quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Resenha de Filme - A Pedra de Paciência

A Pedra De Paciência. A Vida De Uma Mulher Afegã Como Livro Aberto.
Uma produção francesa abordando a questão do Oriente Médio. Algo um tanto recorrente, mas desta vez temos uma história de ficção onde, digamos, se pode “viajar mais na maionese”, com uma visão um tanto ocidentalizada e estereotipada, embora sempre dentro de boas intenções com o universo feminino muçulmano, é claro. “A Pedra de Paciência”, do já longínquo ano de 2012, toma como terreno de atuação o Afeganistão mergulhado em guerra civil, onde as partes em combate não são muito claras. O talibã não é mencionado explicitamente, mas somos induzidos pelo filme a perceber o inimigo com essa configuração.
A história fala de um casal cujo bairro em que moram é o front da guerra civil em que seu país está mergulhado. O marido (interpretado por Hamid Djavadan) está numa espécie de coma depois que tomou um tiro no pescoço por causa de uma briga. Sua esposa (interpretada pela belíssima Golshifteh Farahani, como as mulheres do Oriente Médio são lindas, meu Deus do Céu!) vive a sina de cuidar do cônjuge em estado vegetativo em meio a bombardeios, rajadas de metralhadora e a ameaça constante de invasão dos soldados inimigos a sua casa. Depois de um ataque onde seus vizinhos são dizimados, a moça decide fugir para a casa da tia, uma mulher extremamente avançada para os padrões muçulmanos, que dirige um... prostíbulo!!! Isso realmente é algo muito difícil de imaginar nessas culturas, mas devemos nos lembrar que 1) isso é uma história de ficção; e 2) às vezes, nossas visões de mundo com relação a culturas muito distantes e diferentes correm o risco de ser muito estereotipadas. Com sua tia cafetona, nossa heroína se sente mais em paz e segura. Mas ela não abandona seu marido de todo, indo diariamente a sua casa para tomar conta dele, dando banho, colocando soro fisiológico em sua boca, etc. Em meio a essa inusitada relação, a moça começa a contar para o marido todos os seus segredos, inclusive os mais íntimos, num nível de confidência que ela não tinha quando seu esposo estava são. Aí podemos testemunhar toda uma radiografia da condição em que vive a mulher muçulmana e seus desejos reprimidos. Dentro de nossas mentes estereotipadas, algumas confissões da mulher soam impossíveis de serem realizadas mesmo com o marido inconsciente. O dilema de consciência da moça é bem presente, pois ela mesma não entende como pode estar falando aquilo tudo a seu marido e se apega a religião para se aliviar de seus supostos pecados. A mulher acabará também por ter um amante dentro dos exércitos inimigos, mas não relatarei as circunstâncias aqui para não estragar a surpresa, pois essa parte do filme é muito interessante e se relaciona com a situação social do horror da guerra lá presente.

O grande mérito do filme é dar voz a mulher muçulmana, mesmo que a ficção pareça ocidentalizar um pouco a coisa. Algumas situações e falas da esposa parecem muito inverossímeis para a nossa cabeça. Mas também essa visão um tanto inusitada da questão de gênero no Oriente Médio também pode ser vista como um bom exercício para relativizarmos os estereótipos que povoam nossa mente com relação a esse povo que tem um comportamento cultural tão diferente do nosso. Até onde o filme é irreal ou nossa mente é preconceituosa? É a pergunta que nos fazemos ao longo das situações e diálogos, ou melhor, monólogos, que vemos ao longo da trama. De qualquer forma, é um convite ótimo para uma reflexão que nos obriga a olhar para dentro de nós mesmos. E a beleza estonteante de Farahani é um ótimo convite e cartão de visitas para essa película! Vale a pena dar uma conferida.

Cartaz do Filme.


A belíssima protagonista é tudo de bom!!!


Esposa e marido. Confidências impossíveis num casamento muçulmano normal.


Abrigada no prostíbulo da tia,


o único lugar onde a moça se sente segura.


Vida de melancolia e desejos reprimidos.


Sofrendo ameaças na guerra civil.



Enfrentando as ruas e os pombos...


Desolador cenário de guerra.



Um amante? Um tanto ocidental, não?



Uma moça que só busca sobreviver.

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