quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Resenha de Filme - Azul é a Cor Mais Quente

Azul é a Cor Mais Quente: a Palma de Ouro de Cannes 2013!

O filme “Azul é a Cor Mais Quente” é um filmão em todos os sentidos: ganhou a palma de ouro no Festival de Cannes do ano passado e tem três horas de duração. E podemos dizer que o prêmio foi bem merecido. É mais um filme que trata do tema do homossexualismo. Vemos aqui a história de Adèle (interpretada por Adèle Exarchopoulos), uma adolescente com carinha de coelho que descobre sua sexualidade e sua tendência ao homossexualismo de forma gradativa. Tudo começa com uma inquietação que ela não consegue descrever. Falta algo para a vida da moça. Ela participa de festas, é estimulada pelas colegas a flertar com meninos, chega a ter sua primeira experiência sexual com um garoto, mas nada daquilo a completa. Pouco a pouco, ela descobre sua atração por garotas e passa a praticamente ter certeza disso quando passa pela rua por um casal de lésbicas, sentindo-se atraída por uma delas, que tem um cabelo meio verde, meio azul. Ela, inclusive, chega a se aproximar de uma colega que tem os mesmos sentimentos, mas a amiga não leva a relação à frente, dizendo que beijou Adèle simplesmente por instinto. Adèle então é levada por um amigo homossexual a uma boate gay onde encontra a tal garota de cabelo colorido. Ela se chama Emma (interpretada por Léa Seydoux). E assim começam a se aproximar cada vez mais. Isso provoca um ataque de homofobia pela parte das amigas de Adèle. Mas as duas continuam juntas e se descobrem cada vez mais. Elas discutem sobre vários assuntos: o amor de Adèle pela literatura e o amor de Emma por artes plásticas e filosofia, sobretudo Sartre, cujo pensamento existencialista dá ao homem o poder de ter escolhas sobre o que ele será em sua vida, argumento que ajuda a justificar a opção pelo homossexualismo. Logo surge a paixão, o primeiro beijo e tórridas cenas de sexo entre as duas. Mas as diferenças entre elas começam a brotar. E o filme acaba caindo na armadilha dos estereótipos. A família de Emma é formada por intelectuais que comem pratos e bebem vinhos refinados, tendo formação acadêmica, numa sugestão de pertencerem a um estrato social mais alto. Já a família de Adèle é mais pragmática, dá mais importância a um emprego que dê dinheiro, come macarrão à bolonhesa e bebe suco de fruta de caixa, numa sugestão de que pertencem a um estrato social mais baixo. Esse choque cultural se manifestará no relacionamento de Adèle e Emma. Quando as duas jantam na casa dos pais de Emma, Adèle estranha a ostra e os vinhos altamente requintados e os pais aceitam claramente a opção sexual das duas (como se os ricos e intelectualizados não tivessem nunca qualquer rompante de homofobia). O que os pais de Emma estranham é a opção de Adèle por ser professora primária, pois uma profissão é algo mais concreto que seguir uma carreira acadêmica que nem sempre é garantia de um emprego sólido no futuro. Essa forma de pensamento para uma família que prioriza dissertações de mestrado e teses de doutorado é praticamente algo desprezível. Já na casa de Adèle, a relação homossexual das duas é totalmente omitida (o sexo é até feito em silêncio entre as duas no quarto de Adèle), como se todas as famílias de um estrato social mais baixo fossem homofóbicas. Além disso, Emma é que fica numa saia justa dessa vez, pois os pais de Adèle não valorizam sua opção pelas artes plásticas, por ser algo que “não dá dinheiro”. Vemos aqui os estereótipos do rico liberal intelectual e do pobre homofóbico pragmático. Mas o pior ainda estava por vir: Adèle se sente deslocada e solitária quando Emma está com suas amizades intelectuais e pensa demais na sua carreira de artista. Assim, Adèle acaba se envolvendo com um garoto, algo que é descoberto por Emma, que acaba expulsando Adèle de casa. A partir daí, a dor de Adèle é aguda e intensa e ela mergulha no seu novo ofício de professora. Passados uns anos, Emma e Adèle se encontram num café para saberem como cada uma está. Emma está com um novo relacionamento homossexual, mas reconhece que o sexo não era como com Adèle. E Adèle não se envolveu mais seriamente com ninguém. A moça ainda faz uma última investida em Emma, deixando a agora ex-cabeluda azul totalmente transtornada (diga-se de passagem, Adèle o fez muito bem!). Emma, por fim, diz que não pode reatar com Adèle, pois tem outro relacionamento, mas terá um enorme carinho por ela (aquela desculpa esfarrapada típica de quem está dando um pé na bunda). O filme termina com Adèle indo à exposição de arte de Emma, que lhe dá pouca atenção e a nossa agora mulher adulta está totalmente deslocada naquele ambiente altamente intelectualizado. Adèle sai à rua e vai embora, para o desespero de seu antigo caso masculino que também estava na exposição e a perdeu de vista. Esse realmente foi o melhor desfecho para o filme. Não há espaço aqui para um happy end à americana. Ainda mais num filme francês dessa magnitude e profundidade. Assim, “Azul é a Cor Mais Quente” é um excelente filme, que só peca pelos estereótipos, mas mesmo assim eles são decisivos no desenrolar da história.

Cartaz do filme: o cabelo é azul!!!!


A bela Adèle, com carinha de coelho...


Emma, que também não é de se jogar fora...


Beijo apaixonado das duas, com o Sol no meio: plasticidade cheia de sentido (o homossexualismo com a bênção de Sartre). Imagem travestida em linguagem...

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