terça-feira, 15 de setembro de 2015

Resenha de Filme - Jia Zhangke, Um Homem De Fenyang.

Jia Zhangke, Um Homem De Fenyang. Mais Uma Obra Prima de Walter Salles.
Walter Salles está de volta. O consagrado diretor de “Central do Brasil” mostra mais uma vez que não é cineasta de um filme só e nos traz dessa vez o bom documentário “Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang”. O filme mostra a trajetória do cineasta do norte da China, Jia Zhangke, considerado um dos melhores do país. Podemos ver aqui Jia visitando sua cidade natal, reencontrando seus amigos de infância e adolescência, atores com os quais ele trabalhou e, principalmente, falando em seu dialeto local, diferente do chinês mandarim, a língua oficial do país. Alguns de seus filmes são feitos com esse dialeto, algo que Jia faz questão pois, para ele, os sotaques e idiomas locais desapareceram do cinema chinês depois da revolução socialista de 1949, que padronizou o idioma e o sotaque (“todo mundo parecia que falava como locutor de rádio”, nas palavras do cineasta). Seus filmes iam contra os dogmas chineses da revolução cultural. É possível ver música pop em seus filmes, assim como referências a filmes indianos que tinham como protagonistas pessoas à margem da lei. O cineasta, quando jovem, cantava uma música de um desses filmes indianos, que falava da vida dos malandros, quando foi severamente reprimido por seu professor. Anos depois, essa mesma música e filme aparecem em uma de suas películas. Obviamente, Jia teve problemas com o governo chinês e a sua censura. Ele, inclusive cogitou abandonar a carreira. Mas a levou adiante. Aliás, os anos de opressão do regime comunista afetaram o cineasta muito mais do que se pode imaginar, sobretudo quando ele se recorda da figura do pai, que tinha sofrido repressões durante a Revolução Cultural e destruiu um diário particular com medo de represálias. Jia exibiu um de seus filmes ao pai, que o alertou que seu filme seria considerado subversivo e anticomunista durante a Revolução Cultural. Para Jia, seu pai sempre teve poucos momentos de felicidade em virtude da repressão. Com a chegada do capitalismo e de uma certa distensão, seu pai se tornou uma pessoa um pouco mais alegre. Mas aí veio o câncer... e a morte. Jia se lembra de tudo isso com muita dor no coração. Quanto à chegada do capitalismo, Jia não vê o sistema econômico ocidental como uma panaceia para os problemas chineses. Jia se preocupou em verificar como o operariado chinês seria afetado pela transição entre uma economia planificada socialista e a economia de mercado capitalista. A desativação das fábricas em virtude da forte especulação imobiliária piorou demais as condições de vida dos trabalhadores, que tinham seus destinos muito atrelados à vida das fábricas, agora extintas. Em outro documentário, ele retratou a tragédia que foi a construção de uma barragem que alagaria permanentemente cidades que tiveram que ser destruídas inteiras à marreta em tempo recorde.

Dessa forma, “Jia Zhangke, Um Homem De Fenyang” é mais um trabalho colossal de Walter Salles. Um cineasta que fala de outro cineasta. Cinema radiografado pelo próprio cinema. Radiografia feita com altas doses de carinho e uma pitadinha de paixão, mergulhando no humano e íntimo de um fazedor de filmes de uma cultura tão variada e distante da nossa. Um filme que vale a pena ter e guardar. 

Cartaz do filme


Jia (atrás da panela). Retorno às origens.

Repressão chinesa. Momentos difíceis.

Com um ator que fez vários de seus filmes


Com a mãe e a irmã...

Nas filmagens...

Nosso grande cineasta e Jia

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