quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Resenha de Filme - O Abraço da Serpente

O Abraço Da Serpente. Ecos Da Floresta.
Mais um filme que concorre ao Oscar de melhor película estrangeira estreou em nossas telonas. “O Abraço da Serpente” é uma co-produção da Colômbia, Venezuela e Argentina, que desperta muita atenção por sua riquíssima diversidade cultural e por sua denúncia da presença branca e europeia na Floresta Amazônica, assim como suas perversas técnicas de exploração. Isso sem falar que a película foi filmada num excelente preto e branco que muito se assemelhava às imagens reais e antigas de expedições europeias pela floresta.
Vemos aqui a história de Karamakate (interpretado em sua juventude por Nilbio Torres e em sua velhice por Antonio Bolívar), um xamã da floresta que era considerado o último sobrevivente de sua etnia e que vivia isolado na floresta. Um belo dia, ele recebe a visita do explorador alemão Theo Von Martius (interpretado por Jan Bijvoet) e seu auxiliar Manduca (interpretado por Yauenkü Migue). Theo está muito doente e a sua única chance de viver é consumindo uma planta medicinal existente na antiga aldeia de Karamakate. O xamã, ressabiado com os brancos como ele só, e não sem motivo, não queria ajudar Theo. Mas Manduca conseguiu convencer o solitário indígena e os três descem o rio de barco em busca da tribo (e planta) perdida. Paralelamente a essa história, vemos Karamakate quarenta anos depois, recebendo a visita de outro explorador alemão, Evan (interpretado por Brionne Davis), procurando a mesma planta, e o velho índio irá refazer a jornada.
Esse é, acima de tudo, um filme de denúncia dos maus tratos dos brancos sobre os índios. Podemos ver vários aspectos da presença nociva dos brancos: o etnocídio que destrói a cultura dos índios nas missões religiosas lideradas por padres tresloucados; a sangrenta exploração escrava dos fazendeiros de seringais da Amazônia; a visão preconceituosa do branco para com o índio, partindo inclusive dos exploradores europeus que querem aprender a cultura das nações indígenas e divulgá-las. O filme também mostra toda uma cosmogonia das culturas indígenas, principalmente nas visões de mundo de Karamakate e seus mitos de criação. Definitivamente, é uma película que é um convite à reflexão e a um estudo etnográfico dos povos da floresta. Como uma instigante curiosidade, e como reflexo de uma enorme diversidade presente no filme, temos diálogos em vários idiomas, indo de diferentes dialetos indígenas, chegando até a idiomas europeus como o espanhol, o português e o alemão. As situações de choque cultural também são notáveis, onde vemos preconceitos de lado a lado, com Karamakate estranhando a necessidade dos brancos de carregar malas e todo o seu ressentimento contra os europeus por causa do etnocídio indígena, além dos já costumeiros preconceitos dos brancos contra os índios, onde suas práticas religiosas são consideradas coisas do demônio para a Igreja, por exemplo. Manduca seria uma espécie de mediador entre as visões de mundo dos brancos e dos índios, entendendo a importância dos brancos conhecerem a cultura dos índios para a sobrevivência dos próprios índios. Já von Martius e Evan, apesar de uma boa vontade com a cultura indígena, muitas vezes exibiam preconceitos implícitos, como no caso em que von Martius não queria que os índios aprendessem a usar uma bússola para não descaracterizar a sua cultura, sendo repreendido veementemente por Karamakate que dizia que o alemão não podia proibir os índios de aprender, pois o conhecimento pertence a todos.
Confesso que, apesar de “O Abraço da Serpente” ser um excelente filme e de ser o candidato sul-americano ao Oscar, há uma forte concorrência com as outras películas e não sei se ele poderá ter grandes chances. Seria muito legal ver um filme com um tema tão caro à nossa história ganhar o Oscar. Mas “Filho de Saul”, “Cinco Graças” e “Lobo do Deserto” também são excelentes.

Assim, “O Abraço da Serpente” é mais um bom filme que concorre ao Oscar que só aumenta ainda mais a generosa oferta de películas deste início de ano, antecedendo a festa do dia 28 de fevereiro. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

Karamakate, o último de sua etnia.

Índios e brancos. Uma relação complicada

A contragosto, o xamã faz uma viagem

Situações de estranhamento podem levar a altas risadas.

Curando um doente

Encontrando situações das mais inusitadas

Fotografia que apreende almas...

Karamakate, já idoso, refaz sua viagem

Filmagens



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