domingo, 28 de fevereiro de 2016

Resenha de Filme - Tangerine

Tangerine. Bonecas À Beira De Um Ataque De Nervos.
Um filme para lá de frenético em nossas telonas. Sensação no Festival de Sundance, “Tangerine”, dirigido por Sam Baker, fala de uma véspera de natal em Los Angeles no meio gay. E essa tal véspera de natal vai acontecer de forma extremamente tensa, onde podemos presenciar todo o cotidiano da vida da prostituição de travestis. Boa parte do filme foi feita com câmera de celular, o que se constitui uma novidade e encoraja um monte de gente por aí que tem tinos para filmagem de produzir suas películas “eletrônicas”.
Mas, no que consiste o filme? Vemos aqui a prostituta transexual Sin-Dee (interpretada por Kitana KiKi Rodriguez) e sua amiga, Alexandra (interpretada por Mya Taylor), outra prostituta transexual, numa pequena lanchonete conversando. Sin-Dee acabou de sair da cadeia e sabe por sua amiga que seu namorado Chester (interpretado por James Ransone) tem um caso com uma mulher de verdade. Barraqueira como ela só, Sin-Dee sai pela cidade atrás da “bitch” e de Chester, provocando enormes confusões. Paralelamente à história das transexs, vemos a história do taxista armênio Razmik (interpretado por Karren Karagulian), que é bem casado, tem uma boa casa, mas adora pegar uns travecos na rua. É claro que essas duas histórias se cruzarão num momento, mas aí já é dar “spoilers” demais.
O filme tem um tom um tanto escrachado de comédia, sobretudo com os escândalos de Sin-Dee, cujo nome é completado com o sufixo “rella”, responsável pelos principais tons cômicos da coisa. O ritmo da película é também muito rápido em alguns momentos, regado à muita música eletrônica, o que deixa a história um tanto insólita, cheia de situações absurdas que rapidamente vêm e vão. Mas esse também é um filme triste, onde vemos pessoas estressadas e infelizes em plena noite de natal, ainda por cima, sem neve, por se passar em Los Angeles. Mais do que um filme de transexs e travestis, esse é um filme sobre relações humanas, onde as pessoas ferem e se ferem com os outros, e parece não haver muita compaixão com o sentimento alheio, pelo menos em boa parte da história. Todo o estado de agressividade e beligerância entre os personagens só é uma capa externa para esconder a verdadeira natureza de todos, que é a de seres humanos extremamente frágeis e sensíveis. Devo confessar que gosto muito de filmes construídos nessa estrutura, ou seja, filmes que falam de segmentos muito marginalizados pela sociedade de um ponto de vista totalmente humano. Ao expor fragilidades humanas de pessoas marginalizadas, o filme contribui para que haja um elo entre o público (que já se fragilizou alguma vez em sua vida privada) e os personagens, o que cria uma identificação e ajuda a combater o preconceito. E, apesar de todos os barracos e escândalos que apimentam a história no início, a exposição das fragilidades vem na medida certa e da forma mais oportuna possível, identificando gays e homossexuais como figuras humanas como quaisquer outras.

Dessa forma, “Tangerine” é uma película muito peculiar, pois é uma comédia escrachada sobre transexs, mas também é um bom drama que sabe humanizar os personagens e despir os olhos do público de preconceitos. Vale a pena dar uma conferida. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

 
Cartaz do filme.

Duas amigas e uma revelação...

Andando pelas ruas de Los Angeles...

Pegando a "bitch"...

Confrontando o amante.

Filmagens...

Sam Baker e suas "meninas"...

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