quinta-feira, 10 de julho de 2014

Resenha de Filme - Vic e Flo Viram Um Urso

Vic e Flo Viram Um Urso. Crueza Revoltante.
Um filme canadense que é uma pancada violenta no estômago. Essa é a melhor definição de “Vic e Flor Viram Um Urso”, que ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2013 (Prêmio Alfred Bauer), escrito e dirigido por Denis Côté. Se você quer ver carinhas de porcelana e finais felizes, passe longe desse filme. Ele é de uma crueza que beira as raias da revolta, que nos deixa inconformados com violentas injustiças.
Temos aqui a história de Victoria Champagne (interpretada por Pierrette Robitaille), uma mulher de passado criminoso que está em liberdade condicional e vive numa casa isolada num bosque com o tio Émile, preso a uma cadeira de rodas e que não mais fala. Victoria terá que cuidar sozinha do tio. Mas ela é constantemente monitorada pelo agente da condicional Guillaume (interpretado por Marc-André Grondin). A namorada de Victoria, Florence Richmont (interpretada por Romane Bohringer), outra ex-presidiária, aparece e as duas passam a viver isoladas na casa. Flo prefere a vida na cidade, não se conformando com a vida somente com Vic, dando suas puladinhas de cerca com homens. Vic será acusada de não cuidar direito do tio, perdendo a custódia dele, que será encaminhado para um asilo e morrerá pouco tempo depois. Vic só será comunicada após dez dias, quando o tio já terá sido enterrado. O passado de crimes das duas faz com que algumas pessoas da cidade as vejam com muito preconceito. Mas o pior ainda estava por vir. Flo tinha dívidas com antigos criminosos e as duas serão perseguidas pela perigosa e violenta Jackie (interpretada por Marie Brassard), responsável pelos momentos mais odiosos do filme.

O que chama a atenção aqui? Em primeiro lugar, o filme não prima por carinhas bonitas. Vic e Flo são duas mulheres de meia idade, beirando a velhice, sendo feias e mal cuidadas. O tio Émile tem uma longa cabeleira branca, uma vasta barba e um olar melancólico, em virtude da sua prisão forçada por suas limitações físicas. Jackie é parruda, masculinizada e muito violenta, como a própria personagem admite. É um filme de pessoas rústicas, feias e mal tratadas. Em segundo lugar, o preconceito contra as ex-presidiárias, por parte dos habitantes da cidade, que tiram o velho tio Émile delas, provocando sua morte, num sinal de que o próprio tio queria permanecer na casa com Vic e seu afastamento para a clínica o levou à morte. E a característica mais marcante: uma violência gratuita que incomoda e deixa o espectador indignado e mortificado. O desfecho do filme não deixa ninguém indiferente. Você sai do cinema com um misto de resignação e revolta. A primeira impressão que fica é a de que o filme é ruim, pois toda a violência explícita nele é totalmente sem sentido. Mas, à medida que a sua cuca esfria, você percebe que está diante de uma grande obra, pois ela te agride ostensivamente, com o objetivo de te despertar de um sentimento de letargia e aceitação da violência cotidiana. Muitas situações violentas e injustas como a expressa no filme acontecem por aí todos os dias, mas estamos já tão acostumados com sociedades violentas que tais situações praticamente nos passam despercebidas. “Vic e Flo Viram Um Urso” nos dá um forte tapa na cara para despertarmos de nossa alienação e lembramos de que tais coisas abomináveis são realidades gritantes, tornando-se, assim, um filme agressivo, mas fundamental. Devemos atentar também que o título em português funciona como um inteligente trocadilho sobre o desfecho do filme. Não deixem de assistir e refletir. 


Cartaz do filme.


Um casal violentado pelo preconceito.


Guillaume. Vigilância cerrada.


Tio Émile (ao fundo). Suplício da paralisia.


Jackie (de pé) espreita a sua vítima Flo. 


Capanga de Jsckie. Música nas horas vagas, violência extrema nos momentos de trabalho.

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