terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poesia de Rodoviária

As pessoas vêm, as pessoas vão.
As pessoas vêm, as pessoas vão.
Quantos sonhos,
quantas desilusões,
quantas mágoas e frustrações.
Quantas esperanças,
quantas sabedorias,
passam à minha frente, numa torrente de emoções.

Quantas histórias de vida!
Bons exemplos e maus exemplos
fechados dentro de cada ser.
Para onde vão?
De onde vêm?
À trabalho, diversão?
Para sempre ou pendularmente?
Tudo isso me dá aflição.

É, a vida é assim,
milhares de pessoas aqui passam todos os dias,
todas juntas mas, ao mesmo tempo,
todas separadas.
Por mais estranho que isso possa parecer,
quanto mais gente há,
mais indiferente o ser fica
mais egoísta o humano se torna.

Por isso que eles apenas caminham,
compenetrados, fechados em si mesmos,
pensando em suas vidas, em seus problemas,
sem olhar para o próximo ao lado.
E eu, que daqui a pouco
também entrarei nessa torrente
tiro, numa rima pobre, apenas uma conclusão:
as pessoas vêm, as pessoas vão.

Mário (à Mário Peixoto) - Série Cinematográfica

Era um menino muito franzino,
muito recluso, muito fechado.
Muito ligado à avó,
que, na adolescência foi estudar na Inglaterra.
Lá, teve contato íntimo com o cinema.
Se apaixonou pelos filmes alemães.
Mas sofria muito com a frieza do povo inglês
e, por isso, teve como amigos filhos do Império japonês.

De volta ao Brasil,
tinha como amigos estudiosos do cinema
que fundaram um periódico
cuja função era estudar o cinema teoricamente.
Ele via tudo à distância,
mas buscava um enredo para um scenario
do fundo de sua alma
onde a teoria vinha apenas como um apoio.

Logo escreveu o scenario.
Entregou-o para um diretor de cinema
e para outro.
Qual foi a conclusão dos dois?
O próprio menino franzino deveria dirigi-lo.
O scenario era complicado demais.
E todos aqueles que militavam pelo cinema
logo começaram a ajudá-lo.

De todo esse esforço
saiu um filme único, maravilhoso.
Um filme que explorava
a limitação da condição humana
perante o Universo.
Onde toda a angústia do ser
era exposta de forma fria e crua,
uma reflexão de até onde nós podemos ir em nossas vidas.


domingo, 21 de novembro de 2010

Dançando no Paraíso (à Fred e Gene) - Série Cinematográfica


- Gene!
- O que foi, Fred?
- Está na hora do ensaio.
- Humm, OK, vamos lá. O que vai ser hoje?
- Sapateado, ué...
- De novo? Não fizemos ontem?
- Por seu amigo, Gene.
- Tá certo, Fred, tá certo.
- Então vamos lá. Aqueles mesmos passos de ontem. Um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro, um, dois, opa!
- O que foi, Fred? Fiz errado de novo?
- Não que você tenha feito errado, mas a sincronia das batidas dos nossos pés não ficou perfeita.
- Que ouvido, hein? Às vezes acho que você escuta demais.
- Tem que ser perfeito, Gene.
- É por isso que a Ginger reclamava tanto de você.
- Ela era meio preguiçosa, né, Gene?
- Sei lá, só sei que ela era a namoradinha de muita gente. De todos os que assistiam a nossos filmes.
- Tempos bons da RKO e da Metro, não?
- Ô, nem fale. Fizemos a alegria de muitas pessoas totalmente desesperançadas.
- Que não tinham emprego, dinheiro, que passavam fome.
- Foram tempos muito difíceis.
- Ás vezes me pergunto, Gene. Por que o homem tem essa natureza tão dúbia?
- Como assim?
- Ora, veja só. Aquela crise toda foi produzida por tanta ganância e, ao mesmo tempo, procurávamos dar um pouco de alegria àquelas pessoas.
- Sabe-se lá porque, Fred. Mas que também ganhamos muito dinheiro, nós ganhamos.
- Sente-se culpado?
- Sei lá, Fred! Você està muito filosófico hoje!
- Acho que é toda essa atmosfera etérea que nos envolve.
- Bom, vamos continuar?
- Vamos lá!
- Comece.
- Um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro, opa!
- Ah, não. De novo, Fred?
- Agora quase foi. Faltou um tantinho!
- Quem é o coreógrafo e bailarino aqui? Não sirvo para sapatear?
- Tem que ser...
- Perfeito, já sei.
- Sabe, Gene...
- O que é, Fred?
- Às vezes me pergunto. Fizemos o certo?
- Como assim?
- Não alienamos as pessoas com nossos filmes? Não desviamos a atenção do verdadeiro foco dos problemas delas?
- Não seja duro com você mesmo, Fred. É como diz aquele sul-americano: ser firme, mas sem perder a ternura.
- Você virou revolucionário?
- É claro que nâo! Só digo que precisamos ser responsáveis, mas com uma pequena dose de irresponsabilidade.
- E os irresponsáveis somos nós aqui, né?
- Claro que sim! Como eu poderia fazer aquela sequência com a Cyd Charisse em "Cantando na Chuva" sem ser irresponsável? Eu tinha que ousar! Mas havia responsabilidade também! O trabalho era muito detalhista, meticuloso, assim como o seu sapateado.
- É, Gene, agora você me tirou um peso das minhas costas,
- Sempre às ordens, Fred. Vamos continuar?
- Sim, mas antes uma pergunta.
- O que é?
- O que vamos fazer amanhã?
- Ensaio de canto com o Frank.
- Isso é covardia! Ele nos exige sempre o máximo das nossas cordas vocais!
- Não reclame, Fred. A minha tarefa, que será fazê-lo dançar na próxima semana, será bem pior.
- Precisávamos reunir a turma toda da RKO e Metro novamente.
- Por que?
- Para fazer um grande musical
- Com qual intuito?
- O de alegrar pessoas tristes, como nos velhos tempos. Vir para cá de uma hora para outra é um grande choque para qualquer um.
- É o curso normal da vida, Fred. Mas podemos pensar num musical sim. Vamos juntar a turma na semana que vem, OK?
- OK. Vamos retomar o ensaio então?
- Vamos lá.
- Um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro. Opa! Olha a falha na sincronia de novo!
- Ai...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Penumbra

Eu sou a penumbra.
Aquela que está entre o claro e o escuro,
entre o amor e o ódio,
entre a alegria e a tristeza,
entre a tolerância e a intolerância,
entre a afeição e o desprezo.
Sou a linha tênue que une as dicotomias.
Estou espremida entre forças opostas.

Eu sou muito desfocada
e tento separar coisas bem definidas,
ou tento unir coisas bem definidas?
Essa indefinição me angustia,
essa indefinição me indefine.
Sou o sim ou sou o não?
O mais ou menos não me satisfaz.
De que lado estou?

Ou será que tenho uma função mediadora?
Tenho aversão aos extremos?
Tenho aversão aos exageros?
Serei, então, um ponto de equilíbrio?
Tenho função de acalmar forças tão opostas?
Oh, que tarefa ingrata
dada a alguém tão delicada, fina e tênue como eu!
Por que me foi dado tão pesado fardo?

Talvez eu tenha recebido esse malfadado trabalho
justamente por ser tão frágil
para que todos se lembrem
que os equilíbrios são muito instáveis
à medida que os extremos se tornam tão violentos.
Por isso, sou tão fina,
tão quebradiça e tão delicada,
sucumbindo à ignorância dos exageros.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eclipse (ensaio da primeira poesia)

Era uma e meia da manhã.
O eclipse da Lua atingia seu auge.
Quase todo o disco lunar na umbra.
Apenas um pequeno filete de Lua nova,
metade azul, metade vermelho,
por efeitos da atmosfera terrestre.
Mesmo azul e vermelho
dos extremos do espectro visual.

De forma fantasmagórica,
mares e crateras ficavam translúcidos
na estreita penumbra.
O frio e a escuridão desses monumentos geológicos
me tocam profundo na alma.
Trazem serenidade e tranquilidade
sentimentos iguais aos nomes de mares lunares
que imperam no vazio de nossas imaginações.

Queria eu estar lá,
no frio cortante das profundezas abissais das crateras,
queria eu estar lá,
nas superfícies planas de areia fofa dos mares,
onde a solidão se estende por 360 graus.
Pois lá eu poderia refletir profundamente
o que tenho feito da minha vida,
escondido de tudo e de todos.

Todos nós às vezes
precisamos desses mares e crateras,
desses frios cortantes solitários e plácidos,
para que possamos refletir
até que ponto mergulhamos a vida dos que nos cercam,
dos que nos amam e estimam,
dos que nos valorizam,
num profundo eclipse da alma...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Reflexão...





Olho para o céu. Vejo todo um Universo a minha volta. Estrelas, planetas, nebulosas, galáxias, todas muito simples. Estruturas com a entropia relativamente baixa mas não extremamente complexas. São lindas, coloridas ou invisíveis. Um deleite para o estudo das formas abstratas ou esféricas. O homem sempre quis alcançar o inalcançável, o espaço profundo...estar a milhões, bilhões de anos-luz de distância da Terra. Mas, mais maravilhoso do que essa imensidão, está no fato de que estamos aqui e podemos percebê-la e a nós mesmos... além de sermos estruturas infinitamente mais complexas do que as estrelas ou nebulosas. Somos vida consciente. Somos humanos. Criamos o amor, o ódio, a pena, a autopiedade, o egoísmo e o altruísmo. Teremos criado o próprio Deus? Somos infinitamente complexos, Podemos ser maravilhosos, mas também repugnantes...
O que fazemos com nós mesmos? Por que às vezes temos uma sanha destrutiva? Por que às vezes temos prazer em magoar aqueles que nos estimam e consideram? Por que não usamos plenamente o nosso pensamento racional para purificar o emocional e usá-lo somente para promover o bem e não mergulhar em joguinhos perversos com doses de ternura e uma pitada de perfídia? Por que temos medo e magoamos, provocando o afastamento, o sofrimento e a tristeza? 
Volto a olhar para o Universo, imenso e indiferente a nós. Invejo a sua simplicidade, pois o complexo humano pode até ser maravilhoso em alguns aspectos, mas pode também ser muito doloroso por outros. Assim, proponho um abandono momentâneo à natureza humana e um brinde a simplicidade das galáxias, que giram em torno de seus centros espirais, ou das estrelas, que são bolas incandescentes de gás... grandes quantidades de energia, limpas, plácidas, disruptivas mas inofensivas, perto do grande estrago que uma mágoa ou decepção humana faz... o ser humano deve buscar injetar um pouco mais de simplicidade na sua complexidade, com o fito de ser feliz e de sofrer menos. Que escutemos a sabedoria que o Universo tem a nos dar...

Postando no redshift

Aqui estou em um dos meus locais de trabalho... Rio Dourado, a 150 km do Rio de Janeiro. Trabalho como professor de História e, confesso, não vejo perspectiva de melhora em nada. Estou muito descrente sobre tudo aquilo que vejo. Falta de interesse dos alunos, acima de tudo... estou muito desanimado... a única coisa que me faz continuar é a necessidade de pagar as contas, manter uma casa e dar segurança e apoio a minha esposa. Isso, mais do que nunca é o fundamental... a praticidade é tudo na vida de professor... ideologicamente, estou mortalmente ferido e decepcionado com a natureza humana, que é mais vil do que uma lâmina de aço cortante... que eu tenha forças para continuar...

domingo, 7 de novembro de 2010

Iniciando um blog

Olá a todos! Meu nome é Carlos Eduardo Lohse e começo hoje a fazer um novo blog. Tenho muitas ideias para começar a postar. Quero falar de temas atuais, História, Astronomia, Cinema (Minhas especialidades) e outras coisas mais. Espero que todos que acessarem este novo blog (e talvez outros futuros) gostem. Um grande abraço a todos!!! Carlos...