terça-feira, 26 de julho de 2016

Resenha de Filme - Um Dia Perfeito

Um Dia Perfeito. Saindo Do Buraco.
Uma curiosa produção espanhola em nossas telonas. “Um Dia Perfeito”, dirigido por Fernando León de Aranoa (o mesmo diretor do ótimo “Segunda-Feira ao Sol”) é aquilo que podemos classificar como um humor tão negro que beira o surreal. Mas também é mais um daqueles filmes que denuncia os horrores da guerra, mesmo se tratando de uma comédia.
Vemos aqui a história de dois caras muito curiosos que fazem parte de um grupo internacional de ajuda humanitária atuando na Guerra dos Bálcãs em pleno ano de 1995. O portorriquenho Mambrú (interpretado por Benicio del Toro) e o americano B (interpretado por Tim Robbins). Os dois vivem em áreas de conflitos e guerras, não sabendo há algum tempo o que é ter uma vida normal. Junto deles, temos a francesa e novata Sophie (interpretada por Mélanie Thierry) e o intérprete Damir (interpretado por Fedja Stukan). Certo dia, irá parar nas mãos deles uma missão um tanto curiosa: retirar o corpo de um homem de um poço cuja água abastece um vilarejo. Mas são dias de guerra e faltam recursos. A única corda que tinham acaba arrebentando numa tentativa fracassada de retirar o homem morto. E aí começa toda uma saga para se arrumar uma corda nova.  Como se isso não bastasse, os militares das forças de paz da ONU que controlavam a região proibiram o salvamento por detalhes mais burocráticos do que por qualquer coisa. E nossos protagonistas, acrescidos da ajuda de Katia (interpretada por Olga Kurylenko, “bondgirl” de “Quantum Of Solace”), um antigo caso de Mambrú, vão ter que lidar com as mais incríveis situações que só um ambiente de guerra pode proporcionar.
O que chama primeiro a atenção no filme? O elenco. Benicio del Toro e Tim Robbins contracenando juntos já foi um atrativo à parte. O primeiro fazendo um papel mais sério que vivia caindo em situações cômicas. E o segundo, com mais tarimba em comédia (lembrem-se do inesquecível “Nada a Perder”, com Martin Lawrence), fez um papel bem mais engraçado, cujas falas foram muito bem escritas e proporcionaram situações hilárias na película. Dando um rápido “spoiler”, ao procurarem uma corda numa cidade totalmente destruída pela guerra, B fazia piadas bem irônicas usando a devastação da cidade indiretamente como galhofa, num exemplo do forte humor negro do filme. Mas, por mais que a coisa pareça ser de mau gosto, acaba provocando risos sem agredir, embora seja um humor inquietante, do qual você não sai indiferente. Tirar situações engraçadas de algo tão impactante quanto o horror de uma guerra realmente chama muito a atenção e é uma forma curiosa (embora não inédita) de abordar um tema tão espinhoso. Mas a coisa não para por aí. O filme também tem tons altamente sérios que denunciam toda a destruição que a guerra provoca, principalmente quando nossos protagonistas vão à casa destruída do pequeno Nicolas, um habitante local que a guerra separou dos pais e teve que viver com o avô, ou a situação surreal de um grupo de meninos que rouba a bola de Nicolas e um dos meninos aponta uma pistola para Mambrú quando ele tentava recuperar o brinquedo de Nicolas. Outro destaque interessante foi a trilha sonora bem “hard rock”, com direito a Ramones e até a Marilyn Manson, o que aumentou a carga simbólica de surrealismo e dramaticidade da película.

Assim, “Um Dia Perfeito” é uma comédia pesada que fala de um tema pesado – a guerra – lançando mão de uma dupla de atores consagrados que funcionou muito bem, um humor negro muito carregado nas tintas que chega a tornar o filme surreal, uma denúncia contundente dos horrores da guerra e, para cimentar tudo isso, uma forte trilha sonora que conseguia ser simultaneamente soturna e engraçada. Vale a pena dar uma conferida nessa película. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

B e Mambrú. Muito tempo na zona de guerra

Um poço e um corpo

Procurando uma corda

Acharam a corda! Mas...

Sophie não se acostumou ainda com a guerra e os mortos

O menino Nicolas será responsável pela parte mais dramática da película...

um certo ar de "road movie"


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