sexta-feira, 27 de março de 2015

Resenha de Filme - Insurgente

Insurgente. A Continuação De Uma Guerra Anunciada.
E chegamos à continuação da série “Divergente”. O filme “Insurgente” mostrará a guerra entre a facção erudita, que havia tomado o poder da facção dos abnegados e um grupo de revoltosos que inclui divergentes e os sem facção. Só para lembrarmos, no futuro a humanidade havia sido dividida em cinco facções, cada uma com sua função específica: os eruditos, os abnegados, os amigos, os sinceros e os audazes. O poder estava nas mãos dos abnegados, altruístas por excelência, preocupados em ajudar as pessoas, servindo-as como funcionários públicos. Desde já fica claro que os abnegados são a alegoria do regime democrático. Os eruditos são homens de ciência, preocupados em desenvolver as tecnologias. Os sinceros defendem a verdade e as leis. Os amigos defendem a fraternidade entre as pessoas e os audazes são os corajosos que exercem a função de polícia. Os eruditos tomaram o poder dos abnegados usando os audazes que foram sugestionados por substâncias químicas introjetadas neles pelos eruditos a tomar o poder com violência. Os divergentes são uma pedra no caminho da líder dos eruditos, Jeanine (interpretada por Kate Winslet), pois possuem vontade própria e não podem ser dominados. Nossa protagonista é Tris (interpretada por Shailene Woodley), que é 100% divergente. Há uma caixa deixada pelos antepassados humanos que criaram essas cinco facções, cujo conteúdo explicaria qual seria o melhor rumo que a humanidade deveria tomar. Os antepassados cercaram as cinco facções com um muro intransponível por 200 anos. A caixa tinha cinco lados, com cada lado tendo a marca de uma facção e ela só seria aberta se um divergente conseguisse passar por simulações de computador que espelhavam situações de todas as cinco facções. Na busca pela mensagem da caixa, Jeanine, com seu sonho de um futuro melhor, caçava divergentes para passar pelas simulações que levavam muitos deles à morte. Somente Tris, uma divergente 100%, sobreviveria às cinco simulações. Assim, os eruditos reprimiam com violência a aliança insurgente criada entre os divergentes e os sem-facção e, ao mesmo tempo, buscavam o divergente ideal para fazer as simulações e descobrir o segredo contido na caixa. E a aliança insurgente buscava arregimentar as facções para o seu lado.
Ufa, pode parecer algo enrolado, mas isso é o menos importante, já que esses filmes inspirados em best-sellers adolescentes estão mais preocupados com cenas de ação, tiroteios, pancadarias e efeitos especiais. Esse segundo filme pareceu menos empolgante que o primeiro, onde víamos toda a cosmogonia da coisa, a construção da trama. Nessa sequência, vemos mais as cenas de luta e de ação. De qualquer forma, ainda é inquietante ver os eruditos, os detentores do grande conhecimento científico, como os vilões da história, nos remetendo a uma herança positivista. O elenco também ficou mais restrito às carinhas novas. Ashley Judd, a mãe de Tris, teve apenas uma pequena participação. Kate Winslet estava magnífica mais uma vez, interpretando uma boa vilã. Naomi Watts fez a líder dos sem-facção, sendo também a mãe da paixão de Tris, Quatro (interpretado por Theo James). Ansel Elgort faz o irmão de Tris, Caleb, um erudito que passou para o lado de Jeanine (seria culpa das estrelas?). Coube à Shailene Woodley tomar as rédeas da trama, mas ela ainda está em início de carreira sendo, na minha opinião, um fardo muito grande em carregar todo esse filme nas costas. Creio que um ator medalhão mais velho entre os insurgentes ajudaria um pouco mais a história. Octavia Spencer trabalhou como líder dos abnegados, mas muito pouco.
A trama da série “Divergente” não é algo original, pois a história bebe em várias fontes. A primeira delas é a noção de estado autoritário que reprime totalmente a individualidade das pessoas, sendo o estado nazista talvez um dos melhores exemplos. A divisão da sociedade em facções com funções estritamente definidas remete a esse estado autoritário, presente de certa forma, desde “A República”, de Platão, passando pelas sociedades de Antigo Regime, indo até as ditaduras com culto à personalidade do século XX. A repulsa à vontade individual fica clara no discurso de Jeanine, que a culpa pela provocação da guerra. Assim, a sociedade de facções é uma “nova sociedade” platônica, onde cada indivíduo cumpre sua função. O discurso de um Estado autoritário que deve reprimir a ambição e vontade humanas também é visto no “Leviatã”, de Thomas Hobbes, um dos teóricos do absolutismo. Quanto às facções propriamente ditas, já mencionamos que os abnegados são a alegoria da democracia. Quanto aos audazes, fica bem clara a sua posição militarista, altamente sedutora (Tris admirava os audazes desde pequena!), como eram as sociedades fascistas que atraíam a população com seu discurso ultranacionalista e vigoroso no que se tange ao uso de força bruta para resolver situações de crise. Os eruditos, por sua vez, têm também um quê autoritário que remete a uma ideologia positivista, que prega a ideia de que os mais capacitados intelectualmente devem assumir os governos, evitando que pessoas ignorantes do povo assumam altos cargos. Como a democracia possibilita que qualquer pessoa possa subir ao poder, os positivistas têm uma pecha altamente antidemocrática.

Apesar de ser menos interessante que “Divergente”, “Insurgente” prende a atenção e é um entretenimento razoável, dando um gancho para a continuação. Mas parece que a história meio que esgotou o fôlego. Nesse quesito, o “meio-irmão” de “Divergente”, “Jogos Vorazes”, tem mais força, pois já vai para o quarto filme e tem uma trama mais vibrante. Realmente o fim de cada filme nos deixa com vontade de ver o próximo. Mas vamos esperar a sequência da série “Divergente” para podermos avaliar melhor. Por ora, deem uma conferida em “Insurgente” para não perderem o fio da meada...

Cartaz do filme


Tris, uma divergente 100%. Essa não concorda com ninguém!!!


Quatro, achacado por um audaz, é o braço direito de Tris e algo mais...


Jeanine não medirá esforços em sua busca por um "mundo melhor".


Tris e as simulações.


Caleb, do lado de Jeanine. Culpa das estrelas???




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