quinta-feira, 3 de julho de 2014

Resenha de Filme - O Último Amor de Mr. Morgan

O Último Amor de Mr. Morgan. Quando É Que A Vida Acaba?
Questões de vida e de morte. Relacionamentos humanos. Essas são as tônicas de “O Último Amor de Mr. Morgan”, dirigido por Sandra Nettelbeck e estrelado pelo consagrado Michael Caine. Sempre é bom ver o grande astro interpretando e sua aparição é parada obrigatória para qualquer cinéfilo que se julgue digno de ser chamado assim. A gente vai ao cinema por causa do homem. E sempre sai satisfeito com sua atuação.
Mas, e o filme? Bom, esse agradou, embora eu confesse que esperava um pouquinho mais. Vemos aqui a história de Matthew Morgan (interpretado por Caine), um professor de filosofia que perdeu a esposa, vitimada pelo câncer. Tendo como cenário a bela Paris, cidade em que vivia, Mr. Morgan tem uma vida vazia após a morte da mulher. A imagem da finada esposa o persegue em sua mente a cada lugar que vá, remetendo Morgan a lembranças antigas. Mas um dia, Morgan descobre, dentro de um ônibus, uma mocinha chamada Pauline (interpretada por Clémence Poésy), que é professora de dança. Logo os dois irão se aproximar. Pauline vê em Mr. Morgan o pai que ela perdeu e Mr. Morgan tem sentimentos confusos com relação à garota. Ele não sabe se desenvolveu uma afeição filial, ou se apaixonou por ela como mulher, ou ainda, se a menina lembra sua falecida esposa. Num colapso emocional, Morgan tenta o suicídio tomando remédios para dormir. Tal atitude magoa Pauline, pois se ela inicialmente era uma parte indecifrável da vida de Morgan, com a tentativa de suicídio, Morgan admite que Pauline é a prova de que sua vida acabou. Para agravar a situação, o casal de filhos de Morgan vem dos Estados Unidos para Paris para visitar o pai. Detalhe deve ser mencionado que a filha de Morgan, Karen, é interpretada por Gillian Anderson, a lendária Scully de “Arquivo X”, do alto de seus 1,49 m. E Pauline percebe que pai e filhos não se dão bem, havendo muitos conflitos entre eles. Daí, fica a ironia para Pauline. Aquele senhor idoso tão meigo, em que ela vê um novo pai, não consegue ser um pai para os próprios filhos. E Pauline se envolverá na relação de Mr. Morgan com seu filho, onde não sobrarão mágoas e corações feridos.
Definitivamente, esse é um filme sobre a forma como você leva a sua vida e como você se relaciona com os seus. Um pai que sofre com a perda da esposa, mas não percebe que ele não foi o único a sofrer. Um pai que não mais vê sentido na vida. Uma moça que vive sozinha sem família e precisa de uma figura paterna. Um filho que se ressente do tratamento do pai e é altamente sensível. Uma filha que é fria e ridiculamente fútil e consumista, como se quisesse abstrair de todos os traumas de infância e dos problemas em sua família atual. Pessoas atormentadas que se relacionam e machucam umas às outras. Mas o estancamento das dores só pode ser curado pelas próprias pessoas que provocam os ferimentos. Um filme que mostra a tristeza do desentendimento entre os membros de uma família, mas que traz também um sopro de esperança. Um filme que faz você olhar para dentro de si próprio e se perguntar se você também foi machucado ou machucou membros de sua família. Aos poucos, vemos que não há mocinhos ou bandidos, somente humanos, com suas qualidades e defeitos, fazendo sofrer, mas também amparando.

O intrincamento das relações humanas e familiares nesse filme é muito intenso e não cabe fazer um mapeamento aqui. Só direi que ele dá a tônica da história e nos envolve com os personagens. Só é de se lamentar que o filme seja mais melancolia e menos esperança. Desejamos um pouco mais de colorido na relação entre Mr. Morgan e Pauline. Fica uma sensação de que a afetividade desse par poderia ser mais explorada. Mas as divagações filosóficas de Morgan estragam um pouco a coisa, magoando Pauline. Por um lado, obstrui a magia do par principal do filme, mas por outro, abre nossos olhos no que se refere a pensar muito bem o que você fala para quem te quer bem, pois às vezes magoamos essas pessoas (até sem querer!) porque não medimos o que dizemos. Vale essa lição do filme, que é cheio de muitas outras. Vá, veja, olhe dentro de si e reflita.

 Cartaz do filme


Mr. Morgan, um professor de filosofia atormentado pela viuvez.


Visitas sem faltas ao túmulo da mulher.


Mesmo depois de morta, sua esposa está presente em suas lembranças.


 Mas, eis que um dia surge Pauline, fonte de alegrias e de tormentos.


Dança como fuga.


Filhos de Morgan. Família destroçada.


Pauline organiza um jantar entre pai e filho. Tiro que sai pela culatra.


Dores da perda


Fragilidades. 

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