sábado, 15 de outubro de 2016

Resenha de Filme - Austerlitz

Festival do Rio 2016. Austerlitz. Tour Macabro.
E o Festival do Rio 2016 botou o seu bloco na rua. Mesmo que eu não possa acompanhar mais o Festival como fazia há alguns anos atrás, ainda assim dá para ver algumas coisinhas e escrever umas linhas. Um dos filmes que me chamou a atenção, dentro do cardápio de 250 películas foi “Austerlitz”, realizado por Sergei Loznitsa nesse ano de 2016. Esse documentário de 94 minutos nos traz uma questão altamente inquietante. Ele mostra a visita de turistas ao campo de concentração de Austerlitz. O diretor fez uma opção um tanto inusitada, lançando mão de longuíssimos planos onde víamos, em vários locais do campo, grupos intermináveis de turistas, numa verdadeira enxurrada humana, com personagens e tipos dos mais variados. Todo mundo caminhando numa expressão descontraída e alegre, em contraste com os terríveis fantasmas do passado que pairavam no malogrado local. E aí é que vem a grande questão do filme: o que é mais apavorante? Escutar a narração dos guias turísticos de todos os horrores e atrocidades cometidas no interior daquele nefasto campo, onde 41 mil pessoas perderam a vida das mais variadas formas, ou a indiferença da massa de turistas a todo aquele horror, fazendo o tour como se estivesse na Disneylândia, com direito a “selfies” com fornos crematórios? Nesse ponto, o diretor não buscou ler qualquer imagem, não procurou dar diretamente qualquer opinião sobre as tomadas e sequências que captava. Ele simplesmente as colocou lá, e deixou que o espectador tirasse suas próprias conclusões do que via. E, realmente, fica muito difícil de dizer o que é mais aterrorizante dentre as duas opções apresentadas. Entretanto, o filme cumpre novamente a função social de denúncia do cinema e apresenta as cenas reais de um lugar onde ocorreu um verdadeiro genocídio, cujas explanações dos guias turísticos são o único momento em que as imagens são narradas. Por mais batido e exaustivo que seja o tema, a questão do holocausto deve ser jamais esquecida e sempre relembrada, ainda mais em tempos de ascensão de intolerância e de ódio que temos vivido em nosso país, onde ideias puramente fascistas ganham cada vez mais força e se tornam uma verdadeira ameaça à democracia, já tão combalida ultimamente.

O filme, por seu aspecto excessivamente descritivo, não agradou muito ao público da sala e várias pessoas saíram durante a exibição, fatigadas daquele fluxo enorme e interminável de pessoas, sem uma narração sequer e com esporádicos momentos em que os guias tinham voz na película. Mas ainda assim, “Austerlitz” é um filme digno de nota, pois mostra a indiferença de quem não passou pelos horrores do holocausto de uma forma bem contundente. Um filme realmente feito para refletir.

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Um campo de concentração e muitos visitantes...

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Fluxos humanos em locais de genocídios

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Locais onde se depositavam corpos...

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Fornos crematórios. Vamos tirar uma selfie???

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O diretor Sergei Loznitsa 

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