domingo, 6 de março de 2016

Resenha de Filme - Body

Body. Psicografando Na Polônia.
Um filme polonês que ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim. “Body” traz a nós um tema muito caro a vida religiosa brasileira, altamente variada: a questão da mediunidade e do kardecismo. Nosso país inclusive é citado na película como tendo muitos médiuns e que possui hospitais onde são feitas cirurgias espirituais, um tema que parece ser muito distante da realidade polonesa.
Vemos aqui a história de Janusz, um investigador de polícia especializado em trágicos homicídios (interpretado por Janusz Gajos), que leva uma vida muito conturbada com sua filha Olga (interpretada por Justyna Suwala). O passado dos dois é marcado pela morte da mãe e esposa e Olga culpa o pai por essa morte. Como resultado, a moça tem sérios distúrbios psíquicos e sofre de bulimia, tendo que ser tratada em um hospital. Sua terapeuta, Anna (interpretada por, vamos lá, Maja Ostaszewska, eita!) é, digamos, uma espécie de bicho grilo que se veste com roupas muito coloridas e tem uma característica muito peculiar: é uma médium e psicografa cartas de espíritos do além bem ao estilo de Chico Xavier aqui no Brasil. Ao perceber a psique extremamente atormentada de Anna e todo o seu ódio ao pai nas sessões de terapia, Anna busca procurar Janusz para tentar uma terapia conjunta. É aí que Anna sente uma presença a mais rondando Janusz, ou seja, sua finada esposa. Mas a frieza e ceticismo de Janusz vai ser um enorme fator complicador para se estabelecer uma ponte entre ele e sua esposa, o que, para Anna, era determinante para aliviar as dores de Olga.
O filme tem situações muito angustiantes, sobretudo nas cenas de terapia que Anna faz com suas pacientes. As moças, cadavéricas, pareciam personagens vindos de um campo de concentração, impressão essa reforçada ainda mais por se tratar de um filme polonês onde os nazistas da Alemanha instalaram campos de concentração (as lembranças de Auschwitz aparecem de forma muito clara aqui, mesmo parecendo que isso nada tenha a ver com o filme; só que as cenas das meninas esquálidas são muito fortes). Olga era a própria imagem da derrota, da frustração e da mágoa. Janusz, por sua vez, incomodava por sua frieza, mas também era digno de uma certa pena, por não saber o que fazer com seus problemas. Seu ofício de cenas muito fortes e traumáticas parece que o levou a se blindar de qualquer emoção forte, tornando-o totalmente incompetente quando ele precisava lidar com questões mais delicadas que envolvessem carinho e afeto, o que era altamente destrutivo na relação com Olga. Já Anna, a médium bicho grilo, se especializou em lidar e curar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos, mas ela também tem suas fraquezas psicológicas, pois a tragédia igualmente rondou sua vida. Legal mesmo era o animal de estimação dela, um tremendo dum cachorrão que se comportava como uma verdadeira criança e supria suas carências afetivas.

Por se tratar de uma cultura muito distinta da nossa, a interpretação dos atores causa uma certa estranheza. Parece um monte de robôs desfilando na tela. Mas, ainda assim, Anna era muito cativante, principalmente depois que ela cita nosso país como exemplo de local onde o espiritismo tem muita força, criticando uma suposta insensibilidade do povo polonês. Agora, o que foi mais admirável no filme foi seu desfecho. Mas falar sobre isso aqui seria um baita de um spoiler. Só vou dar uma pequena dica: foi uma coisa bem ao estilo “mirou no que viu, acertou no que não viu”. Além disso, só posso dizer que a coisa ficou muito legal e o desfecho vale a pena o ingresso para um filme que já caminhava para o enfadonho em virtude da forte barreira cultural. Assim, “Body” é um bom filme que merece ser visto e foi digno da premiação que recebeu, pois ele se amparou na boa interpretação dos atores, sendo uma das razões dessa boa interpretação o trabalho da direção. Procure o DVD que você não vai se arrepender. E não se esqueça de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

Janusz, um policial insensível

Olga, afundada em traumas

Anna, dublê de terapeuta e médium

Em Berlim...



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