domingo, 6 de abril de 2014

Resenha de Filme - Eles Voltam.

Eles Voltam. Castigo e Desigualdade Social.
O cinema brasileiro pernambucano traz uma nova criação. O filme “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello, nos mostra uma história que poderia bem ser uma ópera do absurdo, mas, do jeito que as famílias estão desestruturadas hoje em dia, até que poderia muito bem acontecer na vida real. Vamos falar um pouco dessa curiosa produção.

O filme começa de forma muito inusitada para os padrões racionais. Um carro numa estrada que para e põe um casal de irmãos para fora, seguindo viagem. A menina, Cris (interpretada por Maria Luísa Tavares), tem apenas doze anos. O irmão, Peu (interpretado por Geórgio Kokkosi), um pouco mais velho. Com o desenrolar da história, sabemos que os próprios pais expulsaram os filhos de dentro do carro, pois estavam brigando, e simplesmente abandonaram as crianças na beira da estrada. O pai, advogado, e a mãe, dona de lojas, expressando claramente que a família é de uma classe social alta. As crianças na beira da estrada como castigo nos mostram uma inabilidade total daquele casal “bem nascido” em criar os filhos. Para piorar a situação, Peu abandona Cris para tentar chegar a um posto de gasolina muito distante. A menina passa a noite na estrada e, no dia seguinte, recebe a ajuda de um menino que passa na beira da estrada com uma bicicleta. A convite do menino, Cris vai para a casa dele e é alimentada pela mãe. Logo percebemos que aquela família humilde de beira de estrada é de um acampamento de sem terras. O estrato social diferente de Cris se mostra etnicamente: a menina branquinha de Recife convivendo com uma população praticamente cafuza, meio negra, meio índia, toda excluída. E Cris começa a perceber todo um mundo dos menos favorecidos que ela não conhecia. Logo ela será levada para uma cidade onde há uma delegacia, por uma outra mulher que tem uma filha e paga um dobrado para viver, trabalhando em feiras, como doméstica, além de fazer outros biscates. Essa mulher tem uma filha chamada Jennifer, que mostra a Cris mais detalhes de um Brasil dividido entre uma elite e uma população explorada que precisa muito trabalhar para sobreviver. Cris também é colocada para trabalhar e “escapa” dessa vida, pois ela encontra uma casa que era de seus pais e a invade, encontrando Pri, uma moça que dá as suas fugidinhas para essa casa de praia. Será Pri que levará Cris para a sua família de volta. Lá, ela descobre que pai e mãe estão em coma no hospital, pois sofreram um acidente depois de despejarem os filhos na pista. Os dois adolescentes voltam a ter suas vidas burguesas em colégios particulares caros e rodeados por seus aparelhos eletrônicos, embora Cris tenha ficado mais simpática aos sem-terra. Isso aparece claramente quando o avô de Cris solta um “graças a Deus” ao ver no noticiário da TV um grupo do MST sendo preso depois de uma invasão e a menina reage dizendo “você não diria isso se soubesse como eles vivem”. O filme termina com os dois meninos ainda esperando seus pais voltarem do coma no hospital, onde Cris, emblematicamente, filmou um trecho da estrada quando estava perdida nela e reproduz no celular o vídeo para seu irmão Peu dizendo a mesma coisa que dissera na estrada: “Será que nossos pais voltam?”, expressando uma sensação de abandono que vemos às vezes em crianças cujos pais não as criam com a atenção devida. Problemas sociais na esfera privada (um mau relacionamento entre pais e filhos) e na esfera pública (a alta disparidade social que assola nosso país). Apesar do filme ter um ritmo lento e, em algumas vezes até um pouco entediante, “Eles Voltam” tem o mérito de abordar questões tão atuais em nossa sociedade.

 Lindo Cartaz do Filme


Cris. Perdida no mundo.


Na delegacia.


Conhecendo a vida difícil.

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