quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Resenha de Filme - O Ciúme

O Ciúme. Choque De Realidade.
Um filme francês em bom preto e branco, o que quase sempre é garantia de uma boa fotografia. Um tema que é 0% de fantasia e 100% de realidade. Uma cadência lenta e angustiante. Essas são as impressões de “O Ciúme”, película francesa dirigida por Philippe Garrel. Um filme que dói na alma, pela sua crueza e falta de qualquer perspectiva.
Vemos aqui a história de Louis (interpretado por Louis Garrel), um ator de teatro que abandona a esposa Clothilde (interpretada por Rebecca Convenant) para viver com outra mulher, Claudia (interpretada por Anna Mouglalis). Louis tem uma filhinha que vive com Clothilde, que não é a sua mãe biológica. Claudia está completamente sem perspectiva, morando de favor no pequeno apartamento de Louis, e não aguenta viver no pequeno imóvel. Até que ela conhece um arquiteto que lhe dá um apartamento maior e abandona Louis que, desesperado, tenta o suicídio, mas não é bem sucedido. Como consequência, ele perde o papel na peça de teatro da qual fazia parte. E tudo fica por isso mesmo, com um final amargo e cheio de desilusões.
Fazendo essa rápida sinopse, parece que não há muito o que dizer sobre essa película, exceto pelo fato de ela contar uma história altamente deprimente. Mas é justamente nisso que se deve prender a atenção. A crueza dessa história é um típico caso de “arte que imita a vida”, onde tomamos um verdadeiro choque de realidade. Relacionamentos amorosos onde caímos de cabeça, apostando todas as nossas fichas e que, de repente, acabam, onde ficamos num vazio total, desamparados, deprimidos e desgostosos, chegando a gestos desesperados como a tentativa de suicídio de Louis. Essa sensibilidade do personagem protagonista é inclusive alvo de chacota dos próprios amigos de Louis, onde o rapaz é chamado por eles de “Werther”, numa alusão a um personagem de Goethe que se suicida por causa de uma desilusão amorosa (reza a lenda, inclusive, que o texto de “Os Sofrimentos do Jovem Werther” teria como inspiração uma própria desilusão amorosa de Goethe; esse livrinho é encontrado nas bancas de jornal afora para quem se interessar). A personagem Claudia também é vítima de um sofrimento, pois para estar perto de seu amor, ela precisa viver num ambiente que é um verdadeiro tormento para ela, que é o pequeno apartamento de Louis. Clothilde é mais uma vítima da desilusão amorosa, abandonada por Louis e que ainda precisa criar a filha do homem que a abandonou em sua casa, sendo esse o último resquício de Louis por lá, onde Clothilde deposita todo o seu afeto, mas que é simultaneamente um tormento para ela, pois a menina faz Louis retornar frequentemente à lembrança de Clothilde.
Finais felizes? Quando a arte imita a vida em dramas geralmente essa expressão passa muito longe. Todos os personagens do filme ficam com uma tremenda cara de bunda ao final da exibição, sentimento também compartilhado pelos espectadores. O medo venceu definitivamente a esperança, parafraseando aquele antigo jargão político.

Portanto, “O Ciúme” vai na contramão das comédias românticas. Ao invés de você sair com a cabeça levinha da sala de cinema, você lembra que o mundo real e todos os problemas de afetividade te espreitam lá fora. Impossível você, que obviamente já sofreu uma desilusão amorosa, não se identificar com os personagens do filme. Compartilhamos todo o seu sofrimento. E, pelo menos, vemos que não estamos sozinhos, justamente quando nos sentimos mais sozinhos.

Cartaz do filme.


 
Louis e Claudia. Amor conturbado.


Louis e filha. Acostumada com as peripécias amorosas do pai.


Clothilde. Lembrança de Louis numa filha que nem é dela.

Desilusões deixam personagens com cara de bunda. Vida real...

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