quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - Para O Outro Lado

Para O Outro Lado. Os Fantasminhas Camaradas.
Kiyoshi Kurosawa, que não tem nada a ver com o lendário Akira Kurosawa, lança seu novo filme. “Para o Outro Lado” é uma co-produção francesa e japonesa, que mais uma vez nos dá a oportunidade de tomar contato com a cultura oriental. É um filme que discute questões profundas de reflexões sobre a vida e a morte. Um filme singelo, delicado e sereno.
Vemos aqui a história de Mizuki (interpretada por Eri Fukatsu), uma mulher que vive solitária em seu lar. Ela era viúva e, um belo dia, do nada, seu marido Yusuke (interpretado por Tadanobu Asano) reaparece depois de três anos. O homem disse que estava morto e pertencia a um outro mundo. Ele retornou para levar a mulher a uma viagem. O objetivo dessa jornada será conhecer pessoas que foram importantes para a vida de Yusuke. O detalhe é que, dentre todas essas pessoas que o casal irá visitar, nem sempre sabemos quem está vivo ou morto, e Mizuki irá descobrir justamente isso aos poucos, numa experiência que irá mudar completamente a sua vida.
Esse filme possui uma fronteira muito tênue entre o onírico e o real. Por mais de uma vez, presenciamos situações em que Mizuki conversa com seu marido para, em seguida, ela acordar de seu sonho, mas encontra novamente o marido em sua sala. Num momento, Mizuki está numa casa com Yusuke e um de seus amigos, e, noutro momento, encontramos a moça nessa mesma casa em ruínas. A primeira impressão é a de que estamos vivenciando um enorme devaneio de Mizuki, mas em outro momento, toda essa impressão desaparece e ela aparentemente vive situações bem reais. E assim. a película vai se desenrolando. A própria Mizuki tomará contato com outros “fantasmas” além do marido: o velhinho que entrega jornais, a menininha que toca piano, o pai que não aceitou seu marido. O mais curioso é que, nesses contatos com a morte, Mizuki pôde presenciar várias experiências e memórias de vida, fazendo com que a vida e a morte interagissem mutuamente, tornando-se uma coisa só. É a mesma sensação que você tem quando passeia num cemitério: um lugar que é a representação mais latente da morte no fundo é um agregado de pequenos monumentos que contam histórias de vida. Essa mesma celebração da vida na morte aparece na própria viagem promovida por Yusuke, que acaba assumindo vários atores sociais: numa cidade, ele auxiliava um entregador de jornal; noutra, trabalhava num restaurante; ele poderia também ser dentista numa terceira cidade; e um prolífico professor numa pequena comunidade de interior. Uma quantidade enorme de experiências de vida para um fantasma, não?
Como se não bastasse a oportunidade de fazermos uma reflexão que interage elementos aparentemente tão dicotômicos quanto a vida e a morte, ainda tivemos o que o melhor do cinema japonês tem: sua fotografia imbatível, seu estilo contido e sereno de interpretação, a delicadeza em cada gesto e imagem. É um cinema que sabe nos fazer relaxar para colocar, nas melhores condições possíveis, a nossa cabeça para refletir sobre os ensinamentos que são transmitidos pela tela. Muito me impressionou o personagem Yusuke, que tinha um senso de humor um pouco maior que a média que vemos no cinema japonês de arte. O fantasminha camarada estava sempre sorridente, rindo ao falar com sua esposa, obviamente de forma bem contida, mas ainda assim bem-humorada. Essa foi uma interessante característica desse filme.

Assim, “Para o Outro Lado” é um filme altamente recomendável, pois nos traz novamente a serenidade da cultura japonesa e uma reflexão que interage vida e morte, onírico e real. Um filme em que os mortos sobrevivem nas memórias. E não deixe de ver o trailer depois das fotos.  

Cartaz do filme

Mizuki, uma mulher solitária

Um marido que volta depois de três anos

O casal começará uma viagem inesquecível

Cenários que insinuam o onírico

Fotografia insuperável!!!

O fantasminha camarada, em meio a aparições e sumiços

O diretor Kiyoshi Kurosawa

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