quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Resenha de Filme - A Comunidade

A Comunidade. Vida Alternativa Desafiando Velhas Convenções.
Uma película do conhecido diretor Thomas Vinterberg (dos ótimos “A Caça” e “Festa de Família”) estreou em nossas telonas. O diretor dinamarquês vem agora com o ótimo “A Comunidade”, uma película inquietante como é o cinema da Dinamarca, que sempre nos brinda com boas produções. Essa co-produção Dinamarca, Suécia e Holanda nos traz uma baita duma reflexão. É um filme sobre relações pessoais tradicionais e modernas. E de como nos encaixamos ou não numa e noutra.
Vemos aqui a história de uma família de classe média alta dos anos 70 formada por Erik (interpretado por Ulrich Thomsen), um arquiteto que leciona na faculdade, e Anna (interpretada por Trine Dyrholm). Um parente de Erik morre e lhe deixa uma grande casa que, a princípio daria um bom dinheiro numa eventual venda. Mas Anna decide viver na casa e, para poder conviver com mais pessoas além do marido e da filha, sugere a Erik que se crie uma comunidade na casa, onde todos viverão em harmonia e resolverão sempre as questões, problemas e tarefas através de uma votação. Chamando os amigos mais próximos e uma ou outra pessoa estranha, o casal estabelece a comunidade, algo pouco usual para os padrões de comportamento e sociedade que vemos por aí. Mas Erik se envolverá na faculdade com uma aluna, bem mais jovem que sua esposa. O marido comunica o fato a Anna que, a princípio, meio que aceita numa boa. Mas aí, ficou a questão: deverá Erik sair de casa para morar com a moça que ama ou, para não se desfazer a comunidade, Erik deverá levar sua namoradinha para dentro da comunidade, com esposa, filha e tudo? Isso sem lembrar que Erik era o dono da casa, mas dividiu a escritura dela em cartório com toda a comunidade. Situaçãozinha complicada, não?
Pois é. Dá para perceber que o filme tem como objetivo suscitar uma enorme polêmica. Vemos um casal de formação acadêmica, muito descolado e progressista, formando uma comunidade, livre, democrática e solidária para inovar na forma como se podem levar as relações humanas, e se desprender de convenções digamos mais burguesas de relacionamento e comportamento. Mas uma crise conjugal formada bem ao espelho de uma sociedade monogâmica tradicional, assim como o pilar altamente burguês do direito à propriedade acaba implodindo essa comunidade de forma implacável. A reação dos personagens a essa crise só nos mostra como, por mais modernos, libertários, solidários e democráticos que queiramos ser, as convenções impostas pela tradição deixam marcas profundas em nossas mentes e é muito difícil se libertar delas. O sofrimento de Anna ao ter a amante dentro de seu próprio teto junto com seu marido a traumatizava de tal forma que abalava a comunidade inteira, inclusive a amante. E aí, milênios de convenção social não podem simplesmente se esvanecer da noite para o dia, já que o casamento monogâmico é algo anterior não somente ao capitalismo como à própria religião cristã. Assim, o filme nos mostra como é difícil se libertar de tais convenções, por mais boa vontade e espírito democrático que as pessoas tenham.
O filme levanta outra questão. Ele ajuda a derrubar um baita de um estereótipo existente em nossa mente latina. Quando vemos um povo do norte da Europa, a primeira ideia que nos vêm à cabeça e a de um comportamento regido por enorme frieza. Vinterberg consegue desmentir isso para nós de forma categórica ao mostrar o forte conteúdo emocional de seus personagens na película. As pessoas riem, choram, sofrem, se constrangem. É muito interessante ver como os nervos dos personagens sempre estão à flor da pele, para o bem e para o mal, o que ajuda a gente a derrubar certos mitos muito enraizados em nossa cabeça com relação aos europeus. Ou seja, até nesse pequeno detalhe, a película é muito interessante.

Assim, “A Comunidade” é um daqueles filmes que devemos ver, ter e guardar, pois nos dá a forte reflexão de que, mesmo que queiramos ser progressistas e modernos, a tradição fortemente enraizada em nossas cabeças pela formação que tivemos é algo difícil de se desvencilhar e devemos buscar uma harmonia entre essas duas formas de comportamento. E, ainda, o filme ajuda a derrubar mitos e preconceitos que nós latinos temos para com os europeus. Filme imperdível. E não deixe de ver o trailer após as fotos. 

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Cartaz do filme

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Erik e Anna decidem fundar uma comunidade em sua casa

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Tudo era decidido na votação

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Revelando uma amante...

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Isso transtornou Anna...

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O que fazer???

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Um jantar indigesto

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Os atores do filme com o diretor Vinterberg (de pé)...

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