sábado, 30 de julho de 2016

Resenha de Filmes: Florence e Marguerite

Florence e Marguerite: Quem São Estas Mulheres? Por Amor À Música.
Nesses últimos dias, nossas salas de cinema nos proporcionaram uma experiência que temos poucas chances de presenciar. Foram exibidas duas películas que abordaram uma mesma história, só que de formas um tanto diferentes. E aí as comparações foram inevitáveis.
Mas, no que consiste a história dos dois filmes em si? Ambos falam de uma senhora da alta sociedade que mantinha uma espécie de clube cultural restrito para todos aqueles de seu estrato social. A senhora, como boa amante das artes, sobretudo o canto, se maravilhava com o talento das cantoras profissionais e queria enveredar por essa carreira. Mas, infelizmente, a senhora tinha uma voz simplesmente terrível para o canto. Mesmo assim, por ser uma espécie de mecenas e financiadora de projetos culturais, era acolhida por todos como se fosse uma verdadeira profissional. O leitor pode perguntar: e as críticas dos jornais que noticiavam seus eventos públicos de canto? Bom, ficava a cargo do marido da referida senhora blindá-la contra as agruras do mundo real. Em tempo: a senhora era acometida de uma grave doença e a música era tudo para ela, dando-lhe uma sobrevida. Assim, o marido sabia que seria uma situação praticamente fatal ela ter acesso a uma crítica negativa de suas apresentações.
Pois bem, essa senhora existiu e se chamou Florence Foster Jenkins, vivendo nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A versão inglesa dessa história foi intitulada “Florence: Quem É Esta Mulher”, sendo estrelada por Meryl Streep no papel de Florence, e por Hugh Grant, no papel do marido Saint Clair Bayfield. Esta versão puxou o filme mais para o tom de comédia e contou com a excelente química entre Streep e Grant. A coisa foi tão boa que foi a primeira vez que gostei de uma atuação de Hugh Grant num filme (confesso que nunca fui muito com a cara dele). Já falar do talento de Meryl Streep é chover no molhado. A mulher arrasa sempre! Ela deu toda uma doçura especial à milionária excêntrica, assim como uma comovente fragilidade. E Grant não ficava atrás, no papel de marido zeloso e carinhoso que foi altamente cativante, mesmo com toda aquela pompa inglesa que beira a caricatura. Ainda, na versão inglesa, não podemos nos esquecer de mencionar a excelente participação de Simon Helberg (conhecido por fazer parte do elenco da série de TV “Big Bang Theory”) como Cosme McMoon, que foi contratado para ser o pianista de Florence em seus estudos de canto e apresentações. Seu jeito delicado e caricato foi responsável por momentos muito engraçados do filme e foi mais um personagem altamente cativante.
O outro filme que aborda esse mesmo assunto é intitulado “Marguerite” e é uma co-produção França, República Tcheca e Bélgica. O ambiente do filme agora é a França da década de 20, e Marguerite (interpretada por Catherine Frot, que fez o bom “Os Sabores do Palácio”) é rodeada e laureada por artistas de vanguarda e anarquistas. Sente-se um ambiente bem mais intelectualizado e um tanto soturno nessa versão, onde os risos diminuem muito e o drama se expande com uma força muito intensa. Aqui, Marguerite é mais melancólica e triste, parecendo um pouco mais consciente de sua condição de má cantora e muito mais receosa de se pode fazer uma carreira de sucesso ou não. Suas expressões tristes e de preocupação sem dizer uma só palavra diziam tudo, o que deu um lirismo maior à dinâmica do filme.
Em ambas as versões, a senhora cantora desafinada é altamente apaixonante. A grande mensagem que esses filmes passam é a de que a gente deve fazer aquilo que ama, independentemente do que as outras pessoas acham, mesmo que o desfecho de ambas as películas tenha sido um tanto trágico (paremos com os “spoilers” por aqui). A mulher cantava mal mesmo, desafinava, era motivo de risos, mas fazia aquilo que amava e as pessoas a adoravam justamente por isso. Em sua um tanto cruel ilusão de que era uma grande cantora, Florence e Marguerite desafiavam sem saber o senso de ridículo e soltavam o berreiro, tudo isso para enfrentar suas enfermidades de cabeça erguida por anos a fio.

Assim, ver essas duas películas é uma experiência e tanto, pois podemos testemunhar como uma história pode ser contada por duas narrativas diferentes. Uma mais alegre e com espírito de “blockbuster”. E outra mais melancólica e soturna, bem dentro do clima um tanto intelectualizado de um segmento do cinema francês herdeiro da “Nouvelle Vague”. Vale muito a pena fazer as suas próprias comparações. E não deixe de ver os trailers após as fotos.

Cartaz de Florence

Cartaz de Marguerite

Florence. Paixão pela música que a mantém viva

Marguerite. Paixão pela música que a mantém viva.

Florence. Mais alegre e expansiva

Marguerite. Mais melancólica...

Florence. Hilários estudos de música...

Marguerite, Também flexionando o abdômen...



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