sábado, 1 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Medo e Desejo

Medo e Desejo: Mais um Filme de Guerra de Kubrick.
O filme “Medo e Desejo”, de Stanley Kubrick, feito em 1953, é bem curtinho: tem somente 62 minutos. Mas ele possui alguns elementos interessantes para se discutir. Basicamente, ele chama a atenção por dois fatores principais. Falemos destes elementos aqui.
Vemos nesta película a história de quatro militares que estão numa floresta em território inimigo após seu avião ser abatido. A intenção deles é atravessar as linhas inimigas e retornar para seu exército. Para isso, eles usarão o rio que corta a floresta e construirão uma balsa. Mas isso não será tão simples, já que há milhares de soldados inimigos cobrem os oito quilômetros de terreno que eles terão que atravessar. Ao montarem a balsa na beira do rio, esses militares descobrem na outra margem que o exército inimigo tem um avião e um aeroporto, perfeitos para um plano de fuga. Mas há um general inimigo também, o que desperta muito a curiosidade deles. Haverá mais um elemento complicador: os militares, com muita fome, invadem uma instalação inimiga e trucidam os soldados que lá estavam, causando muita perturbação num dos soldados. Para piorar, num outro momento uma camponesa local vê os militares que precisam aprisioná-la, amarrada a uma árvore. Ela fica sob a vigilância do soldado que ficou traumatizado com a carnificina na disputa pela comida, enquanto que os outros militares se afastam para vigiar a balsa e as instalações inimigas à distância. Mas o soldado enlouquece e acaba soltando a camponesa, pois ele pensa que ela gosta dele. Só que a moça apenas dissimula para que o soldado a solte e ela possa fugir. O soldado acaba matando-a e corre enlouquecido pela floresta. Outro militar fugitivo, obcecado pela presença do general, sugere aos dois colegas que se elimine o líder do exército inimigo antes da fuga. Para isso, ele atrairia os militares inimigos expondo-se na balsa enquanto que seus colegas matavam o general, para depois todos fugirem de avião. Bom, o plano não deu muito certo, pois o valente militar da balsa ficou crivado de balas e o general foi inicialmente só ferido, e nossos fugitivos ainda precisaram voltar para executá-lo. Os dois sobreviventes conseguiram chegar a seu território, mas retornaram ao rio para procurar a balsa. Miraculosamente, a encontraram com o soldado isca morto e o soldado maluquinho do lado. Toda essa história contada em uma hora.

E quais são os dois elementos do filme que chamam muito a atenção? Em primeiro lugar, a montagem. É muito curioso perceber como a montagem foi feita com closes de rostos bem rápidos, aumentando a dramaticidade da cena, seja na conversa entre os soldados fugitivos, na cena do massacre dos soldados inimigos, muito bem feita, seja no assassinato da camponesa. A cena do massacre é especialmente inquietante, pois a forma como a cena foi montada, intercalando a expressão horrorizada do soldado que enlouqueceria com as faces dos soldados inimigos mortos, nos dá uma sensação de aflição e desespero. Logo, o exercício da montagem é a característica mais marcante do filme no ponto de vista técnico. O segundo elemento que chama muito a atenção é a explanação de alguns raciocínios e ideias ao longo do filme. Voltando à cena do massacre, enquanto um dos soldados está aterrorizado, outro, totalmente indiferente à chacina diz, em seus pensamentos, que os homens são ilhas, ou seja, ele se desvincula totalmente da solidariedade humana para que ele possa, durante uma guerra, adotar uma postura mais indiferente e poder sobreviver no campo de batalha. Outro momento interessante está nas palavras do soldado que quer matar o general. Ao invés de buscar a solução mais simples, que é fugir, ele quer fazer algo grandioso, pois ao fim da guerra, ele terá um emprego ordinário que será consertar máquinas de lavar e não fará mais nada de relevante em sua vida. Assim, ter a chance de matar um general naquelas circunstâncias tem o status de dádiva divina (como se a guerra fosse a única oportunidade de se fazer algo de relevante para que a sociedade o notasse). Nestes dois raciocínios, vemos novamente o posicionamento altamente crítico de Kubrick contra a guerra, assim como ele também é crítico do patriotismo. Em nenhum momento se fala no filme quais são as nacionalidades dos exércitos envolvidos e, ainda, no início da trama, a voz do narrador nos diz que as noções de guerra e patriotismo estão apenas na cabeça dos soldados. O ambiente da floresta é totalmente destacado do que acontece na guerra, sendo esses eventos totalmente de responsabilidade dos militares envolvidos (já que chega-se a insinuar ao longo da história que a floresta possui uma influência maldita sobre as pessoas). Todos esses elementos em apenas 62 minutos de filme, que só confirmam a genialidade desse diretor.

Cartaz do Filme.


Os quatro soldados fugitivos.


Closes rápidos: montagem aumenta dramaticidade


Provocação da camponesa


A equipe de filmagem. E não é que Kubrick também ri???

Nenhum comentário:

Postar um comentário