multimídia Jorge Mautner, podemos redescobrir o talento de um grande artista e figura humana admirável, com uma história de vida bem peculiar. Filho de uma família fugida da Europa durante o nazismo, Mautner cedo se revelou um grande talento artístico recebendo influências africanas de sua babá. A temática do holocausto e das sangrentas ditaduras também são referência em sua obra onde o próprio canta suas composições enquanto sua história de vida vai sendo contada através dele mesmo citando passagens de seu livro (o documentário é homônimo), de depoimentos de amigos e de imagens de arquivo inteligentemente selecionadas. Cabe um destaque aqui as imagens de Vargas passeando pelos Jardins do Palácio do Catete e falando com os populares, um vestígio soberbo de uma época que não volta mais. Impecáveis também são os trechos do filme que Mautner fez na Europa com Caetano Veloso e Gilberto Gil, onde a participação dos dois nos depoimentos se cantando algumas obras de Mautner são um deleite para o espectador que presencia esse magnífico documentário. Mas o ponto alto é a divertida conversa entre Jorge Mautner e sua filha Amora Mautner, regado a muito carinho, afeto, cumplicidade e, sobretudo, diversão. “Jorge Mautner, o filho do holocausto” é garantia de boa pesquisa histórica, depoimentos ricos, e, sobretudo, muitas risadas e alegria que, nas palavras do compositor, é o que realmente importa. Imperdível.
Cotação: Super Legal!!!
Marcelo Yuka, no caminho das setas.
A impressão que se dá de Marcelo Yuka depois da tragédia que abalou sua vida é a de que ele se tornou uma pessoa melancólica e tristonha. O documentário “Marcelo Yuka, no caminho das setas” busca exatamente desmistificar essa impressão. A começar pela vontade expressa do músico de que ninguém chorasse nos depoimentos. E de citar também a reação da enfermeira quando o baterista e ex-líder do Rappa pegou em sua mão ainda na ambulância, pedindo um pouco de conforto: “sou paga para te ajudar, não para ter pena de você”. O bom documentário mostra a trajetória de Yuka depois do acidente, a continuidade de seu trabalho social, o ato de levar a carreira adiante depois da sua separação do grupo O Rappa e seu cotidiano em busca de sua recuperação e a convivência com dores que o atormentam. O músico, sem medo, torna sua vida um livro aberto, fala de suas esperanças e angústias, além de mostrar uma certa amargura e melancolia sim com seu novo estado. Mas é como o próprio Yuka disse: “Vivi muitos anos de minha vida podendo andar. Nessa minha nova condição estou há menos tempo. É muito difícil falar de superação”. O ponto mais divertido do filme é a sua conversa com os pais, já separados, onde ele brinca com a cara dos dois e dá gostosas gargalhadas, assim como também é zoado pelo pai, uma figura a princípio com pecha de severa, mas que se revela de um fino humor. Mal ou bem, Yuka aparece no documentário como um exemplo de vida, não no sentido do grande herói que supera tudo, mas como uma figura humana que passou por uma grande tragédia e aprende ainda a conviver com ela, com suas esperanças, medos e incertezas. Algo que pode acontecer em maior ou menor nível com qualquer um de nós hoje em dia.
Cotação: Super Legal!
Caça aos Gangsters.
Pegue algumas antigas receitas: o enredo de “Os Intocáveis” com uma pitada dos antigos filmes noir. E você terá “Caça aos Gangsters”. O filme fala de uma Los Angeles do pós 2ª Guerra onde a máfia impera sob o comando de Mickey Cohen (interpretado por um rouco e deformado Sean Penn). Um policial honesto e veterano de guerra, O’Mara (interpretado por Josh Brolin) não consegue impor a lei em virtude da corrupção da polícia, totalmente nas mãos de Cohen (alguém se lembra disso nos “Intocáveis”?). Mas o chefe de polícia (interpretado por um Nick Nolte mais rouco ainda) propõe a O’Mara uma ação por debaixo dos panos para minar os negócios do perigoso mafioso. O’Mara convoca uma equipe de policiais que têm como a carinha bonita o ator Ryan Gosling, que já deixou de ser uma revelação e é uma realidade hoje no cinema americano, sobretudo depois de figurar em filmes como “Drive”. Ah, tem a pitadinha Vamp de Emma Stone, que faz a amante de Cohen, mas também tem um affair com Gosling, o que apimenta a história. O filme tem um enredo cativante, mas as referências aos “Intocáveis” nos dão a impressão de que já vimos aquilo tudo. Senão vejamos: há um policial muito bom de mira na equipe de O’Mara, assim como Andy Garcia em “Os Intocáveis”; há um cérebro na equipe, o perito em comunicação (interpretado por Giovani Ribisi), assim como havia um cérebro na equipe de “Os Intocáveis”, o contador que descobre a sonegação de impostos de Al Capone; e até uma cena de tiroteio numa escadaria, assim como ocorreu em “Os Intocáveis”, sendo, portanto, uma referência mais que direta (vale falar aqui que o tiroteio na escadaria em “Os Intocáveis” foi uma homenagem a famosa cena da escadaria de Odessa de “O Encouraçado Potemkim, de Eisenstein). Muita paráfrase e pouca polissemia, que acaba dando um toque um pouco caricato a “Caça aos Gangsters”, apesar de ser um bom filme.
Cotação: Legal
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