domingo, 2 de março de 2014

Resenha de Filme - Robocop

Robocop. Uma Excelente Obra Prima de José Padilha.
O Cinema Brasileiro faz bonito no exterior. O “Robocop”, de José Padilha tem muitas diferenças com relação ao original lá da década de 1980. Mas são diferenças para lá de positivas. A escolha do elenco também ajudou. Quem viu a reportagem da revista Veja há algumas semanas percebeu que ele conseguiu controle total do filme, algo que em si só, já é um fenômeno nos Estados Unidos, perante às grandes produtoras. Mas temos mais, muito mais aqui para falar.
Só para iniciarmos, o filme tem uma crítica contundente ao intervencionismo americano e as retóricas de direita que justificam tais intervenções. O grande jornal ancorado por Pat Novak, interpretado por um Samuel Jackson simplesmente espetacular (que até faz um pequeno joguete com o leão da MGM) nos mostra a invasão militar das máquinas em Teerã, onde os iranianos são colocados claramente na posição de oprimidos pelo imperialismo americano. Até os terroristas iranianos são expressos de uma forma diferente, onde há a ordem entre eles de não fazer vítimas humanas, mas somente se sacrificar enfrentando as máquinas. Fica claro que as máquinas fazem o papel de cães de guarda dos interesses dos Estados Unidos no mundo inteiro, exceto nos próprios Estados Unidos, onde a opinião pública não aceita tal presença, já que as máquinas não têm intuição e emoção humanas, agindo de forma totalmente fria e calculista. Essa não presença nos Estados Unidos irrita a empresa OmniCorp, por não abiscoitar o maior mercado mundial. Faz-se necessário conquistar essa opinião pública, e o presidente da OmniCorp, Raymond Sellars (interpretado por Michael Keaton), busca um ciborgue, ou seja, um misto entre homem e máquina. Por outro lado, o policial Alex Murphy (interpretado por Joel Kinnaman) sofre um atentado após ser traído por seus próprios colegas de polícia na missão de prender um criminoso. Pronto! As condições para o surgimento de Robocop estão formadas. Cabe dizer aqui que, dentro da história que levou ao atentado contra Murphy, o filme realmente se aproxima muito de “Tropa de Elite”: as tramas policiais, planos para se pegar criminosos, traições, corrupções, violentos tiroteios, onde o som dos tiros abafa a música de fundo, está tudo lá em “Robocop”, tal como vimos em “Tropa de Elite”.
E a transformação de Murphy em Robocop? Esta é muito mais elaborada e pensada na versão de Padilha. Desde o primeiro momento, vemos o diálogo da esposa de Murphy com os executivos da OmniCorp e com o cientista responsável pela transformação do marido em ciborgue, Dr. Dennett Norton (interpretado por um marcante e carismático Gary Oldman), algo que leva a moça a autorizar a transformação do marido. O Robocop de Padilha não nasce completamente mecanizado, mas ainda possui a consciência de Murphy, que tenta fugir, mas é desligado, estando numa filial chinesa da OmniCorp. Ao perceber sua verdadeira condição, Murphy pensa em suicídio, sendo demovido da ideia por Norton. Nas simulações de resgate de reféns, seus movimentos são mais lentos que os dos robôs, pois o elemento humano o torna hesitante. Assim, é feita uma pequena incisão em seu cérebro onde, quando a viseira do traje de Murphy está levantada, é o policial que tem o controle da situação sobre seu corpo, mas quando a viseira está abaixada, é a máquina que comanda, onde o policial pensa que ainda tem o controle. Questionado pelas implicações éticas da situação, Norton a justifica com a magnífica frase: “é a farsa do livre arbítrio”. Ao ser apresentado como a grande invenção da OmniCorp para o público, Murphy surta com o violento volume de informações sobre crimes e homicídios, principalmente quando presencia cenas do próprio crime que sofreu. Na necessidade de ser apresentado imediatamente, Norton é pressionado a estabilizá-lo emocionalmente, tornando-o uma máquina fria e calculista que age violentamente contra um acusado de um crime que está na multidão. Mas Murphy ainda está lá e busca a vingança contra aqueles que provocaram seu atentado, chegando até aos colegas e à sua chefe de polícia. Mas Murphy é imobilizado a mando de Sellars, que aproveita a situação para forjar o assassinato de Murphy e, assim, obter apoio da opinião pública para seus robôs. Isso significava que Murphy deveria ser morto. Mas ele vai reagir contra isso, levando o filme a outros lances espetaculares, agora dentro do mais tradicional filme de ação.
Falamos aqui como o filme faz uma crítica contundente ao intervencionismo e militarismo americanos, algo não visto na versão original de 1987. O filme ainda denuncia a falta de escrúpulos das grandes corporações capitalistas em busca do lucro, assim como o faz a versão original. Mas um destaque deve ser dado na versão de Padilha quanto ao papel da mídia. Enquanto que, na versão original, a mídia se limitava a apresentar as situações absurdas de um futuro imoral com sorrisos e nenhum senso crítico, na versão de 2014, a mídia tem papel muito mais atuante, principalmente na figura do âncora Novak, que defende o intervencionismo americano e o uso das máquinas para a segurança nos Estados Unidos, criticando severamente o senador Dreyfuss (interpretado por Zach Grenier) que criou uma lei contra a presença das máquinas nos Estados Unidos. Mas, quanto ao direitismo da mídia americana, o maior lance passa quase que despercebido quando, ao ser anunciada a votação que derrubará a lei do senador Dreyfuss e permitirá a presença das máquinas de segurança em solo americano, podemos ver no canal de notícias uma barra de notícias escritas que diz “Karl Marx estava certo”, diz o economista fulano de tal. Uma sátira ácida contra o capitalismo dentro de um filme americano de ação. Vocês hão de convir que não se vê isso todo o dia.

Após essa pequena análise sobre o filme, podemos dizer que Padilha expande magistralmente certas questões surgidas na versão original de Robocop, como a corrupção policial e a imoralidade das empresas capitalistas na busca por lucros, além de inserir outras, como uma crítica severa à politica externa altamente imperialista dos americanos. Tudo isso faz de “nosso Robocop” uma obra prima.


 Cartaz do Filme. Cores do Bope...


Alex Murphy: máquina com consciência humana (personagem mais trabalhado aqui).


Moto de Robocop: Caveirão????


Novak (Samuel Jackson): Mídia Direitista.


Máquinas patrulhando um alegre (e dominado) Irã...


Norton (Gary Oldman): onde termina a pesquisa e começa a ética?


Norton e Sellars: relação conflituosa. 

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