segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Resenha de Filme - Um Belo Domingo

Um Belo Domingo. A Saga Do Professor Maluquinho.
Curiosa essa produção francesa de 2013, “Um Belo Domingo”. Um filme que inicialmente parecia um pequeno romance água com açúcar, vai se revelar uma radiografia  pregressa da vida do protagonista. Acaba virando a história de amor de um personagem só.
Vemos aqui a trajetória de Baptiste (interpretado por Pierre Rochefort), um professor assistente que pula de cidade em cidade, nunca parando definitivamente em algum lugar ou emprego. Numa sexta-feira, ao fim do expediente, um de seus alunos não foi levado para casa. Baptiste levará então o menino até a casa de seu pai, que havia esquecido o garoto e estava de viagem marcada. O professor vai se oferecer para passar o fim de semana com o menino, que o convence de ir ver a mãe, Sandra (interpretada por Louise Bourgoin), que trabalha como garçonete num restaurante à beira da praia. Os três irão passar o fim de semana juntos e Baptiste descobre que a moça tem dívidas e sofre ameaças. O professor buscará ajudar Sandra, procurando a família dele, de quem estava afastado há muito tempo, para arrumar o dinheiro necessário. O problema será justamente esse seu retorno à família, pois a relação de Baptiste com seus parentes foi muito conflituosa no passado.
Pode-se dizer, então, que o filme é dividido em duas partes bem nítidas. A primeira é a construção do romance, da história de amor entre Baptiste e Sandra. Olhares, aproximações e beijos. Mas sempre mostrando o personagem de Baptiste de forma enigmática. O professor é muito introspectivo e calado, tal como se essas características fossem um presságio do que seria a segunda parte do filme: a elucidação do passado de Baptiste ao aproximar-se de sua família. Aqui, a trama toma contornos de um drama familiar tenso, onde a chave do conflito estava na não aceitação mútua das formas de ser tanto de Baptiste quanto da família. O professor não aceitava que a família lhe impusesse suas vontades e expectativas. Por serem muito ricos e com carreiras consolidadas, os familiares de Baptiste esperavam que ele fizesse o mesmo. Mas isso não ocorreu, o que levou a consequências trágicas e a um forte clima de ressentimento entre ambas as partes, muito difícil de se superar.
Apesar de um desfecho cheio de esperança, “Um Belo Domingo” tem como núcleo central a ideia de que, às vezes, para você recomeçar, ir para a frente e empreender uma nova vida, é necessário ajustar contas com o passado. Como dizia o sábio João Saldanha, “ninguém é filho de chocadeira”. Mesmo que você tenha rompido com o seu passado, volta e meia você precisa encará-lo mais uma vez, para verificar se ainda existe ou não uma chance de reconciliação com o que foi deixado para trás. E, mesmo que sua certeza seja a de um rompimento total, nunca se sabe o homem que você será no futuro, como um dos irmãos de Baptiste salientou. O sonhador rompe com os grilhões do dinheiro, abre mão de uma herança e de uma vida confortável, para levar o conhecimento a quem não o tem. Alguns acham tal atitude louvável, outros diriam que é o caso para a internação num hospício...

O filme valoriza a mensagem romântica, a receita de um sonho heroico e utópico, enfatizando a natureza sensível e delicada do personagem Baptiste, já exausto de tantos sofrimentos em vida. Mas devo confessar que uns eurozinhos na conta bancária não fazem mal a ninguém e dá até para sonhar mais alto. Nosso Baptiste até podia montar uma escolinha só para ele lecionar. De qualquer forma, vamos valorizar a mensagem romântica e utópica do filme. Definitivamente, o cinema é a arte da ilusão.


Cartaz do filme.


Baptiste e Sandra. Encontro na praia.


Surge um clima de romance.


Baptiste, introspectivo, terá que encarar o seu passado pelo amor de Sandra


O relacionamento com a família não será fácil

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