quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Resenha de Filme - Trumbo

Trumbo. Um Roteirista Contra a Lista Negra.
Mais um filmaço que concorre ao Oscar esse ano. “Trumbo” luta pela estatueta de melhor ator para Bryan Cranston. E é um filme sobre cinema. E cinema das antigas, o que é melhor ainda, mesmo que fale de tempos nefastos como a caça aos comunistas no pós-segunda guerra e a época do macarthismo. Um filme que busca reparar uma injustiça histórica. Um filme que nos faz pensar.
Vemos aqui a história de Dalton Trumbo (interpretado por Bryan Cranston), um roteirista de cinema que, digamos, tinha um pequeno defeito: era comunista declarado, filiado ao Partido Comunista Americano. A explicação para que haja um Partido Comunista nos Estados Unidos está na época da Grande Depressão e na Segunda Guerra Mundial, quando a União Soviética ficou junto dos aliados. Mas o contexto da  Guerra Fria inverteu completamente as coisas e os comunistas passaram a ser vistos como uma ameaça à Segurança Nacional, sendo violentamente rechaçados por vários setores da sociedade. E isso aconteceu também com Trumbo e vários de seus colegas que se posicionavam ideologicamente da mesma forma que ele. A coisa começou a ficar realmente complicada com o surgimento dos interrogatórios organizados para identificar supostas atividades comunistas em solo americano. Isso rendeu a Trumbo uma temporada na cadeia e sua inserção numa lista negra que acabou fazendo com que ele não mais conseguisse emprego. Ao sair da prisão, Trumbo vai ter que passar por muitas situações inusitadas para poder sobreviver.
Sabemos que todo filme que é baseado numa história real nem sempre conta toda a verdade. Mas foi muito legal ver e sentir a reconstituição histórica da película. Nas cenas dos interrogatórios, por exemplo, houve uma montagem muito bem feita, onde filmagens em preto e branco feitas para o filme eram intercaladas com imagens de arquivo dos interrogatórios, o que deu um bom tom de autenticidade à coisa. Pudemos ver imagens reais de personalidades como Ronald Reagan (ainda como ator) e Robert Taylor depondo neste interrogatório. Essas sequências do filme foram extremamente importantes para nos dar uma ideia da insanidade que foi tamanho patrulhamento ideológico na época.
O filme também não se furtou a dar nome aos bois. As personalidades declaradamente anticomunistas eram assinaladas sem dó nem piedade, casos de John Wayne (interpretado por David James Elliott) e da colunista Hedda Hopper (interpretada por Hellen Mirren), que usava toda a sua autoridade de “Quarto Poder” da imprensa para destruir as vidas de quem quisesse. Por sua vez, os artistas que ficaram ao lado de Trumbo foram Kirk Douglas (interpretado por Dean O’Gorman) e Otto Preminger (interpretado por Christian Berkel). As atuações de Dean O’Gorman e Christian Berkel, assim como a de David James Elliott ficaram um tanto que caricatas. Mas Hellen Mirren foi muito bem no papel da odiosa Hedda Hopper. Quanto a Bryan Cranston, a indicação a melhor ator já diz tudo. Ele foi simplesmente brilhante no papel de Trumbo. Um destaque especial deve ser dado a atuação de Michael Stuhlbarg no papel de Edward G. Robinson, feita de forma espontânea e contida, lembrando muito o antigo astro dos filmes de gângster. Só lamento que esse filme não tenha sido indicado para mais prêmios. Não seria nada demais se ele recebesse uma indicação para edição (ou montagem, como queiram) e ator ou atriz coadjuvante.
Dalton Trumbo realmente foi um grande roteirista, escrevendo para grandes filmes (não os citarei aqui para não dar tantos “spoilers”) e sempre foi muito injustiçado em virtude da lista negra. É muito legal que essa história venha à tona atualmente, pois ajuda a corrigir uma grande falha do passado. E o mais interessante, é um filme que fala de cinema, sendo um deleite e tanto para os cinéfilos, que conhecem aquelas pessoas que estão sendo interpretadas na telona. Além disso, a película nos dá uma noção de como funcionava a indústria, principalmente em suas relações com a política. E critica, de uma certa forma, até a própria premiação ao Oscar.

Assim, “Trumbo” é mais uma boa pedida para quem quer acompanhar os filmes que concorrem ao Oscar este ano. É mais uma boa película reflexiva que, a meu ver, poderia ganhar mais algumas indicações, pelo menos para edição. Não deixe de ver esse filme que fala dos filmes e de sua indústria. E não deixe de ver o trailer abaixo, depois das fotos.

Cartaz do Filme

Dalton Trumbo, um roteirista perseguido pela direita americana.

Hedda Hopper, uma odiosa colunista

Postura firme nos interrogatórios

Sofrendo coerções insuportáveis

Um John Wayne caricato...

Exóticos métodos de trabalho.

Já imaginou o Kirk Douglas chegando a sua casa???

O verdadeiro Trumbo. E não é que ele escrevia na banheira mesmo?




Um comentário:

  1. Pra começar temos Bryan Cranston (Eu certamente sabia que terá uma participação especial em Segura A Onda 09 ). na pele do excêntrico Dalton Trumbo. Posso dizer que ele está formidável neste filme! Além dos perfeitos traços e trejeitos, Cranston transborda uma caracterização impressionante, pois o atoe retrata um Trumbo bem articulado, com opiniões fortes, respeitando sua ideologia sem se deixar influenciar por nada e ninguém. Mesmo passando por dificuldades, ele e sua família nunca deixaram de ter do bom e do melhor e, apesar de apresentar uma personalidade forte e não muito fácil de lidar, o personagem consegue manter a química com os demais e, nenhum momento, o espectador fica contra ele.

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