Yoshiwara´s World: Resenha de Filme

Grand Hotel Budapeste. Comédia Inspirada em Zweig.

Surge uma interessante história dirigida por Wes Anderson, inspirada nas obras de Stefan Zweig, famoso escritor vienense que veio para o Brasil e aqui faleceu em Petrópolis em 1942 (ele se suicidou com a expansão da barbárie do nazismo). “Grand Hotel Budapeste” é uma deliciosa comédia que não tem um elenco, tem uma constelação: Ralph Fiennes, F. Murray Abraham, Adrien Brody, Willem Dafoe, Mathieu Almaric, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Léa Seydoux, Tom Wilkinson, Owen Wilson, só para falar dos mais conhecidos. Alguns desses atores consagrados faziam papéis principais, outros coadjuvantes, e uns outros apenas pontas de luxo. Mas todos deram boas contribuições para o filme.

Vemos aqui a história de um escritor consagrado falando como escrever uma boa história. A dica principal é falar com as pessoas e escutá-las, acima de tudo, de forma muito atenciosa, para absorver as histórias delas. O filme faz um flashback que lembra dos dias de juventude do escritor (interpretado nesse caso por Jude Law), quando ele frequentava o Grand Hotel Budapest, em um país europeu fictício. Esse hotel, outrora próspero, atravessava um período de decadência, onde seu proprietário, Mr. Mustafá (interpretado por F. Murray Abraham) levava uma vidinha simples e decadente, hospedando-se num quartinho pequeno e miserável, destinado aos funcionários. Isso despertou a atenção de nosso escritor, que puxou um papo com o dono do hotel e este começou a contar a sua história, levando o filme para um segundo flashback. Vimos, então, que o milionário à beira da falência tinha o primeiro nome Zero e começou no hotel como uma espécie de faz tudo (mensageiro, garçom, etc.) e foi adotado por Monsieur Gustave (interpretado por Ralph Fiennes), concièrge do hotel (uma espécie de chefe dos empregados). Gustave era extremamente refinado, detalhista, disciplinador e exigente com seus empregados. E um amante de todas as senhoras ricas que se hospedavam no hotel. Uma delas, Madame D. (interpretada por Tilda Swinton), faleceu e lhe deixou como herança um quadro renascentista de alto valor, “O menino com a maçã”, o que despertou a ira da família, principalmente de seu filho Dmitri (interpretado por Adrien Brody), que, com a ajuda de seu capanga Jopling (interpretado por Willem Dafoe), caçará pela Europa o concièrge e Zero Mustafá, que roubaram o quadro na leitura do testamento, tudo isso com situações engraçadas e muito inusitadas.

Qual é a qualidade principal do filme? Ele é uma comédia escrachada que abusa de situações completamente absurdas, compondo até algumas gags visuais típicas do cinema mudo de Buster Keaton. Ainda, os personagens são altamente caricatos, e o uso de um elenco tão estelar torna a coisa mais divertida ainda. O filme abusa da beleza dos cenários, figurinos, locações (fundos azuis e computações gráficas também?), sendo algo muito gostoso de se ver.

Outra característica marcante. A história de Zero Mustafá e Gustave se passa no período entre guerras e vemos várias alusões históricas ao longo da trama. Podemos identificar soldados alemães da Primeira Guerra Mundial nas suas indumentárias, os oficiais da SS na Segunda Guerra Mundial, velhos hábitos aristocráticos, principalmente na figura de Gustave, onde as regras rígidas de etiqueta eram altamente valorizadas e exaltadas, e identificávamos isso justamente no comportamento caricato dos personagens. Há uma passagem engraçada, onde Monsieur Ivan (interpretado por Bill Murray), ajuda Gustav a fugir, arrumando-lhe um trem. Gustav, que havia acabado de sair da prisão, disse a Zero Mustafá que precisava dar algum dinheiro para Ivan, no que Zero prontamente atendeu. Ao dar o dinheiro a Ivan, este recusou educadamente com um “please!” todo pomposo.

Assim, “Grand Hotel Budapest” é um filme que merece a atenção em virtude de sua forma engraçada e caricata de ser contada uma história e pelo seu elenco estelar, onde nos divertimos com suas repentinas participações especiais.