sexta-feira, 11 de julho de 2014

Resenha de Filme - Camille Claudel

Camille Claudel. Escalada De Uma Tragédia.
Um tormento só. A anatomia de uma vida trágica. A sensação de impotência diante de um fim apocalíptico e inevitável. Essas são as impressões de “Camille Claudel”, filme francês de 1988 dirigido por Bruno Nuytten, estrelado pelo grande par Isabelle Adjani e Gérard Depardieu. Essa obra de quase três horas foca os anos de juventude de Claudel, seu encontro com Auguste Rodin, sua decadência e mergulho na loucura, terminando com sua internação no hospício. Um outro filme mais recente, “Camille Claudel 1915”, esse estrelado por Juliette Binoche e realizado em 2013,  aborda mais os dias em que ela estava internada, mas isso é outra história. Vamos agora analisar o filme que fala de seus anos iniciais.
A história começa com a família de Camille a procurando desesperada nas ruas, onde nossa protagonista roubava barro das obras públicas para poder fazer suas esculturas. Fica aqui claro o espírito livre de Camille e à frente de seu tempo (a segunda metade do século XIX), que era amparado pelo seu pai, mas repudiado com veemência pela mãe, que ostensivamente destratava e amaldiçoava a filha. Mas a moça não se fazia de rogada e continuava na sua carreira de escultora, indo trabalhar e tomar aulas com Auguste Rodin, o famoso escultor, que tinha a fama de ser mulherengo. A aluna promissora, que fazia as esculturas por instinto, não precisando tomar aulas para fazer grandes obras de difícil elaboração, logo despertou a atenção do mestre que começou a cortejá-la. Apesar dos alertas de sua amiga, Camille caiu de corpo e alma nos braços de Rodin, misturando sua vida afetiva e pessoal, com sua vida profissional e artística. Só que havia um sério problema: Rodin era casado, e o caso com a artista despertava a ira da esposa, que chegou a colocar a mão da escultora no carvão em brasa. Camille, então, deu um ultimato a Rodin: ou ela ou a esposa. Obviamente, Rodin tentou enrolar e Camille se afastou de sua paixão, não sem violentamente sofrer por isso. Tal sofrimento aparecia em suas esculturas, que abordavam temas cada vez mais tristes. A depressão de nossa protagonista só afastava ainda mais Rodin, que decidiu romper definitivamente. A partir daí, foi o começo do fim para a artista, que já apresentava os primeiros indícios de loucura. Ela acusava Rodin de prejudicá-la profissionalmente, quando acontecia justamente o contrário. A moça, desesperada, era extremamente agressiva com autoridades próximas à Rodin e depois se debulhava em lágrimas, num misto de arrependimento e medo provocado por um sentimento de perseguição. Suas idas à casa de Rodin à madrugada, quebrando vidros com pedras e dando altos gritos desesperados também passaram a fazer parte de seu itinerário de insanidades. Tresloucada, a pobre moça se tranca em seu atelier não saindo dele por dias, semanas, meses. Um galerista, impressionado com suas obras, ainda organiza uma última exposição com suas peças, mas é um fracasso de público. Para piorar, a escultora aparece com maquiagem pesada e um vestido colorido, dando grandes gritos na exposição, para desespero de seu irmão Paul, famoso escritor, que lhe era muito próximo na juventude e que havia produzido um discurso para defendê-la. Mas a loucura latente de Camille era indefensável. O fracasso na exposição, acrescido da morte do pai, foram demais para a moça, que destruiu suas esculturas de gesso no atelier, refugiando-se definitivamente por lá. Isso forçou a família a interná-la. Ela ficaria o resto de sua vida no hospício, sendo transferida de um sanatório para outro, passando os últimos trinta anos de sua vida isolada do mundo exterior, longe de seu atelier  e de sua família, da qual sentia muita falta.

Ufa, essa história real é muito triste. Mas o filme é uma obra monumental (sem querer fazer qualquer trocadilho com a arte da escultura), pois consegue mostrar como a escultora era uma mulher à frente de seu tempo, como suas obras eram de uma maravilha e grandeza e como sua trajetória de vida foi conturbada, caótica e triste. Tudo isso com uma Camille Claudel estonteante na pele de Adjani e um Rodin magnificamente interpretado por um elegante Depardieu. Um filme para ver, guardar e emocionar.

 Cartaz do filme.


Outro cartaz, bem mais dramático.


Camille em sua fase inicial.


Rodin em seu atelier


O encontro dos amantes.


Almoçando na casa dos pais de Camille. Amassos na hora da sobremesa.


Rodin, impressionado com um pé esculpido por Camille.


Decadência no barro.


Ataques de loucura


Uma alma atormentada e assustada.


 A caminho do hospício.



A verdadeira Camille Claudel. A expressão dos olhos já diz tudo.



Mais uma foto original


Suas esculturas exprimem muita tristeza

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