domingo, 27 de dezembro de 2015

Resenha de Filme - Macbeth: Ambição e Guerra

Macbeth: Ambição E Guerra. Responsabilidade Redobrada.
Quando se adapta para o cinema alguma obra já consagrada, a responsabilidade aumenta. William Shakespeare já foi várias vezes passado para a grande telona. Como um exemplo, as adaptações feitas por Orson Welles, antológicas para quem as assistiu. E aí, quando se retoma tal empreitada, fica a pergunta impossível de não ser feita: ah, uma peça de Shakespeare já foi encenada inúmeras vezes no cinema! Para que fazer de novo? O que essa nova adaptação vai trazer de diferente?
Pois é. Quem assumiu o risco dessa vez foi o diretor Justin Kurzel, que, pode-se dizer, fez um excelente trabalho, a começar pela escolha do elenco. Michael Fassbender (o Magneto de “X-Men, Primeira Classe”, foi o protagonista, com Lady Macbeth interpretada pela bela e eficiente Marion Cotillard (que ganhou o Oscar de melhor atriz em “Piaf: Um Hino Ao Amor” em 2008). Deu gosto ver os dois contracenando juntos, recitando as belas pérolas literárias escritas por Shakespeare, sem ficar algo forçado ou piegas. Apesar de uma linguagem até certo ponto rebuscada para os padrões atuais, os dois atores as interpretavam com tamanha espontaneidade que a coisa fluía de um jeito gracioso, dando-nos a oportunidade de consumir cada linha de texto do lendário dramaturgo com um prazer de quem degusta um bom whisky ou vinho. Outro detalhe fundamental do filme foi a belíssima fotografia de Adam Arkapaw, onde as locações na Escócia e Inglaterra ajudaram, e muito! Foi um verdadeiro deleite para os olhos. Assim, podemos dizer que, com esses interessantes elementos, essa nova adaptação de Shakespeare acabou não sendo um tiro pela culatra, pois trouxe elementos inovadores e revigorantes.
Entretanto, talvez não devamos enxergar novas leituras de Shakespeare somente pelo espectro da inovação. Revisitar seus textos é sempre algo muito importante, já que o dramaturgo era um crítico ácido do Antigo Regime e do Absolutismo, com seu texto altamente refinado, sendo uma espécie de punhalada em cheio nos corações dessas antigas instituições. Senão, vejamos. As obras de Shakespeare têm uma tônica onde disputas violentas pelo poder sempre trazem caos e destruição. E em “Macbeth”, não é diferente. Nosso protagonista é um nobre que presta serviços relevantes ao Rei da Escócia, combatendo dissidentes do reino. Depois de uma batalha, ele vislumbra três bruxas que fazem uma série de profecias sobre seu futuro. Ambicionando tomar o reino para si, Macbeth busca a maquinação de táticas que confirmem ou desmintam as profecias ao seu bel-prazer, numa mostra de que Shakespeare também criticava a superstição de toda uma religiosidade envolvida nessas antigas instituições, ou seja, as profecias das bruxas traziam maus agouros. Mas Macbeth ainda tem uma moral implícita que o impede de agir de forma mais torpe. Para colocar Macbeth nos trilhos da ambição desmedida, temos Lady Macbeth, que o leva a cometer maus atos. Macbeth consegue o trono, mas o poder absoluto traz consigo a angústia e o medo de perdê-lo. E nosso protagonista não aguenta a pressão, pirando na batatinha e chutando para escanteio uma das maiores virtudes que um rei absolutista deve ter: a prudência. Macbeth, então, age de forma impulsiva e tirânica, sem medir as consequências de seus atos, com o intuito de proteger o seu poder, mas suas atitudes não só vão na contramão da manutenção de seu poder como atentam contra sua própria vida. O desfecho, obviamente, será trágico, como em várias das peças de Shakespeare, numa prova de que tal regime político absolutista é inviável, pois até quem o exerce está sujeito ao mal que ele provoca. Assim, relembrar Shakespeare é relembrar o estrago que um regime autoritário pode fazer na vida das pessoas e é sempre uma forma de alerta para que erros do passado não se repitam.

Por essas e por outras, “Macbeth: Ambição e Guerra” é mais uma película que merece a nossa atenção e, por que não dizer, foi um baita presentão de natal. Vale a pena dar uma chegadinha ao cinema para conferir.

Cartaz do filme

Macbeth, espremido entre as ambições de seu tempo...

A guerra por seu rei. 

Uma esposa que o desvirtua

Um rei a ser derrubado...

Ele consegue ser rei...

Mas a pressão do poder é enlouquecedora...

Um rei surtado...

Filme tem fotografia impecável!!!

Nos festivais e coletivas...

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