terça-feira, 23 de setembro de 2014

Metrópolis no Cineclube Sci-Fi

No último sábado, foi exibido no Planetário da Gávea o filme "Metrópolis", de Fritz Lang, evento organizado pelo Conselho Jedi do Rio de Janeiro, o Cineclube Sci-Fi. Após a exibição do filme, foi feita uma palestra cujo palestrante foi esse humilde blogueiro que vos fala, que finalmente pôde pela primeira vez falar publicamente deste filme alemão tão enigmático produzido em 1925-1926. A cópia exibida foi a mais completa de que se tem notícia, com cerca de trinta minutos de material inédito encontrado numa cópia na Argentina, resultando em 95% da versão original.
Para fazer um resumo da palestra aqui, foi dito que, para entendermos um produto cultural, devemos nos inteirar do contexto histórico em que esse filme foi feito, já que a situação histórica influencia o filme. Mas, ao mesmo tempo, devemos considerar o filme não apenas como um produto de uma mentalidade coletiva, mas também perceber que o artista como indivíduo deixa suas marcas. "Metrópolis" foi produzido após uma crise inflacionária que mergulhou a Alemanha da década de 1920 numa profunda crise. Mas o Plano Dawes, de ajuda americana a Alemanha, colocou o país num período de estabilidade econômica, onde as manifestações extáticas de forte emoção do expressionismo já pareciam exageradas e ultrapassadas. Surge, então, uma arte mais conformista, que apenas descreve fatos, conhecida como "Nova Objetividade". Vimos que "Metrópolis" envereda por esse caminho conformista, exaltando a fórmula falsa da conciliação entre capital e trabalho pelo coração, equação celebrada pelos nazistas, que futuramente tomariam o poder. A exploração capitalista do filme se associaria à modernidade e tecnologia, demonizadas pelo caos trazido pela exploração e sede de revolução. Para frear esse estado de anomia, uma tradição cristã vai trazer a conciliação, onde Maria, a líder dos operários, anuncia o mediador Freder, filho do dono da cidade. A analogia entre Freder e Hitler é imediata, pois ambos buscavam conciliar tradição com modernidade. 
Mas, apesar do tom conformista e conciliador do filme, com o qual o próprio Lang não concordava, há uma forte estética expressionista, seja nos jogos de luzes e sombras, no estilo de interpretação "Schrei", nos intertítulos de exclamações curtas, nas preocupações com as alucinações (estados da alma) e com as questões sociais (surgidas após a Primeira Guerra Mundial). O cosmopolitismo do filme, com elementos das culturas africana e asiática, é outro traço da arte expressionista. 
A disposição geométrica das massas humanas é outro elemento digno de análise. Enquanto alguns autores veem nessa disposição geométrica um sinal de submissão, outros autores identificam uma vontade nessas massas em alguns momentos. 
Esses são alguns dos pontos citados na palestra ocorrida no planetário e que espelham toda a complexidade do filme e de sua época. 

Sempre é bom recordar "Metrópolis"        

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