terça-feira, 5 de agosto de 2014

Resenha de Filme - Planeta dos Macacos, O Confronto

Planeta Dos Macacos, O Confronto. Pode Ir, Que Não Tem Mico.
O grande problema de um remake é a margem que ele dá a comparações com a versão primeira e original. Muitas vezes as pessoas criticam uma história contada novamente no cinema, por não se aproximar da mesma quando foi exibida pela primeira vez. Nós já vamos com uma ideia pré-concebida do filme, já tivemos aquela experiência e nos decepcionamos quando não temos nossas expectativas correspondidas. Daí o fato de fazer um bom remake ser um ato muito difícil, que deve ser digno de aplausos quando se concretiza. E é isso que vemos no excelente filme “Planeta dos Macacos, o Confronto”, continuação do não menos excelente “Planeta dos Macacos, a Origem”. A história se pauta na decadência da espécie humana após contrair uma doença criada em laboratório que originalmente visava curar o Mal de Alzheimer e que, testada em macacos, os tornavam inteligentes e agressivos, enquanto se mostrava mortal aos seres humanos. A espécie humana estava praticamente dizimada, com poucos sobreviventes resistentes à “gripe símia”. Por outro lado, os macacos dominavam as florestas, cujo líder, César, era o mais inteligente de todos. O convívio entre humanos e macacos será algo extremamente difícil, pois os novos primatas dominadores da Terra eram cheios de ressentimentos quanto à faceta mais obscura do homem, que os confinava a jaulas e os submetia a experiências médicas, digamos, desumanas. Um estado de tensão, agressividade e beligerância permeará todo o filme.
Não mais me estenderei pela narrativa da trama para não cair na perniciosa armadilha dos spoilers. O que pode se dizer mais aqui é sobre a principal mensagem do filme. Ele é um grito de alerta contra a arrogância humana e sua sede de possibilismo infinito onde, ao brincar de Deus, o homem leva outras espécies animais ao sofrimento. É assim com cobaias de laboratório, manipulações genéticas que levam a raças animais cheias de imperfeições (vemos isso muito nos cachorros) que, inclusive, levam depois ao sacrifício das mesmas (lembram dos pit bulls?), maus tratos de toda a espécie que são de uma covardia extrema, pois o homem, dotado de raciocínio, pode provocar males imensos num animal irracional, que não consegue se defender de agressões premeditadas. O filme é mais um caso de mito de Frankenstein, onde a criatura volta-se com toda a força contra seu criador, já que os macacos têm a sua inteligência desenvolvida ao serem usados como cobaias para uma experiência humana que se revelou mal sucedida tanto para os humanos, que passaram a sofrer com a agressividade dos macacos, quanto para os próprios macacos, cujo desenvolvimento da inteligência só aumentou sua agressividade e rancor, embora houvesse exceções que confirmavam a regra, como o próprio César, Maurice e Olhos Azuis.
Outro tema bem trabalhado no filme é a questão do preconceito e da intolerância, que funcionavam numa via de mão dupla, ou seja, havia humanos preconceituosos com os macacos e vice-versa. Se alguns humanos entendiam que a doença que dizimou sua espécie fora criada em laboratório, outros entendiam que o fim de nossa raça era culpa dos macacos, hospedeiros da doença e imunes a ela, ficando com a fama de a disseminarem pelo mundo. Já dentre os macacos, o passado de César próximo aos humanos despertava o ódio de Koba, que só tinha conhecido a violência dos homens e queria varrê-los da face da Terra.

Com tantos temas polêmicos abordados, não é de se estranhar que o fio narrativo da história seja tenso e de animosidades muito instáveis. A beleza da trama reside justamente na forma em que esses momentos de tensão e intolerância se alternam com momentos de cooperação e entendimento, onde aí a palavra “humano” é carregada de significados positivos, embora eu prefira lembrar o slogan do antigo humorístico televisivo “Planeta dos Homens” : “O macaco tá certo!”. Brincadeiras à parte, o filme é muito bom, prende a nossa atenção do início ao fim e, mesmo sendo um filme de ação e cheio de efeitos razoáveis de computação gráfica (ela ainda não é perfeita em imitar com fidelidade movimentos animais como os do macaco que pisa e pula de galho em galho), há alguns momentos em que a história chega até a emocionar, como num bom drama. Mas o principal aqui é o convite à reflexão que o filme nos faz, ao mostrar a grande responsabilidade que o dom do raciocínio humano tem sobre o futuro do planeta e das espécies animais e vegetais. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades (ops, eu já ouvi isso antes em outro lugar!). Não deixem de assistir um blockbuster com conteúdo, que é o caso deste ótimo remake.


Cartaz do filme


César. Dividido entre o carinho pelos humanos e a necessidade da preservação de sua espécie.


Koba. Violência gratuita.


Maurice. Grande serenidade.


Humanos na floresta. Tensão e agressividade.


Humanos e macacos trabalhando juntos. 


Gary Oldman. Dreyfus, o líder dos humanos.


Momento mais terno do filme. Ainda haverá esperança? 

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