sábado, 5 de abril de 2014

Resenha de Filme - 300, A Ascensão do Império

300, A Ascensão do Império. Agora É A Vez de Atenas.
E o filme “300” teve a sua continuação. A saga da guerra dos gregos contra os persas sob a ótica HQ ao estilo de escritores como Frankie Miller continua agora com os atenienses no campo de batalha. Vemos aqui a história ocorrendo simultaneamente à batalha dos 300 de Leônidas, mas vemos aqui uma batalha marítima entre atenienses e persas.
O filme num primeiro momento não empolga muito se compararmos com o primeiro “300”, que contava em seu início como era a cultura guerreira espartana. Por subjugar povos de outras cidades-estados (ou pólis) que frequentemente se revoltavam, Esparta teve que se especializar no ofício da guerra. Já Atenas se especializou na cultura, ciências, artes e política, fundando a democracia. Não é à toa que vemos tanto em “300” como em sua continuação uma homofobia latente dos espartanos contra os atenienses (os primeiros sempre chamavam os segundos de pederastas) O homossexualismo realmente existiu na sociedade ateniense (o filme “Alexandre”, de Oliver Stone, mostra isso muito bem). A mulher era colocada numa posição tão secundária que servia somente para reprodução. Sentimentos humanos considerados mais nobres como o amor eram somente entre homens nascidos na pólis, os verdadeiros cidadãos.
No início da continuação de “300” temos, entretanto, o privilégio de olhar mais para os persas. O filme tem o mérito de lembrar que a Grécia já sofria intervenções persas com o Rei Dario I, que foi (no filme, que fique bem claro!) assassinado pelo general ateniense Temístocles (interpretado por Sullivan Stapleton) na Batalha de Maratona (na verdade, Dario I morreu em batalha no Egito). O filho de Dario I era justamente Xerxes (nosso Rodrigo Santoro) e viu Dario ser vitimado pela flecha de Temístocles. Cabe dizer aqui que a caracterização dos persas estava mais fiel nessa continuação, pois eles usavam barbas até encaracoladas, influência dos povos da antiga Mesopotâmia, próximos à região da Pérsia (só para fazer um pequeno parêntesis, a Pérsia estava onde hoje é o Irã e a Mesopotâmia estava onde hoje é o Iraque, dois países vizinhos). Pelo menos o filme dá uma justificativa meio mágica de como Xerxes ficou sem pêlos e cheio de piercings, algo fora dos padrões da cultura persa.
O filme também introduz a bela Artemísia (interpretada pela atriz francesa Eva Green), que tinha uma origem grega por parte de mãe, mas que viu toda a sua família ser morta por soldados gregos hoplitas. Criada por um persa, ela jurou vingança contra os gregos, se aproximando de Dario I para alcançar seu intento. Será Artemísia que manipulará Xerxes para que ele busque a vingança contra os gregos.
Apesar da trama se afastar do rigor histórico em alguns lances de licença poética tais como os piercings de Xerxes e os “monstrinhos” HQ que até aparecem em um número menor nesta continuação, “300” também se aproxima em alguns momentos das interpretações históricas. No primeiro filme vemos os soldados hoplitas espartanos combatendo em grupo e tornando o seu exército mais eficiente. Na continuação, vemos como os gregos usavam seus pequenos e ágeis barcos contra as grandes e lentas embarcações persas, atacando-as pelas laterais, tal como é dito nos livros de história. Aliás, vemos nos dois filmes o que é falado para os alunos do 6º ano do ensino fundamental nas aulas de história: os gregos nem sempre eram militarmente mais fortes, mas sua inteligência fazia com que seus exércitos pudessem lutar em pé de igualdade contra exércitos estrangeiros mais poderosos. A batalha final entre gregos e persas na baía de Salamina, com a marinha de Xerxes sendo atraída para uma cilada também aconteceu quando um soldado grego, fingindo desertar, atraiu Xerxes para a armadilha. Outro detalhe histórico que surge no filme é o fato de as cidades gregas autônomas num primeiro momento se unirem quando tinham um inimigo externo em comum como a Pérsia.
Para falarmos mais algumas palavras dessa continuação de “300”, podemos destacar a fotografia, onde sempre há a feliz escolha de se usar um céu digital de nuvens negras como pano de fundo (influência da HQ). É um efeito digital de linda plasticidade e já havia sido utilizado no primeiro filme. As cenas em alto mar com o fundo negro do céu ficaram muito bonitas. Destaque deve ser dado também à Artemísia e à interpretação da bela Eva Green. Foi a melhor atriz do filme já que Temístocles como herói não chegou aos pés de Leônidas e o Rodrigo Santoro merece algo melhor que o papel de um monstro digital. Especialmente chocante foi a cena de sexo entre Artemísia e Temístocles, muito violenta (droga, também não vou poder usar esse filme nas minhas aulas de história, assim como o primeiro!). Se com o Temístocles a coisa já foi meio barra pesada, não quero nem imaginar como seria com o Leônidas...
Como o filme terminou meio solto (outro problema nele), quero deixar de lado aqui o “crítico” de cinema para entrar como professor de história e dizer o que aconteceu depois. Xerxes foi derrotado em Salamina e Atenas, preocupada com as investidas externas contra a Grécia, assumiu a liderança da região ao instituir uma liga naval conhecida como Liga de Delos. Essa liderança ateniense provocou a fúria de Esparta, que declarou uma guerra contra os “pederastas” de Atenas, a guerra do Peloponeso, que durou dez anos e terminou com a vitória de Esparta, mas exauriu tanto espartanos como atenienses. Surgiu uma nova cidade-estado hegemônica, que foi Tebas. Mas foi um país de cultura grega, a Macedônia, e seu rei, Filipe, que conseguiu unificar todas as cidades-estados gregas sob o seu controle, transformando a Grécia num reino. Só que Filipe morreria dois anos após a unificação. Coube a seu filho, Alexandre Magno, o famoso Alexandre, o Grande, expandir os domínios gregos, onde até a Pérsia foi conquistada. Alexandre (o mesmo do filme de Oliver Stone) foi um dos maiores generais da história e tinha a grande visão de anexar elementos das culturas que ele conquistava com a cultura grega. Prova disso foi o surgimento da cultura helênica, que foi uma interação da cultura grega com a cultura dos povos orientais (Alexandre levou sua expansão até à Índia!) e a criação da Biblioteca da cidade de Alexandria, no Egito, cidade essa erguida em sua homenagem. Essa biblioteca foi a maior da história da Antiguidade, com cerca de meio milhão de manuscritos, e que foi infelizmente destruída. Alexandre morreu de malária aos 33 anos de idade, sem filhos e não deixou instruções de quem seria o seu herdeiro militar. Assim, o seu poder foi disputado entre seus generais, o que provocou o enfraquecimento do império, levando-o à decadência e à invasão de vários povos estrangeiros como os romanos e os árabes.
Voltando ao filme e concluindo, podemos dizer que a continuação de “300” não é tão empolgante como o primeiro filme (que é o que acontece com a maioria das continuações), mas não é de se jogar fora, já que vemos um relativo rigor histórico andando de mãos dadas com uma licença poética até razoavelmente comportada.


 Cartaz do Filme


Santoro. Mais uma vez um monstro digital...


embora tenha sido um persa mais fiel no início do filme.


Temístocles. Herói fraco.


Artemísia. Sensacional em todos os aspectos!!!


Bela fotografia! Influência HQ.

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