domingo, 4 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Roger Waters, The Wall

Roger Waters – The Wall. Um Documentário, Um Show, Uma História.
Foi exibido nos cinemas em única sessão o documentário de Roger Waters, “Roger Waters – The Wall”, que nos mostra o show do grande músico remanescente da lendária banda Pink Floyd. Os shows de Waters e do Pink Floyd são conhecidos por nos mostrarem verdadeiros espetáculos de luz e som, onde as imagens se mesclam maravilhosamente com a música. E desta vez não foi diferente. Com um grande muro no palco, onde várias projeções em 3D davam a tônica, o show transcorreu em pouco mais de duas horas com as velhas canções num novo contexto visual. Um espetáculo que é deleite para olhos e ouvidos, trabalhando esses dois sentidos simultaneamente.
Mas não devemos nos esquecer de que não estamos num estádio vendo uma banda ao vivo, mas sim vendo um documentário no cinema. E essa película também é um primor. As imagens do show são alternadas com viagens de Waters Europa adentro, onde ele vai ajustar as contas com o seu próprio passado. É que o músico teve uma dupla tragédia em sua família: ele perdeu seu avô e pai nas duas Guerras Mundiais. Waters, seus filhos e netos vão procurar as sepulturas de seus entes queridos nos cemitérios militares. E lá, rendem suas homenagens. O show também será uma homenagem a pessoas vitimadas pela guerra e intolerância em todo o mundo, onde o brasileiro Jean Charles de Menezes recebeu uma lembrança especial e uma canção composta por Waters. Aliás, o show é altamente reflexivo neste ponto, onde as ditaduras sangrentas são ridicularizadas e cenas reais de massacres são exibidas sem dó nem piedade no gigantesco telão em que se transformou o muro. Um dos pontos altos do show foi, obviamente, a música “Comfortably Numb”, talvez a grande obra-prima de David Gilmour e Roger Waters. Ali, o público foi a atração principal. Jovens adolescentes e pós-adolescentes cantavam a plenos pulmões; um rapaz acompanhava o solo de guitarra balançando a cabeça lentamente para lá e para cá, de olhos fechados e em transe; uma moça ia às lágrimas, parecendo não acreditar no que via. Todos muito jovens, idolatrando aquele velhinho que ainda dá muito caldo. É nesse momento que percebemos como um grupo de músicos deixa de ser uma mera banda e atinge o status de patrimônio cultural universal, tomando o seu lugar no Olimpo da atemporalidade.
O documentário termina novamente no cemitério com Waters rendendo suas homenagens aos mortos, tocando um trompete. Em seguida, as imagens de várias pessoas mortas em locais de conflito ao longo da História apareceram, transformando a telona num enorme mosaico de dores e recordações. Jean Charles de Menezes foi a primeira pecinha desse mosaico, que contou também com as presenças de Sérgio Vieira de Mello e Chico Mendes.
Após a exibição do documentário, foi visto um curta onde Waters e o baterista original do Pink Floyd, Nick Mason, responderam a perguntas dos internautas, analisando uma pilha de cartões onde as perguntas estavam, junto com os nomes dos internautas e seus países de origem. Foi um bate-papo muito descontraído e engraçado, principalmente quando os dois velhos músicos reviravam as querelas do passado. Ou insinuavam revirar. Definitivamente, eles chegaram ao estágio de que “agora podemos rir disso tudo”. Mas piadas ácidas e com um certo humor negro não faltaram e as cutucadas levaram a plateia a boas risadas.
Assim, o documentário “Roger Waters – The Wall” valeu cada centavo do caro ingresso e justificou a exibição única de gala. Só espero que a gente tenha acesso ao DVD futuramente. Vale a pena ter e guardar. Só para ratificar isso, recordo das palavras de Waters que disse que a cada show ele convidava uns vinte veteranos de guerra para assistir. Após o show, o músico cumprimentava-os e, numa oportunidade, um deles não soltou a sua mão ao apertá-la.  O idoso o olhou fixamente nos olhos e disse: “Seu pai ficaria orgulhoso de tudo o que você está fazendo aqui”. Waters disse que, nesse momento, ele desabou, ficando profundamente tocado. Show!

Por essa e por outras, se você tiver a oportunidade de ter essa obra-prima em suas mãos, não a desperdice!

Cartaz do filme

O velho roqueiro está de volta

Sempre um show de som e imagens.

Enorme muro era um gigantesco telão 3D

Sensualidade feminina lembrada

Ridicularizando as ditaduras

Horrores da guerra revisitados

Grandes monstros infláveis








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