terça-feira, 6 de outubro de 2015

Resenha de Filme - Quanto Tempo O Tempo Tem?

Quanto Tempo O Tempo Tem? Filosofia De Relógio.
Com o Festival do Rio a pleno vapor, vieram algumas decepções. Menos filmes, o Grupo Estação envolvido com o festival só a meia boca, etc. Entretanto, nesse primeiro dia em que encarei o festival, tive a oportunidade de testemunhar um bom documentário brasileiro que será lançado comercialmente em breve. “Quanto Tempo o Tempo Tem?” é um filme que busca responder às inquietações da diretora Adriana Dutra, segundo as palavras da própria, que esteve no Cine Joia, de Copacabana, para apresentar a sua película ao público. Para Adriana, a sua impressão é a de que o tempo passa cada vez mais rápido. E isso serviu de inspiração para que seu filme fizesse uma reflexão desse conceito que tanto mexe com a cabeça da gente. Para isso, a diretora correu o mundo, ou seja, se deslocou no espaço, para poder falar sobre o tempo. E entrevistou especialistas das mais diversas áreas, o que deu uma visão altamente diversificada e ampla do assunto. Pudemos ver depoimentos do grande sociólogo italiano Domenico de Mais, da monja budista Coen Sensei, do físico Marcelo Gleiser, do cineasta Arnaldo Jabor, do jornalista Arthur Dapieve e muitos outros. Cada um deu sua contribuição à sua maneira para uma reflexão do que é o tempo. A discussão foi tão rica que ela se expandiu para assuntos altamente contemporâneos como a velocidade da informação, como a tecnologia afetará o ser humano nas próximas décadas, como ficará a questão da previdência social com o aumento da expectativa de vida, etc. Um tema que muito chamou a atenção foi a especulação de que, no futuro, o homem poderá ser uma criatura cibernética, onde a nanotecnologia terá um papel fundamental na conectividade do homem com os equipamentos eletrônicos. Os devaneios (ou não) sobre tal tema foram tamanhos que houve até a especulação de se guardar a consciência humana em discos rígidos e, assim, garantir a imortalidade da alma. É claro que tal tema despertou muita polêmica e nem todos concordaram com ele, lembrando que é a finitude da vida que a torna tão especial. Vale lembrar aqui que, Marcelo Gleiser, em seu livro “A Ilha do Conhecimento”, atenta para o fato de que, mesmo que façamos um computador que reproduza fielmente o cérebro humano, isso não significa que possamos produzir consciência. E o físico foi além no documentário, lembrando que à medida que a ciência e tecnologia se desenvolvem, elas podem se deparar com problemas que até então o ser humano nem imaginava que existiam, como já ocorreu no passado. Gleiser ainda lembra que podemos, um dia, encarar um problema que é insolúvel e que reflete a limitação humana para determinadas situações.
Muitas outras discussões interessantes surgiram, como o abandono da visão que temos do tempo usado ao longo da vida, dividido em três épocas (o estudo, o trabalho e a aposentadoria), em virtude do envelhecimento da população ou a visão da escravidão como o roubo do tempo do outro.

Dessa forma, não perca “Quanto Tempo o Tempo Tem” quando esse documentário sair em circuito comercial. E não deixe de assistir as cenas pós-créditos (sim, elas existem aqui e estão em grande estilo!). Você terá a ótima oportunidade de presenciar uma reflexão multidisciplinar sobre o tempo. Só confesso que senti falta da definição de tempo do grande cineasta brasileiro Mário Peixoto: “O relógio da parede não marca mais um, mais um, mais um. Na verdade, ele marca menos um, menos um, menos um. O tempo não existe”. Simultaneamente poético e assustador!!!

A diretora Adriana Dutra.

Walter Carvalho foi o co-diretor

Domenico de Masi

Arnaldo Jabor

Com a monja budista Coen Sensei.

O físico Marcelo Gleiser deu contribuições importantes à discussão





Nenhum comentário:

Postar um comentário