terça-feira, 8 de março de 2016

Impressões Sobre o Oscar 2016

Impressões Sobre O Oscar 2016.
E finalmente aconteceu a tão esperada festa do Oscar, no último dia 28 de fevereiro. O “Oscar da Diversidade” se desenrolou em meio a graves turbulências provocadas pelo fato de que, pelo segundo ano consecutivo, nenhum artista negro foi indicado ao prêmio. No ano passado, a festa se limitou a tocar na questão com o discurso da presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Cheryl Boone Isaacs que, diga-se de passagem, é negra. Esse ano, além do discurso da presidente, que usou a retórica do “deve-se sempre encarar os desafios” para justificar a ausência de negros, houve também todo um trabalho em cima da questão, onde decidiu-se fazer muitas piadas sobre o problema, sendo algumas até de mau gosto, como a “homenagem” para o ator branco Jack Black, ou seja, rir da situação, mesmo que fazendo uma espécie de “mea culpa”. Para mestre de cerimônias, por exemplo, foi escalado Chris Rock, famoso por fazer piadas bem ácidas sobre questões raciais. E Chris Rock não aliviou. O homem usou uma roupa que mais lembrava a de um garçom de restaurante que de mestre de cerimônias. Ele entrevistou negros na rua perguntando o que eles achavam da ausência de indicações de negros na premiação. Muitos diziam, em tom de brincadeira, que não sabiam dos indicados brancos. E, ainda, Rock “deu” um Oscar para os entrevistados e pediu para eles fazerem um agradecimento. Uma senhora quase levou o Oscar para casa e, quando Rock disse que não era para levar a estatueta, ela disse: “Ué, pensei que podia levar”. Rock ainda colocou “filhas” para vender biscoito entre os brancos como no episódio de “Todo Mundo Odeia o Chris”, onde seu personagem na infância precisava vender biscoitos dados pela escola para arrecadar dinheiro para sua turma fazer uma viagem a Washington.
Sei não, mas essa coisa de fazer piada com um tema polêmico pode acabar sendo uma faca de dois gumes. E eu particularmente acho que não ficou de bom tom. Ano passado, “Selma” já merecia mais indicações. E, este ano, o ótimo trabalho feito em “Creed” por Ryan Coogler e Michael Jordan também merecia mais indicações que apenas para o branco Stallone. Se a argumentação de não indicações a negros ficou fundamentada na retórica do desafio, tanto “Selma” quanto “Creed” mostram que o desafio está sendo aceito e rendendo frutos dignos de premiação. Assim, brincar com essa situação me pareceu mais uma bola fora do que qualquer coisa. Enfim...
Mas, e a festa em si? Bom, o primeiro destaque foi os seis prêmios dados a “Mad Max”, todos técnicos (figurino, design de produção, maquiagem e cabelo, edição, edição de som e mixagem de som). Confesso que achei um pouco exagerada essa premiação toda. No figurino, por exemplo, “A Garota Dinamarquesa” e “Carol” poderiam ter levado. Na edição, “A Grande Aposta” era o meu favorito, pois sua montagem tinha lampejos frenéticos que prenunciavam a crise econômica iminente. Numa das categorias técnicas onde “Mad Max” poderia ganhar – os efeitos visuais – a estatueta foi para “Ex-Machina”, uma surpresa. Confesso que gostaria de ter visto esse prêmio ir para “Guerra nas Estrelas”. Seria uma justa homenagem a uma franquia que revolucionou os efeitos visuais no cinema e, no “Despertar da Força” inovou nesse quesito mais uma vez, com notáveis cenas de combate terra-ar. Ainda falando de “Guerra nas Estrelas”, tivemos a simpática presença de C3PO, R2-D2 e BB-8 na premiação, fazendo umas piadas com John Willliams, que estava na plateia.
No caso da atriz coadjuvante, o prêmio para Alicia Wikander foi bem merecido. Corre um boato de que ela foi indicada nessa categoria, pois não teria muita chance para melhor atriz, já que o papel de Wikander em “Garota Dinamarquesa” era mais de protagonista que de coadjuvante. Mas, assim mesmo foi um Oscar merecido, onde havia boas concorrentes como Kate Winslet, Rooney Mara, Jennifer Jason Leigh e Rachel McAdams.
Na fotografia, foi dado um esperado prêmio para “O Regresso”, que estava espetacular mesmo, embora houvesse excelentes concorrentes como “Os Oito Odiados” e “Sicario”, esse um excelente filme que passou ano passado e que não foi muito falado por aqui.
Para roteiro original, “Spotlight” ganhou a estatueta, vencendo concorrentes de peso como “Ponte dos Espiões” e a excelente animação “Divertida Mente”. É muito importante que uma película como essa ganhe, pois é um filme que denuncia de forma bem contundente os casos de pedofilia na Igreja Católica.
Para roteiro adaptado, o prêmio foi para outro importante filme, “A Grande Aposta”, que denunciou a escalada da crise econômica recente que destruiu a vida de muitas pessoas no mundo inteiro. Mais um filme que merecia ser visto com maior carinho pela Academia, além de “Spotlight”.
Para o longa de animação, o prêmio foi para o grande favorito, “Divertida Mente”. Nosso “O Menino e o Mundo” não pôde ganhar com tamanho concorrente, mas só a sua indicação já foi uma grande vitória. Na categoria curta de animação, o Oscar foi para o chileno “Bear Story”, uma metáfora da ditadura chilena e o primeiro Oscar do Chile.
Para ator coadjuvante, o Oscar foi merecidamente para Mark Rylance em “Ponte dos Espiões”. Essa estatueta foi disputada por candidatos muito fortes como Christian Bale, Sylvester Stallone, Tom Hardy e Mark Ruffalo. Se Hardy e Ruffalo tivessem levado, também teria sido justo. Com tantos concorrentes de peso, Stallone não teve a menor chance, embora ele tenha sido cotado como favorito. Rylance acabou sendo considerado uma surpresa, mas sua atuação estava excelente.
O melhor longa documentário foi para “Amy”, sobre a polêmica cantora Amy Winehouse, dirigido por Asif Kapadia, o mesmo diretor do documentário “Senna”.
Na parte “In Memoriam”, apresentada por Loius Gosset Jr, recordamos as personalidades do meio cinematográfico falecidas este ano, com destaque para nomes como Ettore Scola, Wes Craven, Lisabeth Scott, Christopher Lee, Robert Loggia, Maureen O’Hara, Omar Shariff, Dean Jones (que dirigia o “Herbie” em seus primeiros filmes), Alan Rickman, James Horner, David Bowie e Leonard Nimoy. Dave Grohl, vocalista do Foo Fighters, fez o fundo musical só com seu violão e sua voz.
Para o Oscar de filme estrangeiro, ganhou o favoritíssimo “O Filho de Saul”, que abordou novamente os campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial, um tipo de filme que muito agrada à Academia, já que ela contém uma boa quantidade de pessoas de origem judaica. Mas havia concorrentes excelentes como o colombiano “O Abraço da Serpente”, o francês “As Cinco Graças” e o filme dos Emirados Árabes Unidos “O Lobo do Deserto”.
Para a trilha sonora, o Oscar foi de forma bem merecida para Enio Morricone, por “Os Oito Odiados”. Foi o primeiro Oscar do músico que, aos 87 anos, foi efusivamente abraçado por Quincy Jones, que apresentou o prêmio. Morricone agradeceu em italiano, com direito a um intérprete. Dá para perceber que o nível do homem é outro, não? Quem pode, pode...
E não é que até James Bond ganhou um Oscar? Foi de melhor canção, “Writing From The Wall”, composta por Jimmy Snapes e Sam Smith.
Para o prêmio de diretor, Alerrandro Iñárritu conquistou o “bicampeonato” por “O Regresso”. Ele já tinha ganhado ano passado por “Birdman”. Em seu discurso, Iñárritu novamente se lembrou da questão racial, dizendo que haverá um dia em que a cor da pele será tão irrelevante quanto o comprimento de seu cabelo. Ele se iguala a John Ford e Joseph Mankiewicz, que também ganharam dois Oscars consecutivos como diretores.
Para melhor atriz, Eddie Redmayne apresentou a premiação, que foi para Brie Larson, por “O Quarto de Jack”. Era a favorita, embora não devamos nos esquecer que havia mais duas carinhas novas competindo, Saoirse Ronan (“Brooklyn”) e Jennifer Lawrence, com as “divas” Cate Blanchett e Charlotte Rampling correndo por fora. Mas como é um prêmio de indústria, ganhou a jovem mais promissora que, cá para nós, também foi muito bem.
Para melhor ator, Juliane Moore deu a estatueta mais esperada da noite para Leonardo DiCaprio. Finalmente o ator ganhou um Oscar depois de preterido injustamente, batendo ótimos concorrentes como Eddie Redmayne (meu favorito), Bryan Cranston e Michael Fassbender. Em seu discurso, DiCaprio se lembrou da boa parceria com Tom Hardy, agradecendo-o, e falou do aquecimento global, mencionando o fato de que as filmagens de “O Regresso” precisaram ser feitas no sul da Argentina para se conseguir encontrar neve. Foi um belo discurso que viralizou na internet.
O prêmio de melhor filme foi para o já citado “Spotlight” e, nos agradecimentos, foi lançado um apelo ao Papa Francisco para combater os casos de abuso sexual na Igreja, que tanto provocaram polêmica na película.
Pois é, essa foi a cerimônia de premiação desse ano, o Oscar da “Diversidade”, cercado por uma monstruosa questão racial que deixou novas marcas. Esperemos que no ano que vem, a coisa não descambe para esse lado e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tenha mais equilíbrio nas indicações. E não deixe de ver o vídeo completo a festa depois das fotos.

Chris Rock mais parecia um garçom. Provocação?

Atores e atores coadjuvantes. Premiação merecida

"O Regresso" levou três estatuetas

Bela homenagem a Enio Morricone

"Spotlight" levou o Oscar de melhor filme

No final, todo mundo comeu biscoitinhos






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