quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Labirinto de Mentiras

Labirinto De Mentiras. Necessidade De Reabrir Feridas.
Um bom filme alemão de 2014 chega às nossas telonas. “Labirinto de Mentiras”, dirigido por Giulio Ricciarelli, vai cutucar cicatrizes que precisam ser reabertas, até para que tais feridas nunca mais apareçam. É mais um bom filme que revolve as cinzas do nazismo e da guerra, só que numa época diferente.
O filme se passa na Alemanha da década de fins da década de 50, onde um jovem e promissor advogado, Johann Radmann (interpretado por Alexander Fehling) se depara em seu escritório de advocacia com Thomas Gnielka (interpretado por André Szymanski) que, aos brados, acusa um professor da escola local de ser um ex-membro da SS. Tal indignação de Gnielka despertou a curiosidade de Radmann, que começou a investigar o caso e serviu de chacota para seus amigos. À medida que ele avançava nas investigações, começou a descobrir os horrores do nazismo totalmente desconhecidos por sua geração: Auschwitz, as câmaras de gás, as atrocidades dos nazistas cometidas contra os judeus. Radmann vai então começar uma profunda investigação onde todos os oito mil alemães que trabalharam em Auschwitz serão incriminados como acusados de homicídio e serão necessárias testemunhas para todos esses acusados. O grande problema é que a mentalidade geral da Alemanha do pós-guerra era que se colocasse uma enorme pedra em cima desse assunto, pois ninguém queria reabrir as feridas do passado e muitas, mas muitas pessoas mesmo teriam cometido sérios crimes que deveriam ser todos julgados. Assim, Radmann teria que enfrentar a resistência de todos, indo desde o povo até as instituições governamentais e precisaria de um esforço hercúleo para superar todas essas adversidades.
É um filme muito intrigante e interessante, pois Radmann teve que superar vários obstáculos como, por exemplo, separar em um arquivo todas as fichas dos oito mil membros da SS que estiveram em Auschwitz, isso num acervo de seiscentas mil fichas! Para localizar todos os acusados, foi obrigado a consultar todas as listas telefônicas da Alemanha, já que os órgãos governamentais faziam corpo mole para ajudá-lo. Uma coisa ficou bem clara: ainda havia muitos nazistas em setores importantes da sociedade e do governo, que faziam de tudo para que seus crimes caíssem no ostracismo. Mas Radmann superou todas essas dificuldades e as atrocidades de Auschwitz só ficaram conhecidas depois desse esforço. Nenhum jovem alemão da década de 50 tinha ouvido falar do macabro campo de concentração e de todas as suas terríveis práticas. Foram citados, também, todos os crimes cometidos pelo médico Joseph Mengele e seu gosto por experiências genéticas com gêmeos. O mais chocante foi saber que Mengele tinha livre trânsito pela Alemanha depois da guerra, tamanha era a certeza da impunidade. O conhecimento dos crimes de Mengele fez com que Radmann pirasse na batatinha e ficasse obcecado pelo médico, esquecendo que, pior do que os crimes de Mengele, é que várias pessoas que pareciam ser boas e normais também tinham cometido muitas atrocidades. Isso fez com que Radmann chegasse a um ponto de odiar todo alemão que visse pela frente e a considerá-lo um cúmplice do genocídio. E essa foi a grande questão do filme: até que ponto cada alemão participou com gosto do que acontecia ou foi forçado a participar? Essa é uma grave questão social que realmente provocou feridas e sequelas profundas na sociedade alemã. Mas era um trauma que os alemães tinham que encarar de frente. Varrer tudo para debaixo do tapete somente adiaria o problema.

Assim, “Labirinto de Mentiras” é um importante filme que deve ser visto, pois revolve um passado não muito distante mas muito traumático e é um convite à reflexão de como um povo inteiro deve lidar com suas violências e culpas. Um filme essencial. Ah, e não se esqueça de ver o trailer na postagem logo após as fotos do filme!!!

Cartaz do filme

Radmann, um jovem advogado

Revendo um genocida...

Quem quer pegar um caso de um campo de concentração???

o início de uma investigação

Conversando com as vítimas

Lidando com muitas fichas...

Horas de trabalho árduo

Confrontando os acusados...

Hora do julgamento... 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Mia Madre

Mia Madre. Nanni Moretti Volta A Atacar!
Nanni Moretti é um baita de um diretor italiano. Dentre os seus filmes, podemos citar “Habemus Papam”, “O Quarto do Filho”, “Caro Diário”, entre outros. Desta vez, Moretti nos presenteia com “Mia Madre” e, ainda por cima, com a presença de John Turturro como a cereja do bolo! Eu nem sabia do que se tratava o filme, mas só o fato de saber que esses dois nomes estão numa película juntos é suficiente para que qualquer cinéfilo em sã consciência saia do aconchego de seu lar para dar uma conferida no cinema. E lá fui eu para o Estação Botafogo 3.
Essa minha viagenzinha valeu a pena? Claro que sim! Do que se trata a película? Vemos aqui a história de uma diretora de cinema com nome de pizza, Margherita (interpretada pela beladona Margherita Buy), que se vê às voltas com a produção de um filme que narra o cotidiano de trabalhadores de uma fábrica que podem perder seu emprego a qualquer momento. Muitas pessoas acham que esse tipo de tema de filme já está completamente fora de moda e que a diretora deveria partir para temas mais contemporâneos. Mas Margherita ainda acredita que o cinema pode ser um porta-voz dos excluídos e trata a sétima arte como um instrumento de denúncia social e de reflexão. Para o papel do dono da fábrica, ela contrata o ator ítalo-americano Barry Huggins (interpretado por Turturro), que se revela um verdadeiro mala sem-alça, sem noção e totalmente inconveniente. Já dá para perceber que o processo de filmagem será muito conturbado. Mas outros problemas afligiriam mais ainda a cabeça da cineasta. Sua mãe, Ada (interpretada por Giulia Lazzarini) sofre de uma progressiva insuficiência cardíaca que, mais cedo, mais tarde, a levará à morte. E, com a ajuda de seu irmão Giovanni (interpretado por Moretti), Margherita vai ter que enfrentar essa barra pesadíssima de ver sua mãe definhar enquanto roda seu filme.
Moretti mais uma vez nos dá uma lição de vida. Mais uma vez o cineasta italiano usa a arte para expressar como a nossa vida pode atingir momentos muito dramáticos. Todas as nossas angústias estão lá, pois já passamos na vida real por aquilo que o filme nos mostra. Pesadelos em que a mãe já está morta, lembranças em “flash-back” de coisas ruins que fizemos com nossas mães e da qual nos arrependemos nos momentos difíceis, lembranças boas, etc. Mas Moretti, esperto como ele só, traz essas lembranças boas e más, assim como os pesadelos, mergulhados totalmente na estrutura narrativa do filme, sem qualquer aviso, e pensamos que presenciamos uma situação presente da película. Somente quando vem o corte abrupto (como, por exemplo, quando Margherita acorda de um pesadelo) é que percebemos o que está se passando.
As reflexões sobre a perda e sobre o legado também são emocionantes. Somente quem perdeu um ente querido e alivia suas dores nas lembranças e saudades pode entender a mensagem desse filme. A mãe de Margherita e Giovanni era professora de Latim e tinha uma legião de ex-alunos que a frequentemente visitavam e viam nela um exemplo de vida, uma segunda mãe. Uma linda homenagem que Moretti fez aos professores, tão combalidos, desvalorizados e esquecidos. Um verdadeiro legado deixado pela mãe da protagonista principal. E esse legado servia como um conforto pela dor da perda, ou seja, havia a consciência de que a “madre” havia sido importante para a vida de muitas pessoas, inclusive para a netinha, que tomava aulas de Latim da avó entre uma fungada no balão de oxigênio e outra.
No mais, a atuação dos atores foi um primor. Margherita foi intensa no momento certo, contida no momento certo, dramática no momento certo. Moretti, como um ator coadjuvante mais distante, teve uma atuação discreta e sóbria, ao contrário do que já vimos em alguns de seus outros filmes (em “Habemus Papam”, ele estava mais caricato). Já Turturro deu um show como o inconveniente, demonstrou seus dotes de dançarino e foi extremamente simpático nos momentos certos (não vou dar “spoilers” aqui). Valeu muito a pena ver Moretti, Turturro e Margherita contracenando juntos numa mesa de jantar.

Assim, “Mia Madre” é mais uma grande obra do cineasta italiano Nanni Moretti que deve ser vista com atenção, pois é um estudo da forma como a arte traz para si a dramaticidade da vida real e ainda contamos com a magnífica presença de John Turturro no elenco. Programa imperdível! Ah, inauguro hoje uma novidade! Veja na postagem abaixo, depois das fotos, o trailer do filme...

Belo cartaz do filme

Giovanni e Margherita vão enfrentar uma barra pesadíssima...

... que é a de cuidar da mãe doente.

Um ator americano canastrão...

... mas com muita ginga!!!

Entretanto, os conflitos foram inevitáveis...

Cena antológica!!! Moretti e Turturro trabalhando juntos!!!

Mesmo no fim da vida, ensinando latim para a netinha...

Um emocionante filme sobre perdas e legados...

Em Cannes...

Deu gosto de ver esse trio trabalhar...





segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Victoria

Victoria. Entrando Numa Fria Num Longo Plano Sequência.
Estreou um filme alemão que foi muito falado essas últimas semanas. “Victoria” é um filme que tem o atrativo de ele ser inteirinho um plano sequência sem cortes. A película dirigida por Sebastian Schipper ao fim das contas tem essa característica como o grande atrativo. No mais, não é lá grande coisa. Temos uma mocinha espanhola de nome Victoria (interpretada por Laia Costa) numa pequena danceteria em Berlim, quando ela conhece Sonne (interpretado por Frederick Lau) e seus amigos, que logo se mostram uns arruaceiros de terceira, que realizam pequenos assaltos. A menina vai na onda dos caras e passa a noite com eles. Só que a coisa engrossa quando um dos amigos de Sonne passa mal de tanta bebedeira e não pode fazer um trabalhinho em conjunto para Boxer, um dos amigos de Sonne. Victoria substitui o coleguinha bêbado e logo percebe que entrou numa grande fria. O interessante aqui é que a câmara (e, por extensão, o espectador) acaba sendo um personagem integrado ao grupo já que o filme é um plano sequência inteiro. Entramos em prédios, lojas, carros, corremos em meio a fogo cruzado, somos perseguidos pela polícia, etc, etc. Desse ponto de vista, a película é interessante. Mas os caras eram muito trouxas! E a Victoria, então, que vai na onda dos trouxas todos? Ela é a trouxa-mor! Mas também se não fossem trouxas, o filme não teria a menor graça. A gente ri muito dos vacilos dos manés! E digo, desde já, que é uma coisa altamente inverossímil o que eles fazem, assim como o desfecho um tanto quanto absurdo.

Só é de se lamentar que tenha havido certas limitações técnicas, sobretudo no que se refere ao som, que ficava péssimo quando o ator se afastava demasiadamente da câmara, ficando muito baixo e com um aspecto meio metálico. Mas valeu a tentativa, já que sempre é um desafio fazer um longo plano sequência num filme (“Birdman” foi muito celebrado por causa disso), ainda mais quando se tenta fazer isso num filme inteiro de cerca de 134 minutos. Apesar da história um tanto trivial, previsível e bobinha, com alguns momentos até de tédio, vale pela diversão de você acompanhar um monte de otários e ver eles se darem mal sem sofrer um arranhão.

Cartaz do filme

Victoria, uma espanholinha espevitada

Com Sonne (centro) e Boxer.

Uma louca noitada começa...

Tudo parecia ótimo...

Mas...

Em Berlim... 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Macbeth: Ambição e Guerra

Macbeth: Ambição E Guerra. Responsabilidade Redobrada.
Quando se adapta para o cinema alguma obra já consagrada, a responsabilidade aumenta. William Shakespeare já foi várias vezes passado para a grande telona. Como um exemplo, as adaptações feitas por Orson Welles, antológicas para quem as assistiu. E aí, quando se retoma tal empreitada, fica a pergunta impossível de não ser feita: ah, uma peça de Shakespeare já foi encenada inúmeras vezes no cinema! Para que fazer de novo? O que essa nova adaptação vai trazer de diferente?
Pois é. Quem assumiu o risco dessa vez foi o diretor Justin Kurzel, que, pode-se dizer, fez um excelente trabalho, a começar pela escolha do elenco. Michael Fassbender (o Magneto de “X-Men, Primeira Classe”, foi o protagonista, com Lady Macbeth interpretada pela bela e eficiente Marion Cotillard (que ganhou o Oscar de melhor atriz em “Piaf: Um Hino Ao Amor” em 2008). Deu gosto ver os dois contracenando juntos, recitando as belas pérolas literárias escritas por Shakespeare, sem ficar algo forçado ou piegas. Apesar de uma linguagem até certo ponto rebuscada para os padrões atuais, os dois atores as interpretavam com tamanha espontaneidade que a coisa fluía de um jeito gracioso, dando-nos a oportunidade de consumir cada linha de texto do lendário dramaturgo com um prazer de quem degusta um bom whisky ou vinho. Outro detalhe fundamental do filme foi a belíssima fotografia de Adam Arkapaw, onde as locações na Escócia e Inglaterra ajudaram, e muito! Foi um verdadeiro deleite para os olhos. Assim, podemos dizer que, com esses interessantes elementos, essa nova adaptação de Shakespeare acabou não sendo um tiro pela culatra, pois trouxe elementos inovadores e revigorantes.
Entretanto, talvez não devamos enxergar novas leituras de Shakespeare somente pelo espectro da inovação. Revisitar seus textos é sempre algo muito importante, já que o dramaturgo era um crítico ácido do Antigo Regime e do Absolutismo, com seu texto altamente refinado, sendo uma espécie de punhalada em cheio nos corações dessas antigas instituições. Senão, vejamos. As obras de Shakespeare têm uma tônica onde disputas violentas pelo poder sempre trazem caos e destruição. E em “Macbeth”, não é diferente. Nosso protagonista é um nobre que presta serviços relevantes ao Rei da Escócia, combatendo dissidentes do reino. Depois de uma batalha, ele vislumbra três bruxas que fazem uma série de profecias sobre seu futuro. Ambicionando tomar o reino para si, Macbeth busca a maquinação de táticas que confirmem ou desmintam as profecias ao seu bel-prazer, numa mostra de que Shakespeare também criticava a superstição de toda uma religiosidade envolvida nessas antigas instituições, ou seja, as profecias das bruxas traziam maus agouros. Mas Macbeth ainda tem uma moral implícita que o impede de agir de forma mais torpe. Para colocar Macbeth nos trilhos da ambição desmedida, temos Lady Macbeth, que o leva a cometer maus atos. Macbeth consegue o trono, mas o poder absoluto traz consigo a angústia e o medo de perdê-lo. E nosso protagonista não aguenta a pressão, pirando na batatinha e chutando para escanteio uma das maiores virtudes que um rei absolutista deve ter: a prudência. Macbeth, então, age de forma impulsiva e tirânica, sem medir as consequências de seus atos, com o intuito de proteger o seu poder, mas suas atitudes não só vão na contramão da manutenção de seu poder como atentam contra sua própria vida. O desfecho, obviamente, será trágico, como em várias das peças de Shakespeare, numa prova de que tal regime político absolutista é inviável, pois até quem o exerce está sujeito ao mal que ele provoca. Assim, relembrar Shakespeare é relembrar o estrago que um regime autoritário pode fazer na vida das pessoas e é sempre uma forma de alerta para que erros do passado não se repitam.

Por essas e por outras, “Macbeth: Ambição e Guerra” é mais uma película que merece a nossa atenção e, por que não dizer, foi um baita presentão de natal. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema para conferir.

Cartaz do filme

Macbeth, espremido entre as ambições de seu tempo...

A guerra por seu rei. 

Uma esposa que o desvirtua

Um rei a ser derrubado...

Ele consegue ser rei...

Mas a pressão do poder é enlouquecedora...

Um rei surtado...

Filme tem fotografia impecável!!!

Nos festivais e coletivas...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - O Clã.

O Clã. Família Trapo.
O cinema argentino nos brinda com mais um bom filme. “O Clã”, dirigido por Pablo Tapero, o mesmo de “Elefante Branco”, que ganhou o Leão de Prata em Veneza esse ano, e que têm entre os seus produtores, Pedro e Agustin Almodóvar, traz mais uma vez uma boa história contada na balada do passado recente de nosso vizinho. E, quando o cinema argentino costuma revolver o passado de seu país, o resultado é muito bom. Esse novo filme é baseado numa história real da família Puccio, que na década de 1980 cometeu vários sequestros e assassinatos, abalando a sociedade argentina. Essa família era ironicamente liderada por Arquimedes Puccio (interpretado pelo grande ator Guillermo Francella), um agente do serviço de inteligência que, durante a ditadura, trabalhava na repressão. Mas veio o governo de Raul Alfonsín e a redemocratização, e as pessoas como Arquimedes deveriam, digamos, sair de circulação até que a poeira abaixasse. Entretanto, o que o nosso estimado Arquimedes faria para sobreviver nesse meio tempo? Óbvio! O mesmo que ele fazia no seu emprego anterior: sequestros! Só que agora a motivação não era mais política, mas sim era “la plata”. E tudo isso acobertado pelos militares argentinos. O problema é que toda a família de Arquimedes ficava envolvida, já que o cativeiro de seus reféns era no aconchego de seu lar. Um dos filhos de Arquimedes, Alejandro (interpretado por Peter Lanzani) se envolvia diretamente nas tramoias e nunca gostou muito disso, já que tinha uma carreira promissora como jogador de rúgbi. E, com esses dados já dá para perceber como a trama é rica e como existem vários dramas de consciência envolvidos, onde alguns membros da família aceitavam passivamente os negócios do papai, mas outros nem tanto.
É uma película que se apoia enormemente na atuação dos atores, sobretudo a de Francella, que dá um show. Se todo mundo pensava que o cinema argentino era só Ricardo Darín, os cinéfilos de plantão também devem dar atenção a esse grande ator que inclusive já contracenou com Darín. Francella deu a Arquimedes um olhar fixo, frio, calculista e penetrante, que lhe rendeu um grande carisma sem falar uma palavra sequer nessas tomadas. Igualmente fria era a sua interpretação na hora de negociar os sequestros ao telefone, onde ele dava instruções pausadamente sem levantar ou embargar a voz. Outro que esteve muito bem foi Peter Lanzani, o filho Alejandro que, se no início ainda aceitava passivamente todas as condutas do pai, com o tempo foi questionando-as até entrar em conflitos violentos com Arquimedes.
Um detalhe curioso está na capacidade que os argentinos têm de sempre politizar o contexto envolvido na película. Mesmo que a intenção dos sequestros praticados por Arquimedes seja o dinheiro, ainda assim aparecia uma ou outra situação em que o sequestrado tinha alguma relação com um ou outro ricaço que tinha ajudado a ferrar o país economicamente de alguma forma (ah, os malfadados tempos em que o FMI abalava as estruturas econômicas de nosso combalido continente!). Ou seja, havia um leve discurso que esboçava uma legitimação do sequestro, mas que era logo pulverizado pelos maus tratos que a vítima sofria no cativeiro, num exercício de recordação de que tal procedimento não acabaria com as mazelas sociais do país e era altamente repugnante, pois membros da ditadura o haviam usado para manter sua coerção e autoritarismo.

Dessa forma “O Clã” é mais um interessante filme argentino que resgata uma ferida aberta no passado recente do país, tem uma atuação soberba de Guillermo Francella e, ainda por cima, nos faz refletir sobre o quanto é hediondo e degradante um tipo de crime como esse, ainda mais quando você obriga toda a sua família a ser sua cúmplice. Vale mais uma vez a pena dar uma chegadinha ao cinema para conferir essa interessante história.

Cartaz do filme

Uma família respeitosa...

Uma família tradicional...

Um pai e um filho...

Tirando dúvidas do dever de matemática...

Um olhar penetrante, frio e calculista...

Pablo Trapero e Guillermo Francella.

O verdadeiro Arquimedes Puccio.

A verdadeira família Puccio...

Em Veneza...





quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Victor Frankenstein

Victor Frankenstein. Mais Uma Releitura.
Mais uma releitura de um clássico da literatura. “Victor Frankenstein” novamente mexe com o mito da criação. Só que, agora, a criatura assume uma posição mais periférica na trama. A história é centrada em Igor, aquele carinha esquisito que é o assistente do Dr. Victor Frankenstein. Os atores que interpretaram os protagonistas foram escolhidos a dedo. Daniel Radcliffe (o amado Harry Potter) interpretou o papel de Igor e James McAvoy (o jovem Charles Xavier de “X-Men”) interpretou o papel do Dr.Victor Frankenstein.
Mas, como se desenvolveu a trama? O pobre do Igor vivia num circo. Ele era corcunda e trabalhava como palhaço, sendo maltratado por todos. O pobre coitado era apaixonado pela trapezista, Lorelei (interpretada por Jessica Brown Findlay) que sofreu um acidente e foi salva pelo corcunda, que estudava medicina como um hobby. Nesse acidente, ele conheceu Victor Frankenstein, que o tirou do circo, depois de muita resistência dos donos do estabelecimento e da morte de um deles. Após escapar do picadeiro, Frankenstein deu uma “recauchutada” em Igor, “curando” sua corcunda (na verdade, era água acumulada nas costas) e uma nova vida para o ex-palhaço. Com o tempo, Igor descobriu que Frankenstein era louquinho de pedra e que ele tinha um projeto ambicioso: trazer as pessoas mortas à vida e, criar um ser vivo a partir de pedaços de corpos mortos montados em um novo corpo. Apesar de uma certa relutância, Igor aceitou a empreitada e a porralouquice de seu protetor. Mas os dois não teriam sossego, pois o inspetor Turpin (interpretado por Andrew Scott) investigaria o imbróglio do circo e perceberia os planos do cientista, tentando evitá-los à todo custo.
Essa nova leitura de Frankenstein do ponto de vista do lacaio do cientista traz alguns elementos interessantes. Com relação a interpretação dos atores, destacamos James McAvoy, que fez um enlouquecido Victor Frankenstein, cheio de trejeitos e risadas insanas. Daniel Radcliffe, por sua vez, fazia um angustiado Igor, mas ficou à sombra de McAvoy. Outro que se destacou foi Andrew Scott, fazendo uma interpretação contida que chegou às explosões emocionais no momento certo.
Um ponto que merece ser citado foi uma nova leitura do velho discurso da história de Mary Shelley: a questão do homem brincar de ser Deus. O que aparece de novo na história (pelo menos nas versões cinematográficas) é um ateísmo latente e declarado de Frankenstein contra uma religiosidade fanática do inspetor Turpin. Victor acha a crença religiosa uma estreiteza de visão, sendo verdadeiros criadores o intelecto e a perseverança humana. Já Turpin vê as pretensões de Victor como uma blasfêmia digna de ser condenada ao inferno. Aliás, essa era a visão de Turpin à respeito da criatura: a de uma possessão demoníaca. É curioso notar que a morte rondava os dois personagens e cada um reagia a ela da sua maneira específica, de acordo com suas visões de mundo.
O desfecho do filme foi alterado, mas ficou em aberto para dar margem à novas perspectivas. Só é de se lamentar tão pouco espaço dado à criatura, colocada de forma totalmente selvagem, um reles defeito de fabricação desumanizado. Mas, desta vez o foco estava em outros personagens. Se bem que a criatura poderia ter interagido um pouco mais com os seus criadores.

Dessa forma, “Victor Frankenstein”, se não é uma película que empolga muito, ainda assim é uma releitura de um grande clássico da literatura já explorado muito pelo cinema, contado do ponto de vista de Igor, o sofrido assistente de Frankenstein e que reavalia o batido “Mito de Frankenstein” do ponto de vista do embate dicotômico entre ciência e religião. Vá, reflita, mas não espere muito.

Cartaz do filme

Igor, uma criatura para lá de sofrida...

Igor, depois de uma recauchutada...

Victor Frankenstein, louquinho de pedra...

Uma união macabra...

Ressuscitando filés...

Experiências mal sucedidas...

Eletricidade para tudo o que é lado...

Criador e criatura... 

Nas filmagens...