quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Resenha de Filme - Comboio de Sal e Açúcar

Festival do Rio 2016. Comboio de Sal e Açúcar. Guerra e Condição Humana.
Dentro do Festival do Rio 2016, um interessante filme é “Comboio de Sal e Açúcar”, dirigido por Licínio Azevedo. Essa é uma película com um certo quê hollywoodiano, mas que retrata um tema que é tipicamente de Terceiro Mundo: a guerra civil em Moçambique. Um trem (o tal comboio) é guardado pelas forças militares do governo socialista, transportando carga e passageiros que não pagam um tostão sequer pela viagem, sendo esse o único jeito que eles têm de se locomover a grandes distâncias. A guerra civil tornou raros os carregamentos de sal, mas principalmente os carregamentos de açúcar, fazendo-o um produto muito raro e caro. Os carregamentos de sal e açúcar que o comboio leva o convertem numa verdadeira mina de ouro ambulante, cobiçada pelos guerrilheiros anticomunistas liderados por Xipoco, que trata seus inimigos de forma sanguinária, com direito a decapitações e tudo. Assim, o trem era, em vários momentos, alvejado pelos guerrilheiros, com os militares acastelados nas composições revidando o fogo inimigo e o povo que viajava ficando no meio do fogo cruzado. Como se nada mais bastasse em termos de desgraça, os militares ainda tripudiavam dos civis do trem, com direito a estupros e abusos de toda a parte.
Quando eu digo que o filme tem um quê hollywoodiano, é porque a película foi muito bem feita. Temos uma ótima fotografia, onde as montanhas altamente escarpadas de Moçambique muito impressionam por sua altura, majestade e formas poligonais altamente exóticas. O figurino bem acabado dos militares, dos maquinistas do trem e das roupas multicoloridas das mulheres era outro fator que chamava muito a atenção. Os atores também estiveram muito bem, com interpretações sóbrias, contidas e convincentes.
Mas a grande virtude da película é a de expressar os horrores da guerra. Fica lançada uma grande questão: os civis indefesos têm mais medo de quem? Do inimigo que empreende emboscadas violentas ao comboio a todo momento ou dos próprios militares que os protegem, que se acham no direito de estuprar civis a seu bel prazer e no momento que quiserem? Essa é uma situação que realmente podemos chamar de sinuca de bico ou de ficar entre a cruz e a caldeirinha. A situação de guerra desvirtua completamente o Estado imposto e o sistema de leis, onde as liberdades e proteções ao indivíduo caem totalmente por terra. E, aí, somente os mais fortes sobrevivem e muitas covardias acontecem. Esses foram elementos que a película conseguiu captar com muita maestria e que mostram o quanto o nível do ser humano pode abaixar. Tudo isso com uma interpretação sóbria e contida dos atores, não deixando a coisa piegas ou apelativa.

Dessa forma, “Comboio de Sal e Açúcar” se tornou uma grata surpresa vinda de Moçambique diretamente para o Festival do Rio desse ano. Um filme muito bem acabado, com uma história cativante, bons atores, boa fotografia, e uma mensagem que mexe com nosso íntimo e nos faz pensar na responsabilidade que um ser humano tem para com o seu próximo nas situações mais desfavoráveis. Realmente um excelente filme.


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Cartaz do Filme

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Um comandante muito casca grossa

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Um militar com boa educação e formação

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Muitos civis indefesos...

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Um militar estuprador...

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Disputando uma mulher

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Uma decapitação...

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...e combates sanguinários...

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O diretor Licínio de Azevedo

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