segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Resenha de Filme - O Homem Irracional.

O Homem Irracional. Woody Allen Em Filosofia E Suspense.
Woody Allen cumpre seu cronograma particular de uma média de um filme por ano e reaparece com a película intitulada “O Homem Irracional”, estrelada por Joaquin Phoenix e Emma Stone. E Allen nos traz uma história altamente reflexiva, como ele sempre está acostumado a fazer. Mas sempre com um enredo altamente original e instigante, numa prova de que a sua capacidade de contar histórias é mais infinita do que nunca.
Vemos aqui a história de Abe Lucas (interpretado por Joaquin Phoenix), um professor de filosofia que vai lecionar na Universidade de uma pequena cidade americana. A personalidade de Abe é extremamente sombria e depressiva, onde ele não vê mais qualquer sentido na vida e nos textos que lê ou escreve. A visão de mundo soturna do novo professor vai despertar muita curiosidade na comunidade acadêmica, especialmente na professora Rita (Parker Posey), uma ninfomaníaca às portas da meia idade e da jovem aluna Jill (interpretada por Emma Stone) que, ao mesmo tempo em que se apaixona por ele, admira sua inteligência e vê com muita curiosidade as opiniões do professor. Mas Abe não se emenda e continua em sua trajetória melancólica. Até que um dia, quando está com Jill num restaurante, Abe escuta junto com a moça uma conversa de um grupo de amigos na mesa ao lado. Essa conversa (que não será dita aqui em virtude dos “spoilers”) vai despertar uma chama de vida em Abe, mas da forma mais esdrúxula e contraditória possível. O professor de filosofia agora tem um novo objetivo na vida e ele vai se sentir revigorado, a ponto de levar um caso com a professora e a aluna simultaneamente. Mas o objetivo que o professor tem a cumprir (e cumprirá) vai lhe trazer muitas dores de cabeça e a tomada de atitudes bem drásticas, levando a um desfecho surpreendente.
Esse novo filme de Woody Allen não prima muito pelo humor. Os poucos lampejos de riso na história foram mais em virtude de um humor negro. Temos aqui uma trama onde o gênero suspense mostra um pouco mais a sua cara, principalmente na segunda metade da película. Mas não sem se levar a discussões filosóficas. Abe criticava os filósofos como Kant, que dizia que um mundo ideal não deveria ter mentiras. Mas você denunciaria onde estava escondida a família de Anne Frank se os nazistas te perguntassem? Essa é uma questão filosófica instigante onde Abe argumentava que um mundo fantasioso no qual os filósofos forjavam seus pensamentos era bem diferente do mundo real. E aí, para Abe, como professor de filosofia, essa percepção de um mundo abstrato das teorias filosóficas em contrapartida ao mundo real era o que o colocava em crise existencial. Ao escutar a conversa na mesa vizinha do bar, Abe criou para si um objetivo de vida bem mais pragmático que os devaneios filosóficos, mas tal objetivo implicava numa séria questão moral, questão essa que colocou seu relacionamento com Jill em crise. Será que um excesso de pragmatismo sem os freios filosóficos e morais de um mundo abstrato também não é algo nocivo? É essa a reflexão que a história quer propor. Mas tudo isso com um fio de suspense, um quê de romance policial numa película que começou com discussões filosóficas, passou pelo drama e chegou ao suspense do final. A capacidade de Allen de transitar pelos gêneros sem deixar de colocar questões altamente reflexivas e que não têm uma resposta única é realmente impressionante.

Dessa forma, podemos dizer novamente que um filme de Allen estreando é um programa obrigatório, pois é garantia certa de genialidade do roteiro. Você realmente deve parar tudo o que está fazendo ou reprogramar sua agenda de filmes a serem vistos para encaixar o novo Allen nos seus planos. Se Emma Stone é a nova queridinha do diretor, vamos ver se Joaquim Phoenix entra no clube e aparece nos próximos filmes de Allen, assim como já aconteceu com outros atores como Scarlet Johanson ou Alec Baldwyn. O mais importante é prestigiar mais essa nova e boa produção desse inesgotável diretor e roteirista americano. 

Cartaz do filme

Abe, um professor que não mais vê sentido na vida e filosofia

Aulas de filosofia. Questões vazias...

Abe desperta a curiosidade de Rita...

...e Jill.

Uma conversa no restaurante transformou a vida de Abe,

Corpos deformados na sala dos espelhos de um parque de diversões. Prenúncios de crise de relacionamento???

Nas filmagens, com Allen.

Allen com Stone e Posey em Cannes. Ele sempre se sentiu muito desconfortável nisso...


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