sábado, 27 de fevereiro de 2016

Resenha de Filme - O Quarto de Jack

O Quarto De Jack. A Prisão Interior.
Mais um filme que briga pelo Oscar em nossas telonas. “O Quarto de Jack” disputa quatro estatuetas (melhor filme, atriz para Brie Larson, direção para Lenny Abrahamson, e roteiro adaptado, baseado no livro de Emma Donoghue) e é um filme inusitado, pois fala de uma situação absurda, extraída da vida real norte-americana: o sequestro de moças e o cárcere privado delas por muitos anos. Um típico caso de arte que imita a vida, sendo esta última muito mais criativa que a primeira.
Vemos aqui a história de Jack (interpretado por Jacob Tremblay), um garotinho de cinco anos que vive com sua mãe (interpretada por Brie Larson) num pequeno galpão improvisado. Jack vive lá desde que nasceu, pois a mãe foi sequestrada e mantida em cárcere privado por Nick (interpretado por Sean Bridgers). O menino é fruto dos sucessivos estupros que a mãe sofreu de Nick. Para esconder toda essa trágica história do filho, a mãe criou todo um mundo imaginário para a criança. Mas quando o garotinho fez cinco anos, a mãe decidiu contar toda a verdade a Jack, com o objetivo de elaborar um plano para escapar do quartinho. O plano dá certo e o filme passa a falar como vai ser a experiência da mãe e do filho ao lidarem com o mundo exterior, sendo a mãe depois de vários anos de isolamento e Jack, bem, é a primeira vez que ele tem contato com o mundo.
Essa é uma película extremamente sensível e tocante, que consegue tratar com delicadeza um tema muito pesado. O grande problema aqui para os personagens foi superar o trauma depois de tantos anos de isolamento. A mãe não se conformava em ver que a família seguiu sua vida em sua ausência, embora não tivesse sido bem assim. Já Jack teve que lidar com todas as mazelas do mundo exterior e real, depois de uma blindagem por toda a sua curta vida, além de ter o desafio de se relacionar com outras pessoas que não fossem a sua mãe. É como se mãe e filho trouxessem dentro de seus íntimos o quarto em que ficaram tantos anos trancados, revelando uma verdadeira prisão interior que os tornou incompatíveis de se relacionar com o mundo exterior. Para a mãe, tal retorno foi bem mais traumático, pois houve um inevitável sentimento de culpa por ver o filho naquela situação, apesar de ela ser mais uma vítima de todo o contexto. Para Jack, entretanto, apesar da experiência também dolorosa, houve momentos de alegria e de descoberta de um mundo totalmente novo que o cercava e com o qual agora ele interagia. Duas faces de naturezas humanas extremamente fragilizadas por uma situação de violência gritante.
As atuações dos atores estavam primorosas. Jacob Tremblay, o menininho que interpretou Jack, tinha algo de levemente andrógino, por ter longos cabelos, resultado de anos de confinamento, e por ser um garotinho muito sensível, onde suas cenas de choro convenciam e emocionavam. Já Brie Larson, que interpretou a mãe, também convenceu com uma excelente carga dramática, principalmente nos momentos em que tinha dificuldades em lidar novamente com a família depois dos anos de cativeiro. Sua atuação faz jus a indicação de melhor atriz, sendo uma forte candidata no grupo de mocinhas de cara nova. Um mau sinal é que ela já levou o Globo de Ouro de atriz dramática, mas... quem sabe? A película ainda teve uma breve, mas boa participação do excelente ator William Macy, que fez o papel de pai da mãe de Jack.

Dessa forma, “O Quarto de Jack” é um excelente filme que concorre ao Oscar esse ano e talvez seja um dos mais tocantes entre todos que disputam as estatuetas douradas. É um drama doce e delicado, mas que também tem um sabor ácido em virtude de abordar uma situação tão absurda como real que é a questão dos sequestros e cárcere privado de moças nos Estados Unidos. Um filme para refletir e se emocionar. E não deixem de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do filme.

Mamãe e Jack, trancados num mundinho

Seguidamente oprimidos

Revelando a existência de um mundo exterior

Um plano de fuga

Primeiro contato com a realidade

Tendo de lidar com o mundo real

Mas todo recomeço é difícil

William Macy (centro) teve uma rápida, mas boa aparição

União muito forte, construída pelos anos de clausura...

Brie Larson já levou o Globo de Ouro. Será que leva o Oscar???





Um comentário:

  1. Eu realmente gosto da performance de Jacob Tremblay, ele é um dos meus filhos favoritos. Desfrutei de ver a este ator em Refém Do Medo, eu gosto como interpreta o seu personagem, e sobre tudo é diferente a todos os suspense filmes. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Além, acho que a sua participação neste filme assustador realmente ajudou ao desenvolvimento da história.

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