sábado, 12 de março de 2016

Resenha de Filme - Uma Mulher do Outro Mundo

Uma Mulher Do Outro Mundo. Brincando de Jorge Amado.
A mostra de David Lean no CCBB nos revelou uma pequena joia escondida. Trata-se da deliciosa comédia “Uma Mulher do Outro Mundo”, de 1945. O filme, de saída, já tem a virtude de ser uma das parcerias entre David Lean (que assina a direção e é um dos roteiristas) e Noel Coward (que produziu a película e escreveu a peça para o teatro). A filme ainda conta com a participação da excelente atriz Margaret Rutherford (que interpretou Miss Marple nos filmes baseados em histórias de Agatha Christie) e de Rex Harrison, que simplesmente dispensa apresentações e cujo grande talento é reconhecido por todos.
A trama da película mostra um casal, Charles e Ruth Condomine (interpretados, respectivamente, por Rex Harrison e Constance Cummings). Charles também foi casado com Elvira (interpretada pela belíssima Kay Rammond), que morreu muito jovem. Charles é escritor e quer escrever seu novo livro baseado em histórias sobrenaturais. Para isso, ele convida a sua casa Madame Arcati (interpretada por Margaret Rutherford), uma espécie de médium, mística e meio picareta, para fazer um ritual que atraia espíritos para a casa. Após uma tentativa onde mesas chacoalhavam, aparentemente fracassada, Madame Arcati vai embora e, depois que deixa a casa, vira motivo de deboche para o casal Condomine e seus convidados. Mas o fantasma de Elvira aparece e fica visível apenas para Charles, que vai se comportar de forma estranha para o desespero de Ruth.
É um filme muito engraçado e um tanto peculiar para a cultura britânica e anglo-saxã, pois tem muitas piadas e situações engraçadas que se referem a sexo. Impossível não se lembrar de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado. Elvira era muito irreverente, lembrando levemente um Vadinho da vida. Aliás, a interpretação de Kay Rammond estava espetacular e ela também fazia a Elvira no teatro. O figurino também esteve impecável. Elvira vestia um vestido meio verde, e o corpo de Kay foi pintado da mesma cor do vestido, com um batom vermelhíssimo destoando do conjunto e, por isso mesmo, chamando muito a atenção, sendo um interessantíssimo elemento de sensualidade. E Kay Rammond fazia caras, bocas e trejeitos adoráveis, que só a tornavam mais sensual ainda. Isso porque eu ainda nem disse que ela era a cara da Cindy Lauper. Quando ela apareceu na película, vinda de detrás da cortina, sua imagem foi extremamente impactante.
E Rex Harrison? Excelente ator!!! Atorzaço!!! Extremamente sarcástico e irônico, conseguia conduzir com muita elegância as graves discussões conjugais que tinha com Ruth e Elvira. O homem também fazia seu personagem ser muito engraçado, sem perder a pose. Já Margareth Ruherford foi a verdadeira personagem cômica, atuando de forma muito escrachada, totalmente fora de escala para qualquer padrão de comportamento inglês, sendo uma grande atração à parte para a película.
Outro detalhe interessante desse filme. Como se trata de uma história de fantasmas, não podia deixar de ter imagens de pessoas atravessando fantasmas. Embora fosse uma trucagem simples de sobreposição de negativos, décadas antes dos famosos CGIs que nos entopem até os ouvidos hoje, o filme ganhou um Oscar de “efeitos especiais” na época. Embora não existisse premiação para essa categoria em 1947, o filme recebeu uma premiação especial em virtude de seus bons efeitos visuais.

Assim, “Uma Mulher do Outro Mundo” pode ser considerado um dos melhores filmes da mostra de David Lean no CCBB porque conta com um ótimo elenco e tem uma história muito divertida e inusitada, totalmente fora dos padrões culturais dos anglo-saxões. Sem falar que a história da película lembra muito “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado. Essa vale muito a pena ser vista, e é uma excelente presa a ser caçada pelo cinéfilo mais inveterado.

Cartaz do Filme

Ruth e Charles. Buscando o sobrenatural

Madade Arcati invocando almas de outro mundo 

E eis que surge Elvira!!!

Visível apenas para o marido

Recordando Jorge Amado

Fazendo peripécias com os vivos

Uma disputa do além...

Matando saudades

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