sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - A Imagem que Falta

A Imagem Que Falta. Exumando Um Genocídio.
Um documentário que investiga um genocídio esquecido. Essa é a melhor definição de “A Imagem Que Falta”, de Rithy Panh. É indispensável que grandes crimes e tragédias provocadas pelo homem contra o próprio homem sejam sempre denunciadas, algo que é feito nesse pequeno filme de 92 minutos e que concorre ao Oscar de filme estrangeiro.

Podemos ver aqui um documentário magistralmente montado, que aborda o governo do Khmer Vermelho no Camboja na segunda metade da década de 1970, que cometeu, em nome do proletariado e da liberdade, uma série de crimes contra a humanidade contra várias pessoas, que foram expulsas de suas cidades e obrigadas a trabalhar no campo em cultivos de arroz e produção de fertilizante, isso numa terra árida e totalmente inóspita. E quem fosse contra era considerado inimigo do povo e assassinado. O filme recupera filmes oficiais do governo de Pol Pot num raro registro da situação de um país que quase não temos notícias por aqui. Mesmo nos filmes oficiais é possível constatar o alto grau de degradação da população que vivia numa situação de escravidão e fome totais, além da propaganda maciça do governo, que provocava distorções tamanhas na mente das pessoas a ponto de um menino denunciar a própria mãe por pegar umas mangas para aplacar a terrível fome, levando-a a execução por isso. Tudo isso sendo narrado em 1ª pessoa. As cenas de propaganda eram intercaladas com imagens de um Camboja pré-revolução, que tinha uma vida urbana fulgurante, em oposição às imagens da cidade abandonada após a implantação do Khmer Vermelho. Todas as imagens trágicas foram engenhosamente encenadas com bonequinhos de argila, que são a marca registrada do filme. Podemos presenciar muitas situações com esses bonequinhos, como a separação da família do narrador do filme, as mortes por inanição, as mortes em hospitais improvisados com a “medicina capitalista” abolida, os inúmeros enterros de corpos e muitas outras imagens escabrosas que aparecem no semblante sofrido daqueles bonequinhos artesanalmente construídos. Um tom levemente lúdico numa enorme tragédia que jaz esquecida no continente asiático e é agora ressuscitada. Filmes como esse nos assustam, pois nos mostram até onde o ser humano é capaz de cometer tantas atrocidades contra seu semelhante a serviço de ideologias que teoricamente salvariam a humanidade, mas que na prática cometem crimes temerosos. Assim, “A Imagem Que Falta” é um filme essencial, mostrando outra tarefa que o cinema pode cumprir com maestria: a de ser um documento histórico e denunciar crimes contra a humanidade.

 Símbolo do Khmer com os bonequinhos de argila.


Camboja antes do Khmer


Camboja pós Khmer: escravidão e violência em nome de uma suposta liberdade.


Boneco do pai do protagonista sendo construído. Ele morreu de inanição.


Prisioneiros em vagões. Cena semelhante à do Holocausto.


Set de filmagem antes do Khmer. Após o Khmer, execuções de atores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário