domingo, 10 de janeiro de 2016

Resenha de Filme - A Ilha Do Milharal

A Ilha Do Milharal. Produção Artesanal Num Silêncio Quase Total.
Um filme muito curioso passou em nossas telonas. “A Ilha do Milharal” é uma co-produção de vários países: Geórgia, Alemanha, França, República Tcheca, Cazaquistão e Hungria (ufa!). Toda essa contribuição conjunta dirigida por George Ovashvili surtiu efeito, pois esse filme foi muito premiado e ajudou a voltar as atenções do público para a antiga república soviética da Geórgia e sua guerra civil. E também para uma prática agrícola muito rudimentar e ancestral, que ajuda as pessoas a superarem a fome no inverno.
Vemos aqui a história de um velho (interpretado por Ilyas Salman) e sua neta (interpretada por Mariam Buturishvili). O rio que passa na região sofre uma inundação que traz ao longo do rio solo fértil do Cáucaso, formando pequenas ilhas temporárias. O velho aproveita essa ilha fértil no meio do rio para plantar milho e armazenar os grãos para os tempos mais difíceis do inverno. Mas o cultivo de milho não será algo tão trivial. E o filme acaba mostrando, de forma bem didática, todo o processo desse cultivo onde a primeira preocupação foi justamente construir uma pequena cabana. O velho e sua neta vão fazendo tudo artesanalmente, passo a passo, e nessas horas a gente se pergunta não onde eles estão, mas em que século eles estão. Como se não bastasse a exibição de tal processo tão peculiar, todas essas etapas são feitas num silêncio completo, numa verdadeira ausência de diálogos, onde tudo se explica na materialidade das imagens, ao bom estilo do cinema mudo que, volta e meia, ainda dá o ar de sua graça nas películas. O filme irá ter alguns poucos diálogos, não sendo totalmente mudo. E essas falas são em vários idiomas: russo, georgiano e abkázio. Isso acontece pois, em torno da ilha, acontece somente uma guerra civil, onde soldados dos dois lados (georgianos e abkázios) ficam rondando a ilha com seus barcos. Nesse clima um tanto quanto tenso, o velho e sua neta cultivam o milharal para garantir a própria sobrevivência.
Definitivamente, a grande atração da película é o processo de confecção do milharal. O homem velho pensa de forma bem pragmática e podemos ver todas as etapas e dificuldades envolvidas na produção de milho na ilhota. Se o velho é mais pragmático, a mocinha é mais emotiva e, paralela à criação do milharal, vemos também o processo de amadurecimento da mocinha, que chega com uma bonequinha, menstrua, pendura a boneca na parede da cabana construída pelo velho e, posteriormente, se apaixona por um dos soldados que passa de barco. Como há uma ausência quase total de diálogos, o olhar é muito utilizado como elemento expressivo e narrativo, onde as pessoas se comunicam com a ajuda de grandes closes do rosto, lembrando um pouco o cinema de Walter Hugo Khouri. Nesse ponto, o filme foi um show e, apesar do ritmo um tanto lento, essa expressividade do olhar e a meticulosidade das etapas de construção do milharal valem o ingresso comprado. Quanto ao desfecho da película, ela tem um tanto de óbvio quanto um tanto de inusitado. Mas não falaremos de “spoilers” aqui.

Assim, “A Ilha do Milharal” é uma boa película, pois nos mostra elementos de uma cultura muito diferente da nossa, onde a tradição (a sobrevivência do velho e da neta organizando uma plantação com técnicas muito rudimentares) e a modernidade (a disputa de duas nações por um estado) se mesclam. A quase total ausência de diálogos e a narrativa explicitada na materialidade das imagens e na comunicação pelo olhar são dois outros grandes atrativos do filme. Vale muito a pena dar uma conferida. E não se esqueça de dar uma conferida no trailer depois das fotografias.

Cartaz do filme

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O velho e sua neta

No início, se construiu uma pequena cabana...

Cultivando para o próprio sustento...

Amadurecimento na ilha...

O trabalho surte efeito

Mas dificuldades podem surgir...

Serenidade, em meio a tantas provações...


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