segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Resenha de Filme - O Botão de Pérola

O Botão De Pérola. Mais Uma Obra-Prima de Patricio Guzmán.
Patricio Guzmán está de volta. E, mais uma vez, ele nos brinda com uma de suas obras-primas. O cineasta chileno, conhecido por fazer grandes documentários referentes à História do Chile, enfocando principalmente as atrocidades da ditadura militar de Augusto Pinochet, nos traz agora “O Botão de Pérola”, um documentário que tem como tema principal... a água. Mas como a água pode suscitar uma discussão de cunho político em sua película? Começando com esse tema tão simples, ele descortina para nós todo um rosário de informações. Por exemplo, Guzmán lembra que a água é a fonte de vida, sendo procurada no Universo pelos imensos radiotelescópios do Deserto de Atacama. Lembra que o Chile é o país que tem o maior litoral do mundo e que nega o Oceano Pacífico, ficando literalmente ilhado entre os Andes e os desertos do Norte. Lembra de como a água e o continente interagem nas milhares de ilhas do litoral sul, onde viviam tribos nativas que foram dizimadas pelos brancos. Guzmán entrevista os últimos remanescentes dessas tribos e recupera parte dos dialetos dessas civilizações desaparecidas que muito dependiam do mar para viver. E, no mais doloroso, Guzmán volta ao seu tema comum e fala de como os militares chilenos usaram o mar para sepultar corpos de oposicionistas jogando-os de helicópteros, um crime que permanece impune, assim como vários crimes da ditadura militar ainda permanecem impunes também em nosso país, algo que o Chile e o Brasil têm em comum.
O mais interessante é que o diretor consegue sempre mencionar temas tão melancólicos com uma dose de lirismo e poesia poucas vezes vista. Sua narração serena e suave também ajuda muito nessa abordagem que chega a ser apaziguadora, criando um notável contraste entre a beleza de algumas imagens e a trágica situação exposta. Ao mesclar dramatizações com depoimentos e imagens de arquivo, Guzmán consegue um efeito poderoso que atinge o espectador em cheio. Numa das passagens, ele alternava imagens dramatizadas de um helicóptero do exército chileno jogando corpos ao mar com a de um piloto que foi obrigado a fazer o voo, com plena consciência de que cometia um crime. Os corpos foram amarrados a trilhos de trem para afundar mais rápido e, quando mergulhadores recuperaram esses trilhos, um botão de camisa foi encontrado agarrado a um deles, junto com as outras formas de vida marinha (perceba novamente o tema da água). Ele relaciona esse botão à história de um indígena antigo, que chegou a viver entre os brancos, chamado por eles de John Button, pois ele tinha uma ligação com botões, mas quando voltou à sua própria civilização, se sentia um peixe fora d’água, sem identidade definida.

Dessa forma, “O Botão de Pérola”, é mais uma daquelas joias do cinema que, infelizmente está em apenas uma sala. E qual sala é essa? Se você falou a do Instituto Moreira Salles, acertou. Esse tipo de filme geralmente só é visto lá e sempre vale a pena subir o morrinho da Marquês de São Vicente lá na Gávea para dar uma conferida nesses filmes que, geralmente são vendidos em DVD por lá depois. Lembrando sempre que esta sim é uma película para ver, ter e guardar, por ser uma daquelas obras-primas de rara beleza e conteúdo altamente reflexivo. E não deixe de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

A água, fonte de vida e personagem importante no litoral sul do Chile

Os radiotelescópios do Deserto do Atacama buscam água pelo Universo

Tribos do sul do Chile dizimadas pelo homem branco

Costumes ancestrais desaparecidos

Os poucos sobreviventes até hoje passam por dificuldades

Antigos prisioneiros políticos da ditadura chilena...

Só este botão sobrou de um desaparecido político

Será o homem tão cruel em outros planetas, pergunta o diretor

O grande diretor Patricio Guzmán






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